segunda-feira, 9 de julho de 2012

Como doentes a amputar...

Confrange o actual quadro político, tanto a nível local como nacional. Praticamente todos os sectores assumem posições de recusa, perante a necessidade imperiosa de reformar, de reduzir, de conter, de limitar, de racionalizar. Contra a reforma hospitalar, contra a reforma autárquica, contra a reforma das forças armadas, contra a "lei dos compromissos", contra o memorando da troika, contra as privatizações, contra os aumentos de preços... Até o operário Jerónimo de Sousa acaba de avançar contra aquilo que PS e PSD assinaram em nome de todos nós, propondo um alargamento de prazos. Como se isso não viesse a representar, se conseguido, ainda mais anos com o governo (este ou outro) a pagar anualmente 5 mil milhões de euros só em juros, única forma de honrar os compromissos assumidos. E tudo isto no habitual clima de suspeita, de conspiração, de subentendidos graves, dando a entender que somos governados por um grupo de gente sem escrúpulos, tipo gansgsters políticos, que não olham a meios para conseguir os seus objectivos. Perante tão triste paisagem política, os estrangeiros com quem tenho trocado ideias riem-se, comentando com condescedência que se trata da indispensável e longa aprendizagem política, a que nenhum povo consegue escapar.
Bem vistas as coisas, ser contra é não só a posição mais fácil, uma vez que não implica a prévia e complexa análise da questão, como também a mais confortável. Se depois a situação melhorar, demonstrando que a mudança foi positiva, basta inverter a posição anterior e aplaudir. Se tudo continuar a correr mal, ou até piorar, será ensejo para  triunfalismo fácil: -Eu bem avisei a tempo e a horas! 
Na verdade e infelizmente, governantes e governados, encontramo-nos todos, devido a gravíssimos erros antes cometidos, na triste posição dos médicos e dos doentes a amputar. Não lhes adianta ser contra, pois a alternativa é clara -ou a intervenção irreversível, ou a ida para o cemitério a breve prazo.
Há dúvidas a tal respeito? Então sejamos francos: Em democracia plena, algum governo se arriscaria a tomar medidas impopulares, susceptíveis de lhe retirarem dezenas de milhares de votos, apeando-o do poder -como acontece por exemplo com a reforma hospitalar, a reforma autárquica, alei dos compromissos ou a redução das forças armadas- se a isso não fosse forçado pelas circunstâncias?
Numa situação conhecida -a das câmaras municipais, habituadas às vacas gordas- os presidentes estão todos contra o garrote financeiro imposto por Vítor Gaspar. Porque é um patife? Porque não gosta do poder local? Porque quer contribuir para a queda do governo, de forma a vir a ser o novo Salazar? Tudo balelas ao estilo costumeiro, daqueles que só sabem estar na política à maneira estalinista de complot permanente. Encarando as coisas sem óculos partidários nem apriorismos ideológicos, Gaspar e os outros estão apenas a fazer aquilo que julgam ser melhor para o país. E até têm explicado em que se fundamentam, reconheça-se que nem sempre com grande êxito. São políticas impopulares? Pois são. Cometem erros? Pois cometem. Como todos nós. E daí? Há alternativas realistas e consensuais? Continuam-se a amputar  os pacientes gangrenados? Ou deixa-se que as doenças completem a sua sinistra tarefa?

7 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro prof.

O partido do operário Gerónimo, goste-se ou não dele, concorde-se ou não com a pessoa e/ou o partido, tem apresentado alternativas à actual situação.
Não estou mandatado, mas basta uma busca pelo site do partido, para verificar que soluções, são mais que muitas:

http://www.pcp.pt/assembleia-republica/projectos-lei

Para esclarecimento, o que se defende, e não só o serralheiro mecânico, mas Miguel Frasquilho também, entre outros dos mais diversos quadrantes, é que com o alargamento do prazo, também sejam alteradas as condições de pagamento.

Já agora e quanto às reestruturações e outras que tais, só um louco defenderia tudo como está; mas será esta a única via?
Concordo e defendo a Lei dos Compromissos, convivo com ela há bastantes anos, mesmo ainda sem a sua existência e não deixei de fazer o que propuz; o problema esteve (está) no gasto de verbas noutras coisas que não o bem-estar das populações ( como o gasto desmesurado de verbas nos dois anos finais dos mandatos, não para obras, mas por obras inflaccionadas destinadas a pagar campanhas eleitorais).
Claro que tem que haver uma reforma autárquica; mas será esta a reforma? porque é que o governo, tão diligente a lixar o Zé pagante de impostos que até foi além da Troika, não encolhe o n.º de municípios, como está acordado? pois, os barões locais...
Claro que tem que haver reforma nas Forças Armadas, mas não uma reforma condicionada pelo pagamento de amortização e juros dos submarinos comprados por um governo destes mesmos partidos e por um dos seus ministros mais importantes, Paulo Portas ( que tem passado como cão por vinha vindimada...).
Como atrás lhe indiquei, há quem apresente alternativas ao seu "ou vamos por aqui, ou então o caos", não são é compatíveis com esta política neo-liberal que se instalou com toda a força neste pobre País. Ao seu "pobres, mas honestos", eu, apesar de federalista, contraponho "honestos, independentes e empreendedores" e isto é incompatível com o baixar de calças que defende.

