sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mudar mentalidades enquanto é tempo

"Os socialistas não gostam dos empresários, mas a França também não!"

"Em França, entre as personalidades admiradas pelos franceses há cantores, humoristas ou futebolistas (cada vez menos), mas não há empresários. E o recente caso de Bernard Arnault, que pediu a nacionalidade belga, ainda veio agravar mais a situação. É certo que um punhado de patrões salariados destruíram, por egoísmo ou avidez, a imagem da profissão junto da opinião pública, com as suas remunerações indecentes. Mas nos Estados Unidos, onde o êxito empresarial e a popularidade se confundem, Steve Jobs e Bill Gates sempre foram muito acarinhados.
Na Alemanha, os operários sabem que a prosperidade das empresas é o seu melhor aliado. A lucidez da opinião pública acompanha sempre a abertura da economia ao exterior.  Inversamente, quando predomina a função pública, a compreensão daquilo que gera a prosperidade de um país é sempre mais fraca. Segundo um inquérito mundial do Instituto Globescan, a França bate todos os recordes. 70% dos franceses ignoram que são as empresas que criam riqueza! Assim sendo, pode dizer-se que o governo Hollande é "normal": projecta a opinião maioritária, ao não testemunhar uma ternura particular pelos empresários.
A raízes do mal mergulham muito profundamente na História e, apesar da progressão dos conhecimentos económicos, a aversão pelas empresas não diminui com o tempo, antes pelo contrário. Qual é nesta área a responsabilidade do sistema educativo? Um think thank de inspiração liberal, o IREF, vai publicar em breve um estudo sobre a maneira como são apresentados os actores económicos nos manuais escolares.
Os resultados, que apresentamos em exclusividade, não deixam margem para dúvidas. A empresa ocupa em geral apenas uma dezena de páginas em 400. É uma entidade abstracta, que procura maximizar os ganhos de maneira diferente, consoante esteja em situação de monopólio ou de concorrência pura e perfeita. O seu criador é invisível. Não se apresenta nenhuma história pessoal de um empresário. O papel do empresário e da empresa na criação de riqueza é quase sempre ocultado. O mercado e a mundialização são apresentados segundo um ponto de vista crítico, porque tendem a falhar. Inversamente, o Estado é sempre apresentado como o actor económico principal, porque é o "regulador indispensável". A palavra "social" é o vocábulo mais utilizado. Em lado algum se menciona o perigo do "excesso de Estado" ou de viver à custa do Estado.
Nenhum dos manuais consultados insiste nos elogios à economia planificada -como acontecia ainda há seis anos atrás- mas todos acentuam excessivamente a importância dos impostos e da redistribuição. Cita-se Keynes por tudo e por nada, em detrimento dos economistas liberais. Os textos são com frequência pessimistas (a concorrência, por exemplo, é sempre "selvagem") e ideologicamente tendenciosos. A noção de risco nunca aparece, excepto quando se trata do risco de crédito, para mencionar os caloteiros! ... ...
Claro que os alunos fazem doravante estágios descoberta nas empresas. Mas uma experiência como a da associação Empresa e Progresso deveria ser generalizada. Os seus dirigentes acompanham a par e passo alunos do 10º ano que estruturam um projecto, inventam um produto, fazem um plano de negócio, pensam na comercialização, tendo por objectivo experimentar na prática a dificuldade de criar, de contratar, de trabalhar e de ganhar dinheiro produzindo riqueza."

Christine Kerdellant, L'EXPRESS, 19/09/2012, página 61

E em Portugal, como será? Tremo só de pensar no assunto. Tanto mais que Jacques Attali (economista, ex-conselheiro de Mitterrand) é muito claro, na mesma edição do L'EXPRESS, página 28: "É indispensável favorecer a mobilidade social e geográfica, tal como a economia do conhecimento. Deve começar-se logo no primeiro ciclo do ensino básico, mesmo sabendo que os frutos só virão cinquenta anos mais tarde. E depois há uma coisa fundamental que deve ser mudada. Em França, tal como na religião católica, a riqueza é vergonhosa. Pelo contrário, para o protestantismo e o judaismo, é a pobreza que é vergonhosa. No primeiro caso, acusam-se os que criam riqueza e admira-se, com nostalgia, a riqueza acumulada. No outro, como acontece na sociedade norte-americana, considera-se que ter êxito é um sinal da graça divina."
Ora toma!

