sábado, 13 de março de 2010

TRÊS ANÁLISES CONVERGENTES E DOIS RECADOS

Na sequência da nossa análise "Corvêlo de Sousa insiste no equívoco", lemos no blogue da Rádio Hertz que, na sua habitual intervenção das sextas-feiras, Pedro Marques o acusou de mentir. Parece-nos um exagero de linguagem. O actual alcaide tomarense não mente; apenas tem uma maneira peculiar de ver a situação sócio-económica concelhia, que realmente não nos parece nada adequada aos tempos que estamos a viver.
Partindo do princípio que os nossos autarcas da circunstancial maioria estão de tal forma ocupados com almoços, jantares, inaugurações, aniversários, excursões, assinaturas, telefonemas, idas aqui e além, estudo dos processos e outros trabalhos insanos, que nem tempo têm para ler a imprensa; tendo em conta igualmente que a autarquia não dispõe de um serviço de recortes para o presidente e os vereadores, resolvemos seleccionar três excertos de análises hoje publicadas no EXPRESSO, tendo em vista uma eventual mudança de atitude dos nossos eleitos no que concerne à economia local. Se conseguirmos que deixem de pensar e de dizer que estamos isolados aqui em Tomar a dianteira, já nos daremos por satisfeitos. O que julgamos indispensável interiorizar, para posterior base de raciocínio, vai a negrito. Os principais destinatários são, naturalmente, Corvêlo de Sousa, gestor da autarquia, quer queira quer não, e Carlos Carrão, o vereador da economia e finanças. Mas todos terão a lucrar em termos políticos, se lerem o que segue.

THE ECONOMIST -Quem paga a conta ?

"A guerra mais imediata, que já está a rebentar em muitos países europeus, é entre os contribuintes fiscais e os funcionários públicos, e entre o aumento dos impostos e o corte da despesa pública. Em termos políticos, os contendores estão equilibrados, opondo os poderosos sindicatos aos maiores contribuintes fiscais. ... ...Em termos económicos, no entanto, a maior parte dos ajustamentos deve assumir a forma de cortes na despesa.
... ... É verdade que podem ser necessários alguns aumentos de impostos, quanto mais não seja devido à necessidade política de persuadir o eleitorado de que os sacrifícos estão a ser partilhados. Mas os aumentos fiscais, como o registado no Japão em 1997, podem aniquilar uma recuperação. ... ...
Qualquer que seja o caminho que os governos escolham, será difícil. À medida que o crédito fácil for dando lugar à era da austeridade, a coesão social de muitos países será posta à prova, e nem todos os países resistirão. Durante os próximos anos, as carreiras de muitos políticos serão feitas e desfeitas nos mercados obrigacionistas."

O texto integral em inglês pode ser consultado em www.economist.com

DANIEL BESSA - O PEC NA AR

"Nasceu o PEC. Foi no Domingo passado. Nasceu escorreito. Sai aos seus. Vai agora ser discutido na Assembleia da República.
O PEC é um programa de saneamento das finanças públicas, a médio prazo, exigido por Bruxelas e seguido com a maior atenção pelos credores. Constitui um compromisso do Estado Português, assumido pelo governo. É natural que este queira apresentá-lo à Assembleia da República (depois de o ter apresentado aos partidos políticos e aos parceiros sociais), e não é difícil perceber por que razão gostaria de o ver aprovado pela oposição. Não vejo, no entanto, nem como isso pode acontecer, nem porque é que isso deve acontecer. Em primeiro lugar, porque a AR vota leis, moções de confiança e moções de censura; não vota os PEC, como não vota Programas de Governo. Em segundo lugar porque não há vias únicas para resolver problemas económicos e políticos.
Considero da maior importância a formação de uma maioria parlamentar comprometida com o objectivo de equilibrar as contas públicas; mas, para isso, não é necessário estar de acordo com o PEC no que tem de programa político concreto. A democracia ganharia muito, de resto, se em próximas eleições pudéssemos escolher entre vários PEC, leia-se programas de política, devidamente quantificados, em vez de nos ocuparmos de fantasias."