Já agora e como última nota, o operário Gerónimo, dava também um belo licenciado em Ciência Política! quisesse ele ser "doutor da Mula Ruça"...

Ctos

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

A certo passo deste artigo, no qual revela uma surpreendente incompreensão da política, da democracia e do progresso das sociedades, o Dr. Rebelo define o seu posicionamento político. Ou não reparou bem no que escreveu?

" Encarando as coisas sem óculos partidários nem apriorismos ideológicos, Gaspar e os outros estão apenas a fazer aquilo que julgam ser melhor para o país" E como define País? Estado? Nação? Povo? Classes? Interesses de classes? Luta de classes? Propriedade privada? Democracia? Etc., etc. etc..

E ponto final! Será mesmo assim que o Dr. Rebelo quer que os portugueses se comportem hoje, que os interesses em confronto nesta crise sejam assim resolvidos? Esta atitude trouxe-me à memória o primeiro documento conhecido que define as antigas três ordens sociais, na Idade Média, escrito por um arcebispo, na correspondência que manteve com o rei Robert le Pieux, século XI, que traduzi do Vol. I, "L'Europe de la Foi"-pag. 104- da obra "Les Mémoires de L'Europe". Ousei traduzir, coisa que nunca gosto de fazer, mas apostando que o Dr. Rebelo não o tem, não ficarei sujeito às suas correçoes... no franciú,

Excertos principais:

"A fé é uma coisa simples, mas aqueles que a professam dividem-se em três classes: para além dos padres ("outre celle des prêtres), a lei humana estabelece aí, com efeito, duas bem distintas. O nobre e o servo não são regidos pela mesma lei. Entre os nobres, dois são os primeiros: um aquele que governa como rei, outro aquele que governa em nome do rei. São estes, cujas ordens afirmam o Estado. Quanto aos outros nobres, nenhum poder restringe a sua liberdade, se não cometerem algum crime, que caiba ao ceptro do rei punir. Aqueles são chamados a empunhar as armas...."

"(....)A segunda classe contempla toda a gente de condição servile. Esta classe infeliz não possui mais nada que não seja o que possa adquirir através de um duro trabalho. Quem poderia, multiplicando-se por si próprios em tantas vezes quanto um padrão xadrez contém de caixas, contar os tormentos e tritezas, os trabalhos, as fadigas que têm de suportar os servos desafortunados? Fornecer a todos o ouro, a alimentação e o vestuário é a condição do servo; e, com efeito, nenhum homem livre pode viver sem o socorro do servo....".

"(...) A família do Senhor, que parece uma, está, então, com efeito, dividida em três classes. Uns rezam, os outros combatem, os últimos trabalham. Estas três classes formam um todo e não saberiam estar separadas.; o que faz a sua força é: se uma delas trabalha para as outras duas, estas, por sua parte, fazem o mesmo para aquela; É assim que todas três se aliviam uma à outra."

(ARCHEVÊQUE ADALBERON: Dialogue avec le roi Robert)

Ao tempo estas relações sociais representavam um avanço histórico, um progresso para as sociedades, por estranho que possa parecer.

Mas o Dr. Rebelo, sem se aperceber...., que pôr-nos a andar para trás.

Repito o seu apêlo:

" Encarando as coisas sem óculos partidários nem apriorismos ideológicos, Gaspar e os outros estão apenas a fazer aquilo que julgam ser melhor para o país"
(Quando é que eu já vivi isto?)

Para nós todos, não é assim? E a gente, os partidos, as ideologias regressam ao séc. XI. Acontece que os bancos deviam estar ao serviço do povo.

É nestes momentos que se exige mais óculos partidários, mais apriorismos ideológicos. De resto é isso que faz o Dr. Gaspar... - Ou não faz?

O que para aí vai Dr. Rebelo.... E a canseira que me anda a obrigar...

Anónimo disse...

Estive quase a escrever "Valha-te Deus, Fernando!", mas depois aflorou-me ao bestunto que seria pior a emenda que a prebenda. De forma que serei breve. O que aflora do teu posicionamento é que te recusas a aceitar que outros, entre os quais me conto, vejam as sociedades humanas de maneira diferente da tua, porque com outras ferramentas. Duvidas então que os membros do actual governo estejam a fazer o melhor que sabem e podem, em prol da recuperação do país? Estás no teu direito. Não há pior cego que aquele que não quer ver. Mas não me critiques por isso, pois não tens qualquer base sólida para o fazer. Afinal, abstraindo resquícios morais ou ideológicos, todas as ideias são equivalentes em teoria. O pior só aparece com a prática. Em todas elas.

Anónimo disse...

