domingo, 7 de março de 2010

EM FRANÇA: CAMA E MESA NOS MONUMENTOS NACIONAIS

O palácio de Oiron-Deux Sèvres-França, jóia do renascimento, foi revitalizado como museu de arte contemporânea

Com a persistência da crise, é chegada a hora de procurar rentabilidade por todo o lado. Nem os monumentos históricos pertencentes ao Estado escapam. Para aumentar o número de visitantes e, sobretudo, as receitas, o governo francês encara a hipótese de fornecer cama e mesa em palácios multi-seculares, fortalezas ou abadias, à maneira dos Paradores, rede espanhola de hotelaria pública, criada em 1928.
O projecto de reconversão avança desde a assinatura, em 6 de Novembro de 2009, pelo ministro da cultura, Frédéric Mitterrand, e Henri Novelli, secretário de estado do comércio e do turismo, da convenção-quadro "Cultura e turismo", que permite a actividade económica "razoável e respeitadora" das jóias classificadas do património estatal gaulês.
Os vinte monumentos potencialmente escolhidos para hotéis, cujo impacto é mais perigoso do que o dos restaurantes, previstos para treze locais históricos, estão a ser objecto de um estudo específico, encomendado pelo Centro dos Monumentos Nacionais (equivalente ao IGESPAR+Monumentos Nacionais+Direcções Regionais de Cultura) à "Atout France", Agência Nacional de Desenvolvimento Turístico (empresa pública). O Centro dos Monumentos Nacionais tem a seu cargo a manutenção, o restauro e a exploração turística de cem monumentos franceses, visitados em 2008 por 8,5 milhões de pessoas. Pouca coisa, realmente, quando comparado com os 5 milhões de entradas pagas só no Palácio de Versalhes, e ainda por cima conseguido sobretudo graças aos 6 líderes nacionais, que representam 66% das receitas globais: Arco do Triunfo (um milhão e meio de entradas), Mont S. Michel, Basílica de S. Denis, Panteão Nacional, Cintura de Muralhas de Carcassonne e Notre-Dame de Paris.
A maioria dos monumentos geridos pelo Estado consegue menos de 20 mil visitantes anuais. Os menos rentáveis não chegam sequer aos 1o mil, ou mesmo aos 5 mil, como por exemplo Gramont, belo palácio renascença, Assier, um palácio classificado desde 1841, ou Chareil-Cintrat (1.6oo visitantes em 2008), encantador palácio renascença, conhecido pelos seus quadros.
Demasiado frágeis para acolher visitantes, alguns edifícos classificados nunca chegaram sequer a abrir as portas ao público. É o caso de Jossigny, a menos de 300 quilómetros de Paris, jóia arquitectónica do século XVIII, doado ao Estado em 1950, com os terrenos circundantes, e pilhado em sucessivos roubos por arrombamento. Outros monumentso ainda, continuam fechados para obras de restauro, ninguémn sabe até quando.
... ... ...
A estes palácios pouco frequentados, em relação aos quais o Estado nem sabe, muitas vezes, o que há-de fazer, mas que foram seleccionados pelo Centro dos Monumentos Nacionais, e cujos responsáveis não consultados foram informados por correspondência há pouco tempo, há que adicionar as abadias e os antigos quartéis agora devolutos, cujas instalações são mais adequadas para implantações hoteleiras. Ainda assim, está fora de questão dificultar o normal acesso dos visitantes aos espaços com interesse turístico.
É sabido que a protecção do património e as complexas normas da hotelaria nunca emparelham com facilidade. A este óbice, que é dificilmente ultrapassável, devido às próprias servidões dos monumentos, convém juntar as exigências de rentabilidade dos potenciais investimentos. Como sublinha Christian Mantei, director geral adjunto de Atout France, a quem foi confiado o estudo exploratório, "o essencial dos investimentos hoteleiros é agora aplicado nas cidades. As pessoas que estão convencidas de que vão ganhar fortunas à custa do património à guarda do Estado, estão redondamente enganadas."
Efectuar um diagnóstico económico da região, dos seus recursos, do seu potencial turístico, da sua atractividade, dos acessos, da concorrência, eis a primeira étapa do estudo de Atout France. (Exactamente como se faz em Tomar, não é verdade ? - Pergunta do tradutor.) "O mercado evoluiu. Os visitantes procuram os monumentos tal como sempre foram. Não podemos descambar para a ostentação", afirma o senhor Mantei, que pretende privilegiar dinâmicas locais em vez de grupos hoteleiros. Serge Louvau, ex-secretário geral do Museu do Louvre, acrescenta que "um monumento que não corresponde a uma necessidade social nunca terá viabilidade económica."

