Numa daquelas publicações promocionais, misto de realidade e de ficção, em que as agências de comunicação são pródigas, a troco de muitos patacos, pode ler-se em título "Tomar no horizonte do progresso". Seja o que for que tal frase signifique, convirá mudar quanto antes o substantivo final. Em vez de progresso, fracasso, desgraça, descrença, ruína, decadência, por exemplo, parecem-nos muito mais adequados à triste e cruel realidade. Exagero ? Má-língua ? Olhemos então com pachorra para a nossa terra, outrora um exemplo para todas as outras da região.
Vias de comunicação: acham que estão bem pavimentadas, bem limpas, com o escoamento a funcionar ? Espaços verdes: acham que estão bem cuidados, que as árvores estão devidamente podadas ? Serviços públicos: acham que são eficientes, atenciosos e respeitadores das liberdades fundamentais dos cidadãos seus utentes e financiadores ? Eleitos: acham que estão a cumprir cabalmente a sua missão, implementando aquilo que prometeram durante a campanha eleitoral ? Planos: acham que a autarquia sabe o que quer e como lá chegar ?
A todos estes quesitos as respostas são obviamente negativas. Daí a constante acusação, a qualquer cidadão menos acomodado, de que é um lunático, um inadaptado, uma língua desgraçada, etc. Antes assim fosse. Infelizmente a quotidiana miséria cívica que nos assola vem demonstrando o contrário. Na verdade, os nossos autarcas, cuja boa vontade é evidente, não estão à altura das funções e da época que atrevassamos, sendo certo que a maioria nem de tal situação se dá conta. Continuam a aguardar que a conjuntura melhore, sem intuirem que para barcos à vela de pouco ou nada adianta o vento quando os mastros estão destroçados. É exactamente o caso de Tomar.
Num mundo cada vez mais complexo, globalizado e em acelerada e contínua mudança, sem ideias fecundas, sem planos, sem projectos e sem rumo não se consegue saír do atoleiro da decadência acelerada e quase irreversível. Nem mesmo nas proximidades de Fátima, que dizem terra de milagres. Ora a terra gualdina, nunca teve algo de minimamente aceitável e realista em termos de planeamento a médio e longo prazo. O seu PDM foi feito à marreta e com uma comissão de acompanhamento mais digna de um funeral que de uma inauguração. Velho de mais de uma década, continuam à bulha com ele, tentando reformar o inreformável, pelo que continua, desgraçadamente, em vigor.
O próprio orçamento municipal, que deveria resultar de um plano previa e adequadamente estruturado, não há meio de ver a luz do dia. Ainda no início do mês passado, o senhor vereador Carrão, ao que consta um eficaz contabilista, prometeu que haveria orçamento até ao fim de Janeiro. Passou o prazo e nada. O que se compreende. Sobretudo com os mandatos de António Paiva, deslumbrado ante os apetitosos fundos europeus, o documento fundamental da autarquia passou a ser não um orçamento e plano mas um simples ornamento (para usar a feliz expressão de Carlos Cunha, dilecto amigo de Miguel Relvas), cuja principal função é a de inventar receitas para melhor explorar os contribuintes e camuflar despesas. Daqui, pensamos nós, o parto extremamente difícil a estamos a assistir, e que ninguém sabe quando e como acabará. Como já dizia o presidente americano Lincoln, há dois séculos, "é facil enganar toda a gente durante algum tempo, ou algumas pessoas durante toda a vida; mas é impossível enganar toda a gente durante toda a vida". É aí que agora estamos. Com a dramática queda das receitas previstas, já de si muito empoladas (fala-se de execuções inferiores a 30% do orçamentado), ninguém sabe na autarquia como e onde acomodar despesas que nada nem ninguém poderá justificar já não como úteis, mas até como aceitáveis.
Apenas um pequeno exemplo do nosso quotidiano. Uma amiga nossa, aposentada, tem casa em Leiria e em Tomar, repartindo a sua vida entre as duas. Na cidade do pinhal, quando não consome água, paga um recibo mensal de cinco euros e alguns cêntimos. Nas mesmas circunstâncias, aqui em Tomar desembolsa 16 euros e alguns cêntimos. "É um autêntico roubo", brada ela. Tem toda a razão, dizemos nós. E contribui para explicar porque é que Leiria progride e Tomar regride. Pois então ! E depois continuem a rosnar que é tudo má-língua, em vez de procurarem vias mais consentâneas com o mundo actual...
5 comentários:
ANEDOTA ARREPIANTE
Uma bela noite de inverno, fria, escura e cheia de relâmpagos e trovões, um vampiro entra num bar de vampiros. Ambiente pesado, música gótica, e toda a gente a beber sangue puro por copos de cristal.