Para Leão da Estrela:

Plenamente de acordo quanto às competências para uma licenciatura de Bolonha em Ciência Política. Já no campo da Economia Política, que é o meu, mantenho o já escrito. Quanto mais se prolonga um empréstimo, mais caro ele fica, mais ganham os bancos e outros investidores, mais beneficiam os especuladores. Acho por isso algo insólito que o PCP queira enveredar por aí, tratando-se exactamente do mesmo modo de pensar que nos arrastou para a situação em que o país se encontra.
Por muito que custe a admitir, é chegada a altura de ter em conta os nossos avós, quando constatavam "A cadela não pode com tanto cão", eliminando logo a seguir parte da ninhada, quando não mesmo toda...

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Isso não é verdade, Rebelo! Se eu não aceitasse o posicionamento dos outros em democracia, sim, seria um radicalista intratável e pernicioso. Quando critico algumas posições tuas, ou seja de quem for, estou a respeitá-las.

As que dirijo a Miguel Relvas não são críticas, são acusações e denúncias. A história está aí a certificá-las. As que dirijo a este governo não são críticas, são acusações e denúncias. A história está aí a certificá-las.

Toda a experiência política que tenho foi de consensualismo, cooperação, aliança, entendimentos, cedências, diálogo, ajustamento ao pensar dos outros tanto quanto possível. Não tenho outra, ao contrário do que possas pensar. Aliás, a democracia portuguesa impôs-se por este método.

Esta tua frase

" Encarando as coisas sem óculos partidários nem apriorismos ideológicos, Gaspar e os outros estão apenas a fazer aquilo que julgam ser melhor para o país"

não tem pés nem cabeça, porque não corresponde à realidade política e social de nenhuma sociedade, menos ainda na nossa nestes dias,
agora.

Não existem países em abstrato. Mas existem políticas concretas, viradas para a verdade que importa de uma sociedade, decorrentes de diálogo, consenso, cooperação, obrigatórias no momento que vivemos. Foi isso que os estarolas recusaram na questão do PEC IV, com a colaboração do PCP, que o Caro Leão da Estrela tenta desesperadamente safar desta embrulhada.

O Ministro Gaspar e os farsolas do Relvas/Coelho não estão a aplicar o que prometeram aos portugueses, nem sequer o memo. da troika, que aceitaram e assinaram antes da campanha eleitoral.

O que o ministro Gaspar e a rapiazada... têm estado a fazer é ilegal. Consubstancia um golpe de Estado. Já mandaram quase 200 000 portugueses para o desemprego, há fome Rebelo, cada vez mais pessoas estão a passar fome. Não há esperança Rebelo, ninguém acredita já nesta canalha que enganou o povo e o humilha. Isto está uma desgraça e não se vislumbra a maneira democrática de os escorraçar de S. Bento de imediato.

O Primeiro Ministro é uma barata tonta,não sabe o que anda a fazer, fala de coisas que não sabe, e as que vai sabendo teve que as saber à pressa de ministros tontos, cheias de veneno. O chefe do parceiro de coligação é um bluff, parece um caixeiro viajante, usa retórica demagógica patriótica para os orientais de negócios que têm uma máquina de calcular instalada nos miolos, que lhes faz as contas do custo de um produto importado num ápice, desde a saída da fábrica do exportador em Portugal à entrada do armazém do importador. Fazem-nas de cabeça. Isto é para homens de negócio, para experts, quadros médios e superiores, muitos andam por aí em desespero. O Portas é um falso, um exibicionista, um incompetente, um aldrabão, um oportunista, um ávido de protagonismo televisivo, muito parecido com Relvas. É um político que não merece a confiança de ninguém, um inconstante, um cobarde. É um bobo.

Anónimo disse...

Meu caro Fernando: Fiquei mais sossegado ao ler esta tua frase: "Isto está uma desgraça e não se vislumbra a maneira democrática de os escorraçar de S. Bento." Ela prova que apesar de tudo continuas com alguma ligação à envolvência. E explica o tom deste teu comentário
Sobre a maneira de os "escorraçar", não será mais sensato, consensual e eficaz, procurar apenas o modo de os SUBSTITUIR em S. Bento, após futuras eleições? Olha que em política, a maior parte das vezes, o estilo é tudo!
E não acuses nem denuncies, nem julgues, nem condenes. Deixa isso para o poder judicial. Limita-te a criticar, de preferência dando pistas para alternativas que não sejam fantasiosas...

Um abraço,

Leão_da_Estrela disse...

Oh meu caro Templário,
eu não tento desesperadamente safar ninguém desta embrulhada. Era o que mais faltava! não sou advogado de defesa de ninguém, mas parece-me que o PCP, não estando refém dum acordo, tem apresentado soluções para a coisa, concorde-se ou não com elas. Já o PS, por via do que assinou, é-lhe mais difícil "espigar cabelo" e isso tem-se visto na (falta de) acção de AJSeguro. Ainda assim e para que conste, eu sou daqueles que há muito tempo que acha que isto vai lá é pela esquerda! unida, preferencialmente! (lá estão o "consensualismo, cooperação, aliança, entendimentos, cedências, diálogo, ajustamento ao pensar dos outros tanto quanto possível", que também me têm movido, ao longo da vida, desde que me conheço por cidadão activo).

Sinceros cumprimentos