Florence Evin - Le Monde

Tradução e adaptação de António Rebelo (Esta versão em português é apenas a parte que pareceu mais importante do texto original.)

7 comentários:

Maria disse...

Por acaso nem acho má ideia. Se, por exemplo, as celas dos frades fossem adaptadas a quartos, com os requisitos mínimos e sem mexer muito nas estruturas, era uma forma de rentabilizar o Convento. Mas, como no nosso País nada se faz sem ostentação e com respeito pelos edifícios...
Deixem lá os hotéis e pensões de Tomar ganhar o seu. Eu vou sempre para o mesmo, onde me sinto em casa.
O "União", além de quartos muito razoáveis, tem uma vista explêndida do Castelo e os donos são uma simpatia.
Maria

Luis Ferreira disse...

Este tipo de post's tem sempre poucos comentários.
Uma pena, porque de facto é notório o seu interesse de abordagem sobre uma realidade diferente.

Este contributo do Dr.Rebelo aumenta o nosso nível e relembra que há ainda um longo caminho a fazer pela nossa sociedade.

Lembra ainda um outro factor, que é o de os nossos problemas serem muito parecidos com os problemas dos outros, e que todas as sociedades estão a dar o seu melhor para ultrapassar estes novos problemas.

Tal trabalho do Dr. Rebelo ao levantar questões aponta também pistas de resolução, que impele os responsáveis a uma atitude: a isso se chama cidadania. E tal atitude está, mais do que tudo nos cidadãos e menos nos que, sem legitimidade, tentam por vezes em nome destes falar.

Um exemplo!

Anónimo disse...

OH LUIS DUPLO QUEIXO,
CIDADANIA SERIA TERES REVELADO QTO CUSTOU OS 850 ANOS DA CIDADE.
AGORA PROPALARES QUE UNS FAZEM E OUTROS DIZEM MAL É MESMO À SALAZARISTA.
DEUS TE PERDOE PORQUE INFELIZMENTE NÃO GOSTAS DE TOMAR. GOSTAS SIM DA ANABELA FERITAS E DA TUA PAPADA.

O BURRO

Anónimo disse...

Agora que estou reformado, já estou a imaginar-me nas minhas idas à terra natal, alojado numa daquelas celas no Convento a repousar e deambular na área circundante, a ler, etc..

Mas receio bem que os preços não mo permitissem. Compraria umas pantufas especiais para utilizar em qualquer espaço interior. Os sapatos ficavam à porta. E não fumaria às escondidas lá dentro.

Vá lá! Implementem esta ideia.

Mas há um senão: a Res. União perdia um cliente. O que não é de somenos importância.

Anónimo disse...

Huuuummmmm...!!! Eu faço melhor! Recolho-me para sonhos numa daquelas celas e imagino-me a dormir com uma freira...noviça!!!

Anónimo disse...

É triste constatar que agora, muitos dos que se opunham à Pousada no Convento de Cristo, tenham de repente tenham de repente ficado adeptos deste empreendimento.
Mas ainda bem...

AA

Anónimo disse...

Bom dia António Rebelo,

Normalmente em Tomar queixamos dos calos ~mas não fazemos nada para impedir que cresçam! O que ontem era, hoje já não vale! Sempre foi assim nesta terra e é por isso que somos um atraso de vida quando comparados com o que se passa um pouco por todo o lado onde são potenciadas as possibilidades de desenvolvimento.
É bom que não esqueçamos que Tomar sempre foi um reduto de "velhos do restelo" cuja mentalidade retrógrada resistiu à mudança. É o caso da tão falada estalagem na zona do Convento de Cristo! Quase toda a gente afinou voz pela de um senhor idolatrado na cidade como seu maior defensor, feroz opositor à mudança e confesso resistente à implementação duma unidade turística na área do maior símbolo do nosso concelho. Lembro que o mesmo personagem até foi contra a edificação dos prédios de seis andares da Alameda Um de Março porque a sua volumetria cortava a visão do castelo. Valha a verdade não estou aqui para castigar a memória desse senhor que já não está entre nós e a quem reconheço méritos - porque os teve, e muitos - mas não posso deixar de reconhecer que também foi um entrave ao desenvolvimento em Tomar. Refiro-me como já se terá percebido ao Dr. Fernando Ferreira, mais conhecido por "Nini"!
Pios que tudo o que acabei de dizer é o facto de ter deixado sementes...e os frutos ainda andamos a colhê-los!!!