Ponto prévio: Aqui no blogue não temos inimigos. Damo-nos bem com toda a gente. Até com aqueles que se dão mal connosco. No entanto, boas relações pessoais não implicam concordância de ideias. Respeito sim. Seguidismo não.
No caso de Vítor Silva e do seu projecto de funicular, um dos nossos administradores, António Rebelo, ouviu explicações prévias dele, tendo até sido convidado para moderador do futuro debate público, gentileza que posteriormente veio a recusar. Postas assim as coisas no seu lugar, vamos adiante.
Parece começar a ser um ponto aceite que a avassaladora crise ainda por ultrapassar veio acelerar a inevitabilidade de renunciar aos improvisos, aos golpes de sorte, às ideias salvadoras, ao desenrascanço, em suma. Como era de esperar, uma vez mais os tomarenses vão levar tempo a entender a nova realidade. E quando finalmente o conseguirem, o contexto já será outro. O costume. Vamos pois continuar a assistir à realização de investimentos cuja real utilidade final está sempre por demonstrar, o que os transformará, quase certamente, em meras despesas sem qualquer esperança de retorno. Afinal já estamos habituados. Pistas de atletismo sem atletas, campos de ténis sem tenistas, um estádio modesto, mas com bancadas e balneários, transformado em mero campo de treinos sem uma coisa nem outra, parques de estacionamento sem utentes, pavilhões sem todas as normas exigidas, paredões despropositados, jardins tradicionais desfigurados...os exemplos abundam. Apesar disso, a triste odisseia prossegue: ligação pedonal cidade/castelo pela mata, novos parques de estacionamento próximos do Convento e esse futuro elefante branco que será o projectado museu da Levada.
Tudo coisas desgarradas, desligadas, desarticuladas, praticamente sem qualquer utilidade real por isso mesmo. Quando foram projectadas, ninguém cuidou sequer de as relacionar entre sí. Como se um automóvel servisse para alguma coisa sem combustível, sem condutor habilitado e, sobretudo, sem itinerários previamente planeados.
Neste nabantino vale de tristezas, (onde até a recente Feira de Santa Iria registou um prejuízo de 10 mil euros) como ainda para mais somos portugueses, a culpa é sempre dos outros. Dos políticos, dos partidos, do governo, dos autarcas, dos patrões, dos bancos, do clima, e por aí fora. De quem escreve ou fala é que nem pensar. E assim se chegou à brilhante conclusão de que o futuro desta terra está no turismo (cultural, ainda por cima), sendo a actual situação de grave crise provocada essencialmente pelo facto de os turistas que visitam o Convento de Cristo (aqueles malvados !), nunca virem cá abaixo distribuir dinheiro ao pessoal, sob a forma de pagamento de comidas bebidas e compras. Sem que alguém alguma vez tenha procurado averiguar com rigor quais as causas que afastam os turistas da cidade, e mesmo do Convento. Parece anedótico, mas é a realidade.
É neste contexto que o engenheiro Vítor Silva teve o mérito de projectar o que lhe parece ser uma solução para os turistas descerem à cidade -Um funicular entre um parque de estacionamento a implementar na Quinta da Anunciada e um outro parque de estacionamento de autocarros, que vai ser feito encostado à fachada norte do Convento. Ambos gratuitos. Infelizmente para ele, trata-se de um projecto quanto a nós nado-morto, porque sem qualquer viabilidade económica. Para além dos milhões iniciais, necessários para a compra de terrenos, indemnizações a moradores, construção da infra-estrutura e compra do material circulante, simples contas de merceeiro apontam para um mínimo indispensável de seis trabalhadores permanentes + energia + bilhetes +máquinas de controle, ou sejam pelo menos cinco mil euros mensais, quer chova, quer faça sol, quer aquilo ande, quer não ande. Um pouco mais de 60 mil euros anuais, só de despesas fixas de funcionamento. Não contando portanto nem com a amortização do investimento, nem com o serviço da dívida, nem com a constituição de reservas para previsíveis despesas de manutenção, reparação e aperfeiçoamento profissional. Dado que em 2009 o Convento conseguiu 96 mil visitantes pagantes, mesmo que todos resolvessem descer à cidade, pagando um euro a ida e volta, conseguir-se-ia o fabuloso saldo positivo de 36 mil euros. Caso viessem todos cá abaixo. Infelizmente, tudo aponta no sentido de que nem metade cá poria os pés, tão fraca é a reputação da cidade. Pelo que...já cantava o Variações há mais de 20 anos, "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que as paga..." Os tomarenses que se deixem de lamúrias e comecem quanto antes a encarar o mundo como ele é. Afinal ainda não estão fartos de dar caroladas na parede e depois virem queixar-se que têm galos ? Os antepassados nunca lhes ensinaram que "quem boa cama fizer nela se deitará" ? E o inverso, claro !
2 comentários:
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esse futuro elefante branco que será o projectado museu da Levada
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Quando vier a próxima cheia do Nabão (sim, porque de quando em vez o Nabão dá um ar da sua força fluvial) vai ser ver transportar os tarecos todos rumo ao Convento de Cristo...
"Dado que em 2009 o Convento conseguiu 96 mil visitantes pagantes, mesmo que todos resolvessem descer à cidade, pagando um euro a ida e volta, conseguir-se-ia o fabuloso saldo positivo de 36 mil euros."
Ena, ena, nem dava para pagar a eletricidade quanto mais aos funcionários...
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