sábado, 21 de julho de 2012

BRONCOS COM A MANIA DE EUROPEUS EVOLUÍDOS

Rui Ramos, EXPRESSO-Opinião, 21/07/12, página 33

Quando aqui escrevo ou reproduzo algo contra a corrente de maledicência e humor rasteiro sobre Miguel Relvas, privilegiadas cabeças pensantes não estão com meias medidas: Vendi-me ao relvismo, de certeza por um qualquer favor ainda por descobrir. Nem sequer passa por tais bestuntos que posso estar simplesmente a tentar ser imparcial e objectivo. Procurando fazer aquilo que Attali aconselha: "chamar a um gato um gato, condição necessária para não o tratar como um cão". Mas quê! O facto de geograficamente ocuparmos o rectângulo mais ocidental da Europa, leva muitos a considerar-se europeus evoluídos, quando não passam de meros rurais mal aplainados. Perceberam? Ou é preciso ser mais explícito? 
Entretanto, os que insistem em confundir ódios pessoais com opções políticas, e não olham a meios para alcançar objectivos nem sempre confessáveis, farão o favor de se limpar a mais este guardanapo. Que "tacho" terá o ministro oferecido a Rui Ramos?

4 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

O Dr. Rebelo (peço que não me leve a mal) anda numa azáfama hipocondríaca: ora anda ao rabisco ora anda à "lêja", safras de recurso em momentos de crise.

Eu que o diga, tirei o meu primeiro canudo (bem tirado!) na escola primária de Carvalhos de Figueiredo, edifício estilo gótico... (que deve conhecer), para o que tinha de palminhar desde Marianaia, ida/volta, bem provido de alimentos: uma sandes com marmelada, às vezes de atum, outras de ovo frito; e fruta, quando havia, que roubava pelo caminho. Um regalo! Bons tempos! E saí anafado, robustozinho, como o Dr. Rebelo bem sabe, que me conhece há um horror de anos.

Apesar de assim bem alimentado até cerca das cinco de la tarde (hora a que chegava a casa), na época das vindimas, logo que acabadas, lá me infiltrava no vinhedo, ao rabisco, no busca desenfreada de uns galhitos esquecidos nuns Ramos... mais à mão, com medo de ser picado por algum moscardo ou mordido por alguma cobra. Servia para me refrescar a alma e ganhar confiança para atravessar a ponte de madeira que sempre ameaçava partir ou cair - ali no açude da fábrica de papel.

Pouco tempo depois chegava a época da apanha da azeitona e, terminada, quando saía da escola, invadia os olivais, e dedicava-me à "Leja", ou seja, procura, no meio dos torrões, às vezes ressequidos, das azeitonitas abandonadas, ranhositas e bichosas, atordoadas talvez pelas Saraivadas... que nessa época já tinham lugar. Metia-as num saquito e ia vendê-las ao kilo a um senhor que se chamava Marques que negociava com lagares. Com os dez ou quinze tostões ia comprar rebuçados e línguas de gato; mas era eu que os comia, às vezes guardava um ou dois para minha irmã. Ninguém mais os chincava.

Isto é uma brincadeira... - por o Dr. Rebelo andar ao rabisco e à lêja neste clima político estouvado, que até parece fazer perder o juízo a toda a gente.

Este governo até obriga os seus amigos a andar ao rabisco e a andar à "leja"!

E isto é divertido!

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Depois de debitar o anterior comentário, um devaneio de prosa amadora e rasca, vou deixar, dedicado ao Dr. Rebelo, um pedaço da boa (mesmo da boa!) prosa, de Vasco Pulido Valente, hoje no "Público", que tanto aprecia, tal como eu - julgo que por motivos diferentes. Sim, há muitos, muitos anos - nem eu sei já quantos..., que sou leitor fiel das crónicas deste senhor, com quem estabeleço uma relação de amor e ódio. Acompanho-o quando migra para outro jornal, só para ler as suas crónicas, que em certos momentos são geniais, noutros de um reacionarismo ultramontano, próprio de um aristocrata arrogante, com um qualquer problema mal resolvido nas relações com o povo português (ou de identidade política?).

Aqui vai esse pedaço:

"A experiência de Portugal não se recomenda. Cavaco queria fazer propaganda de Portugal ou, para usar a frase da época, pôr "Portugal na moda". Não lhe ocorreu que só punha Portugal na moda com uma democracia exemplar, uma justiça reputada e rápida, uma economia próspera e uma população instruída. Isso tudo demorava muito tempo e não se via logo. Por isso, esse mal educado nativo de Boliqueime preferiu a "Europália", o CCB, o Euro 2004 e, sobretudo a EXPO 98. A classe política portuguesa exultou vergonhosamente. Mário Soares ficou patriótico e deleitado, Jorge Sampaio (então presidente da Câmara de Lisboa) entrou num delíquo quase obsceno de prazer. Os partidos deitaram foguetes, sem excepção"

"(...) Cavaco entregou a coisa a Cardoso e Cunha, que o Estado não gastaria um tostão. Gastou milhões de contos por uma ilha pseudomoderna, separada do Terreiro do Paço e da Baixa Pombalina, que nunca de facto se juntou à vida da cidade e até hoje continua a não ser verdadeiramente parte dela".


Fico por aqui, porque já estou cansado. Merece ser lida integralmente por quem queira refletir sobre a política portuguesa dos últimos anos e a dos dias que vivemos.

VPV quando introduz a história, antiga ou recente, nas suas crónicas, consegue às vezes ser genial. Quem não leu, que leia.

Foi por isso, é por isso, que eu choro pelo meu Zézito, embora isso não signifique que deseje vê-lo no governo de novo.

José Sócrates não está, como dizem, a estudar em Paris. Convém é dizer assim.

José Sócrates está exilado. Como aconteceu a muitos, no periodo liberal séc. XIX e na primeira República, alguns deles de grande valor, mas que tiveram de se exilar. Havia mesmo um depósito para eles (em Paris ou Londres, não me lembro agora).

Se José Sócrates não tivesse escolhido o exílio......., devido à porca campanha contra ele durante estes anos..... (nem me atrevo a escrever o resto).

Anónimo disse...

Meu Caro Templário:

Também não nasci em berço de oiro, mas morava em arrabalde mais próximo. No Cu da Mula, para ser exacto. De forma que frequentei a escola da Várzea Grande, roubei fruta na Marchanta e ao longo do rio, aproveitando as aulas do saudoso mestre Jacob, apesar de já saber nadar. Tinha aprendido antes, no açude à saída do esgoto do matadouro municipal, ali onde está agora a Ponte do Flecheiro. E também andei na azeitona, ali para as bandas da Estrada do Prado. Depois fui trabalhar para o turismo. Tinha 12 anos... e já sentira a fome durante anos.
Quanto ao teu Zèzito exilado, quando e se regressar ao país, podes ficar com ele.

Um abraço tomarense

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Pelo teu comentário, até parece que estive a chorar baba e ranho pela triste vidinha da minha infância, que, afinal, não foi nada má. Não era aí que eu queria chegar. Fico assim a saber que falhei os meus intentos literários...

Podias ter sido mais simpático...

Mais uma prova provada porque não consegui escrever o tal romance do Zé do Telhado...

Uma coisa é certa: não te tenho como exemplo de iliteracia.