MIGUEL SOUSA TAVARES - PEC: Plano de Extermínio dos Contribuintes

"... ... Não falo dos justamente assistidos -dos que vivem com pensões de 300 euros ou do meio milhão de verdadeiros desempregados. Falo, para começar, dos imediatamente acima, mas moralmente bem abaixo: dos que vivem dos esquemas do subsídio de desemprego enquanto mantêm empregos paralelos ou vegetam no café à porta do Estádio da Luz a dizer mal de tudo; dos "biscateiros" que nunca passam factura nem pagam um tostão de impostos e se acham cidadãos exemplares; dos que cultivam as falsas baixas e arruínam o sistema de saúde público com doenças que não têm, exames de que não precisam e remédios que não pagam; dos que compram Mercedes com subsídios para plantar batatas ou produzir "arte" ou gravuras paleolíticas. E falo ainda dos mais acima na escala dos assistidos: dos que oferecem robalos em troca de telefonemas, andares recuados em troca de urbanizações e milhões em offshores em troca de subtis alterações às leis. Falo, enfim de todos os que vivem à conta e não sabem viver de outra maneira, dos tais 46% que se declaram soberbamente indisponíveis para aceitar sacrifícios -com a certeza adquirida de que os "outros" é que têm de o fazer. São esses que o PEC protege. ... ... ...
... ...E muito mais se pouparia ainda com algumas medidas de higiene financeira, tais como o fim das parcerias público-privadas, a redução aos casos estritamente necessários do recurso a consultadoria externa, a proibição expressa e consequente responsabilização cível e criminal de quem autorizasse a sistemática derrapagem de custos nas empreitadas e adjudicações ao Estado e o controlo apertado do endividamento das empresas públicas, com responsabilização salarial dos seus gestores. E isto, esperando que o endividamento zero das autarquias seja mesmo para cumprir. O congelamento inevitável dos salários da função pública (se é que o governo, depois da vitória dos professores, vai conseguir aguentar a rua e os sindicatos), e a sua progressiva e justa equiparação aos restantes trabalhadores quanto à idade da reforma, só podem ser politicamente sustentáveis se não continuarmos a ser diariamente confrontados com os maus exemplos que vêm de cima. ... ...
... ... Quando e se esta crise financeira do Estado for ultrapassada ou contida, manter-se-á o agravamento de impostos que agora dizem excepcional; a clientela larvar do Estado chegar-se-á outra vez à frente a reivindicar negócios, subsídios e apoios e tudo voltará à mesma, até nova crise. Aí, faz-se novo intervalo e aumenta-se mais ainda os impostos aos mesmos de sempre. Até ao dia em que eles estoirem e não haja ninguém para pagar a conta. Já faltou mais.

Os senhores autarcas, bem com os leitores em geral, farão o obséquio de efectuar as adaptações necessárias. Quando, por exemplo, um texto fala de impostos, convém acrescentar "taxas, licenças e preços da água", e assim sucessivamente...

4 comentários:

Anónimo disse...

Confundir impostos com tarifas de consumo de água e electricidade é de uma incoerência atroz.
Com demagogias destas, ainda mais npopulistas do que as habitualmente utilizadas por Paulo Portas é fácil contribuir para a degradação da sociedade ocidental.
O anarquismo está de volta ou é apenas febre passageira?...

Sebastião Barros disse...

Pior ainda é caminhar ao lado dos sapatos ou confundir bexigas de porco com lâmpadas economizadoras de energia.
Ainda não lhe saltou aos olhos que na base da decadência tomarense estão as práticas gananciosas da autarquia, por intermédio do executivo (taxas e licenças) e dos SMAS (tarifas diversas que são das mais altas do país) ? Que outra razão nos pode apresentar para os elevados preços praticados em Tomar ? E para a clara debandada da população ? E para o evidente descontentamento popular ?
O povo tem razão. Não há pior cego do que aquele que não quer ver.

Cordialmente, como sempre SB

Anónimo disse...

Demagogia barata...
A culpa deste estado de coisas não é das licenças de construção ou das tarifas dos SMAS, mas sim das pessoas que governam o concelho e não têm qualidades nem habilitações para tal. E por tal limitam-se a aumentar as receitas não prevendo que o seu aumento descontrolado conduzirá à sua diminuição.
Tomar tem tudo para ser um concelho modelo. Se não o é, será sem sombra para dúvidas devido a um exercício de auto-flagelação permanente dos seus cidadãos e votantes.
Não é sustentável manter estruturas sobredimensionadas. Os encargos que são necessários para a sua manutenção recaiem sobre um número cada vez menores de contribuintes. Planeamento é antecipar os problemas futuros. Algo que não tem havido.
Quando formos apenas 20 mil teremos que pagar o dobro para sustentar as divagações dos que nos desgovernam...

AA

Sebastião Barros disse...

Não estou a entender grande coisa. Afinal, quem aprova os custos das licenças, o tarifário dos SMAS, a taxa de IMI e as percentagens das taxas? O executivo e, posteriormente, a Assembleia Municipal. Ou seja, os eleitos por nós todos. E quem propõe tudo isso para aprovação? A actual e circunstancial maioria, igualmente por nós eleita. Sendo assim, não estou a ver onde está a demagogia, qualquer quer seja barata ou cara, que isto de preços tem épocas e depende muitos outros factores que agora não vêm ao caso.
Estará convencido/a que a população está a dar às de Vila Diogo, ou a dar à sola, caso prefira, não por causa dos custos, mas por não gostar da cara daqueles que elegemos ? Pelo que escreveu no seu comentário, só pode !