O nosso vampiro chega-se ao balcão e pede uma chávena de água quente.
Faz-se um silêncio profundo. Pára a música e todos os olhares convergem na direcção do nosso personagem.
Calmamente o vampiro tira um penso higiénico usado do bolso, mergulha-o na água quente, vira-se encarando os presentes e pergunta:
- Que é que foi? Já não se pode beber um chàzinho, é?
Sr. Dr. António Rebelo
Consta que o Plano e Orçamento foi entregue ontem aos Vereadores da oposição.
Parece que o Relatório é uma cópia do anterior e que as opções são as mesmas.
Se for assim é mais do mesmo, ou mesmo do mesmo e ... está justificada a partilha de lugares entre os ditos sociais democratas e os ditos socialistas.
Tudo em nome duma sã convivênvia num jogo tipo lerpa, dois para mim, um para ti e a malta que vá pagando e não bufando, porque votou nesta trempe!!!!!
Modernices com chantilly. oh, lá - lá!!!!!!!
E viva o tacho, arreganha o macho!!!!!!!
Bom e justo comentário, como sempre.
Mas quem o lê, amigo. Quem escuta os protestos e queixas dos tomrenses?
Quanto à diferença de Leiria e Tomar, é tudo uma questão de distância. Tomar é mais longe de Fátima. Os milagres acontecem todos em Leiria.
Maria
É muito possível que este artigo tenha toda a justificação. Não me atrevo a duvidar. Na "Casa Grande" da Politeia portuguesa reina o caos, a chafurdice nauseabunda que nos incute descrença, desesperança - apetece baixar braços, olhar para o lado, fingir que não somos de cá, que não temos nada a ver....
Mas temos!
E se assumíssemos todos que temos uma parte de responsabilidade neste estado de coisas? Parece que é mesmo verdade (ninguém desmentiu ainda), que seis milhões e tal de portugueses vivem do OE!!!
Isto quer dizer que é urgente que na sociedade civil floresçam iniciativas de intervenção e formação de cidadãos livres que àmanhã mergulhem na vida política local: grupos de debate, de Teatro, cineclubes, exposições, de leitura, de música, etc..
Faço uma sugestão:
Um cineclube dedicado ao filme documentário de temas sociais portugueses (há muitos, recentes e bons) onde as pessoas se encontrem e conversem no final umas com as outras. Para fazerem as pazes e deixarem de andar de costas voltadas, alimentando odiozinhos mútuos. Pensa-se de mais num tachito...
Um grupo que se dedique a debater certos livros (bons) portugueses. Sugiro o primeiro: "Portugal" de Miguel Torga, convidando as pessoas para ler e debater. Serão poucas de início. Depois serão mais algumas. Com este livro começarão por aprender a amar o seu próprio país, a literatura portuguesa, a tirar lições da história portuguesa, e, especialmente, a amar o povo a que pertencem e a respeitá-lo, se um dia destes tiverem a honra de o representar.
Ai... as coisas que eu gostava que se fizessem para mobilizar gente para combater o que se está a passar. Coisas simples, feitas na nossa terra, sem a mania das grandezas.
Isto ocorre-me depois de ver ontém o Prós e Contras, depois de constatar aquela impotência das nossas chamadas elites para ver claro o que somos, refugiando-se depois no bota-abaixo, citar "Dr. Salazar" duas vezes, e apelar a que um grupo de gurus da Finança Internacional pouse na Portela para nos pôr na ordem.
Estas acções, mais blogues como este, formavam o equilíbrio desejável.
De outra maneira andaremos todos a discutir futilidades, como a do artigo do ressabiado Mário Crespo.
Sr. Dr. António Rebelo,
Tem de dizer a essa sua amiga, com duas casas, uma em Leiria e outra em Tomar, que quem quer manter duas casas deveria pagar muito mais.
Na Alemanha, Suécia, Dinamarca, etc, as "utilities" (água, luz, esgotos,...) e os impostos (IMIs e afins) custam muito mais na segunda habitação do que na residência principal. Porquê? Porque nestes países percebeu-se que a manutenção tem custos. E manter uma infraestruturação que não se usa devidamente também custa dinheiro. Público.
Desconhecer isto é não ter noções de planeamento. Mas nós por cá, já estamos habituados a isto. Queremos ter comportamentos de ricos ter várias casas, vários carros, mas depois não gostamos de pagar as facturas inerentes a estas riquezas. Alguns nem dinheiro para os seguros dos carros têm...
AA
Enviar um comentário