"Era uma vez uma Rã e um Escorpião que não podiam atravessar um rio, uma com medo de se perder, o outro porque não sabia nadar. -Tenho uma ideia, disse o Escorpião. Levas-me às cavalitas e eu guio-te. Assim vamos conseguir sem dificuldade. -Nem penses, respondeu a rã. Conheço-te muito bem. Ferras-me na espinha e matas-me. -Não posso, contestou o outro. -Se fizesse isso íamos os dois ao fundo e eu não quero morrer. Convencida, a Rã lá aceitou carregar o Escorpião às costas. Iniciaram a travessia. A meio do percurso, o Escorpião ferrou a Rã. -Porque é que fizeste isto?, gritou o batráquio. Agora vamos morrer os dois. -Desculpa lá -balbuciou o Escorpião, já combalido. Não consegui resistir. É a minha natureza, sabes!
Estarão os socialistas para as empresas como o Escorpião da fábula? Ousarão esmagar as empresas com impostos e outros encargos porque está nos seus genes proceder assim, mesmo sabendo muito bem que comprometem o futuro do país? No fim do mês passado, numa rádio privada, Pierre Chappaz, célebre empresário francês da Internet, queixava-se de que nenhum dos actuais ministros tem experiência do sector privado. Após detalhado inquérito, o serviço de documentação do L'EXPRESS conseguiu encontrar as seguintes excepções: Geneviève Fioraso trabalhou no marketing de France Telecom, Benoit Amon trabalhou na Ipsos, Cécile Duflot numa PME, na área da habitação social, Arlette Carlotti na indústria aeronáutica, Fleur Pellerin foi assessora de comunicação, Yamina Benguigui gerente de uma sociedade de produção e Pascal Canfin jornalista...no periódico Alternativas Económicas. Jérôme Cahuzac foi cirurgião numa clínica privada e vários outros ministros trabalharam em sociedades de advogados: Montebourg, Vallaud-Belkacem, Pau-Langevin e Alain Vidalies. Laurent Fabius (antigo primeiro-ministro) foi administrador de uma leiloeira, enquanto Vincent Peillon abandonou os estudos aos 20 anos para fundar uma empresa de importação-exportação de "salmão fumado para todos".
Todas estas experiências limitadas são mesmo assim excepcionais. Todos os outros ministros -25 em 39- fizeram os seus percursos profissionais no sector público (ministérios, regiões, autarquias, associações). Nenhuma comparação com os governos estrangeiros, no seio dos quais a fertilização cruzada privado-público funciona perfeitamente. Será possível entender a lógica de uma empresa privada sem nunca a ter vivido por dentro? E no entanto as empresas são a fonte do crescimento, do emprego e do aumento do nível de vida...
Fleur Pellerin, ministra das PME, insiste que a direita não detém o monopólio do espírito empresarial. Mas as primeiras medidas anunciadas pelo governo socialista fazem pensar o contrário: do aumento dos descontos para a segurança social aos novos encargos fiscais das sociedades de trabalho temporário -um sector ultradesenvolvido em França, devido à rigidez das leis laborais- todos pesam sobre a competitividade. E se fosse preciso um símbolo da mudança socialista, ele aí está. Os grandes patrões deixaram de ter porta aberta na Presidência da República [em França é o PR que define os grandes eixos da política governamental e que preside aos conselhos de ministros]. Doravante devem ir queixar-se ao Ministério das Finanças, onde pontifica o ex-conselheiro do presidente Hollande junto dos meios empresariais durante a campanha eleitoral. O seu condiscípulo de HEC [Altos Estudos Comerciais, escola privada de élite] e ex-dirigente da sociedade de gestão hoteleira ACCOR, André Martinez.
Se a economia alemã está melhor que a francesa e se o poder de compra é além-Reno superior e o desemprego inferior, é porque as suas empresas são mais competitivas. Berlim fez atempadamente o necessário para reduzir os encargos fiscais e sociais, desde o início deste novo século. Não é só para respeitar o pacto orçamental que é necessário reduzir as despesas públicas...e os descontos obrigatórios. A saúde das empresas é o fundamento da riqueza colectiva e, se o governo não compreende isto, vai continuar durante muitos anos a tapar buracos e a manter sociedades inviáveis ligadas às máquinas, à custa do orçamento.
Christine Kerdellant, L'Express, 04/07/2012, página 49
Os leitores farão o favor de efectuar as necessárias alterações, antes de comparar com Lisboa (nível nacional) e com Tomar. Sem adequada reflexão prévia, nunca mais vamos conseguir sair da cepa torta...
5 comentários:
Prof.
Deixe-me dizer-lhe que concordo consigo. Eu próprio sou um micro-empresário na área da restauração e sei o que custa...
No entanto, há uma frase que me chamou a atenção no artigo que transcreve e que é esta: "...sociedades de trabalho temporário -um sector ultradesenvolvido em França, devido à rigidez das leis laborais...". O que eu queria aqui enfatizar era a questão da "rigidez das leis laborais"; diabo, pensava que em Portugal é que as leis laborais era um empecilho ao desenvolvimento! afinal também em França...rai's parta as leis laborais, que impedem que os países se desenvolvam! é por essas e por outras que a França ainda não saiu da Idade Média! bem feita!
Já agora e a talhe de foice, que me diz da desgraça que é a França ter que ir pedir dinheiro emprestado a juros negativos?
Esclarecendo, para os mais distraídos, a França pede dinheiro emprestado e ainda cobra juros! deve ser por causa da desgraça da diminuição da idade da reforma...
Cumprimentos
Risos
Agora é que o Leão da Estrela chegou para si, prof.Rebelo. E esta hem?
Amigo Luis Ferreira:
Fico contente quando as pessoas se riem, por ser algo que faz bem à saúde. Neste caso convém contudo lembrar que, na política como no resto, "o último a rir é o que ri melhor". Lá para fins de Setembro, oxalá todos possamos continuar a rir graças à situação francesa, mas duvido. É só esperar pelo choque.
Para Leão da Estrela:
Está bem visto sim senhor! Mas olhe que em relação à Alemanha, no toca a mercado de trabalho e a produtividade, a França se ainda não está na Idade Média ou quase, pouco lhe falta. Infelizmente!
Prof.
Pois é capaz de ter razão, não esqueça no entanto as regalias dos trabalhadores alemães e até dos franceses, comparado com a desgraça deste país.
Eu começo é já a preocupar-me não com a França, mas com a Alemanha. É que quando a malta não conseguir pagar, o que será da economia alemã? e onde vão eles vender os Mercedes e os Audis e BMW's e VW's os submarinos e os elevadores e os combóios e o dinheiro? é que o mercado chinês ainda demora algum tempo...
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