1 comentário:

Leão_da_Estrela disse...

Meu caro professor,

Não sei se concordo consigo, no que a Portugal diz respeito.
Ao que parece os nossos empresários são uma cambada de ignorantes e esta coisa da crise só não está resolvida porque eles não têm visão estratégica.
Assim sendo, p'ra quê dar importância a gente desta? ou sequer apontar as empresas como importantes actores de desenvolvimento dos países? o ignorante do Belmiro de Azevedo, que mal ou bem, dá emprego a milhares de pessoas e escoa os produtos de milhares de produtores ignorantes, ou o incompetente do Alexandre S. dos Santos, que faz o mesmo e que tem a veleidade de afirmar que ninguém trabalha com entusiasmo ganhando 500 Euros por mês e defende o aumento dos salários, não são exemplo para ninguém!
Um pouco mais sério, investir, neste país, é uma aventura e um risco nunca premiado, começando pelos próximos, que começam por criticar desde logo porque "olha, o gajo também quer ser rico", naquela pequenez de espírito da maioria do verdadeiro tuga e acabando nas dificuldades criadas pela burocracia (honra seja feita a Sócrates que deu um enorme salto qualitativo nesse campo), pelo poderzinho de (peço perdão mas tem que ser) merda a todos os níveis da Administração onde, ou se tem um conhecimento, um amigo dum amigo, ou então nunca mais e a dificuldade de acesso ao crédito, com os bancos a não acreditarem e apostarem em projectos que teriam pernas para andar e morrem alguns ainda no útero...(eu sei que é mais fácil comprar dívida pública com ganhos líquidos de 4, 5 e mais por cento, com risco mínimo); e olhe que eu sei do que falo, não por ser FP (mas também, porque se tem mais a noção do que se passa), mas porque fui e sou também empresário (minimicromínimo, que dá emprego a 10 pessoas) e sei das dificuldades porque passei e passo, nos vários negócios que já iniciei.
Vai-me perguntar, ou algum dos seus leitores, porque sendo um minimicromínimo, ainda assim empresário, não largo o "tacho" na Função Pública. É simples, ao fim de alguns anos fora, vi-me obrigado a regressar para garantir um salário que me ajude a manter uma empresa que "sustenta" 10 pessoas.
Este arrazoado todo para lhe dizer que entendo os empresários, os grandes e principalmente os pequenos, que ao contrário do que pensam os governantes, querem leis que não só protejam as suas empresas, mas que possibilitem aos seus empregados um rendimento que lhe permita vender o que eles próprios produzem. Porque isto é uma pescadinha de rabo na boca e a expiral tanto pode subir, como descer, depende da perspectiva do observador...

Aí aparecem os ricos. Fico agradado por ter exemplificado Gates e Jobs, dois ricos bastante generosos e filantropos, que distribuem, através de fundações (não subsidiadas pelo estado, já agora) milhões de dólares para I&d e para ONG's de apoio a várias causas humanitárias (o segundo já falecido, infelizmente para ele...). Há por aí um tipo americano, maluco já se vê, podre de rico, que acha que devia pagar mais impostos e é seguido por mais alguns doidos, isto anda tudo maluco...
Ou estarão eles certos e perceberam que dificilmente continuarão ricos, se do "outro lado" não houver quem lhes mantenha o estatuto? (e o proveito)
Alguma desta gente já percebeu que o que é importante é acabar com os pobres.
O MEU DESEJO É QUE OS POBRES TAMBÉM PERCEBAM ISTO!