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Do DIÁRIO DE NOTÍCIAS de ontem, com a devida vénia, duas posições políticas em relação ao PEC, aprovado pelo governo na generalidade. A da esquerda é de Basílio Horta, actual líder da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. É portanto um alto funcionário nomeado pelo governo e da sua confiança. A outra é da SEDES e tem a assinatura de quatro nomes bem conhecidos dos portugueses: Campos e Cunha, ex-ministro das finanças de Sócrates, Medina Carreira, ex-ministro das finanças de um dos governos de Mário Soares, Henrique Neto, grande empresário e militante do PS, João Salgueiro, ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos.
Publicamo-las naturalmente para informação dos nossos leitores, mas igualmente para que os que nos acusam de pessimismo crónico, quando não de má-língua, tenham a satisfação de verificar que estão cheios de razão. Ou será o contrário ?
Na verdade, quem vive há muitos anos neste país e procura andar informado, não pode ignorar que somos os ases da desculpa. De tal forma que, caso houvesse um "Nobel da desculpa", já teríamos aí algures uma prateleira com uma resma de tais diplomas. E continuaríamos sem concorrência à altura...pelo menos aqui em Tomar, onde abundam as desculpas para o que quer que seja.
E daí ? E daí, o PEC anunciado parece-nos não só um embuste, como já foi referido, mas até uma habilidade simplória para ganhar tempo e forçar a UE a ficar com o ónus das decisões impopulares, que são inevitáveis antes do final do ano que vem, o mais tardar. Noutros termos: Ao vaselinar de tal forma a questão da nossa indispensável recuperação financeira, alardeando sistemáticamente um optimismo que nada justifica, Sócrates diluiu deliberadamente o efeito de choque, uma das mais importantes consequências psicológicas de qualquer plano de recuperação -a mudança de paradigma referencial. Juntando a isso a garantia de que não haverá aumento de impostos e apregoando que o crescimento económico vai permitir reequilibrar as contas sem mais sacrifícios, (o que nos parece mera poesia lírica), mostrou a todos os cidadãos mais atentos que se trata apenas de um plano para entreter, até que Bruxelas se veja forçada a "puxar-nos as orelhas" e a impôr medidas realmente impopulares (corte nos vencimentos da função pública, supressão do 14º mês, ou de parte dele, por exemplo). Aliás, o facto de o citado PEC só ter sido discutido e aprovado após a apresentação do Orçamento na A.R., mostra bem que se trata de algo para não ser levado muito a sério. Caso contrário, o orçamento teria sido elaborado em função do PEC e ambos teriam sido apresentados e discutidos conjuntamente no parlamento.
Que implicações tem esta política a nível local ? As piores. Indicia que, mais tarde ou mais cedo, a autarquia vai receber menos verbas em sede de FEF (ou lá como é que isso se chama agora). Por outras palavras, assim ou assado, vai receber menos dinheiro de Lisboa. Deixa prever que, neste evidente jogo de empurra Bruxelas>Lisboa>Bruxelas, os prometidos fundos europeus podem muito bem ser menos pontuais e menos substanciais do que o previsto. Torna cada vez mais necessária a adopção de um projecto e a indicação de um rumo, tanto para cidade como para o concelho, sob pena de naufrágio, muito mais cedo do que aquilo que os senhores políticos locais pensam. Não se prevêem melhoras na economia, nem a curto, nem a médio prazo, pelo que limitar-se a aguardar melhores dias é, nesta conjuntura, a pior das políticas. Equivale a morrer de sede com água ao lado, só para não ter o trabalho de estender o braço, encher o copo e beber. Têm a palavra os senhores eleitos...
3 comentários:
Bom dia António Rebelo,
Conhecendo como conhecemos o pântano que é a política em Portugal, não será difícil entrever, ou melhor, antever as excepções à regra que irão acontecer durante a vigência deste PEC.
Estou de acordo consigo em que o PEC é uma fraude destinada a adormecer a opinião pública, a passar para o povo o ónus da responsabilidade da monstruosa dívida pública. E acrescento que não tenho qualquer dúvida que quem vai pagar a factura será o extracto social mais baixo: os pensionistas, os desempregados e os ainda empregados cujos salários serão encurtados.
Veremos a breve trecho aumentos extraordinários para os gestores públicos, justificados pela "imperiosa reposição do justo valor dos serviços prestados", aumentos extraordinários permitidos a certas empresas ou bancos justificados pelo "excelente desempenho no exercício anterior", e neste caso perfila-se já a CGD, tudo isto para justificar a entrega de prémios de "produtividade" aos quadros superiores e administração que serão, como é usual, de milhões.
Assistiremos ainda ao aumento selvagem dos preços de bens e serviços, sobretudo nos sectores estratégicos onde o Estado colhe fortes benefícios fiscais.
Veremos ainda aumentos consideráveis nos bens alimentares por aplicação da máxima "o consumidor final é que tem que pagar".
Enfim, um rol imenso de situações que vão empobrecer o nosso quotidiano com a agravante de ninguém poder dizer ao povo português de forma concisa e assente em dados concretos que esta é a via para a solução do imenso défice que herdamos da política criminosa a que vimos assistindo desde há muitoa anos.
Sr. Dr. Rebelo
No dia em que as medidas de austeridade começaram a ser aplicadas de CIMA para baixo, poderemos acreditar na sua necessidade e bondade.
Agora assim, NÃO!!!!!
Continuará o fosso entre os barões opinadores (os que cita e outros que tais) e a maioria dos infelizes cidadãos nacionais que sempre pagam a crise.
E é curioso que as medidas regeneradoras do FMI são sempre as mesmas e em todos os países do mundo.
É urgente, imperioso e fundamental uma terceira via que reponha a justiça social e moralize a economia.
Basta de liberalismo, que tem dado cabo disto tudo!
É altura dos ricos pagarem a crise que eles, os políticos amigos e a maralha de sem vergonha dos partidos geraram.
"...não será difícil entrever, ou melhor, antever as excepções à regra que irão acontecer durante a vigência deste PEC."
E isto ditará a morte do PEC. Restará depois Bruxelas para colocar esta capoeira em ordem. Mas então, e como podemos ver pelo exemplo grego, as medidas serão radicais e irão doer.
R.Sousa
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