terça-feira, 23 de março de 2010

MARASMO E MUDANÇA...


Três citações a abrir. Para que ninguém possa sustentar, respeitando a verdade, que em Tomar a dianteira apenas se publicam as opiniões dos administradores. Para encabeçar, o inimitável Camões, que há cinco séculos conseguiu detectar o problema fulcral que agora nos atormenta. Já lá iremos.
Segue-se Mário Soares, um dos raros políticos portugueses que seria supérfluo apresentar. Do alto de uma vida extraordináriamente bem vivida, pode agora dizer e publicar tudo aquilo que considera pertinente e indispensável. Isto, por exemplo: "Portugal, repito, não vai bem. Os partidos e alguns sindicatos têm uma visão imediatista, de curto prazo. Parecem recusar-se -todos- a reflectir sobre o futuro. O que lhes interessa é o imediato: os da oposição, atirar o governo abaixo -ou, pelo menos, o primeiro-ministro- ainda que não tenham alternativa à vista e que, entre si, não se entendam; o do Governo, manter o statu-quo, sem visão de futuro, o que também é pouco." (Diário de Notícias de 23/03/10, pág. 51). Em terceiro lugar, uma opinião aqui inesperada para muitos: "Soluções, não problemas." (Luís Ferreira, no seu mais recente comentário enviado para tomaradianteira).
Sendo certo que Luís Ferreira nunca foi nem é soarista, nem por isso o seu apelo implícito deixa de ser assaz patusco. Na verdade, o nosso vereador parece não se dar conta de que actualmente os sete membros do executivo, além de manifestamente não disporem de quaisquer ideias devidamente trabalhadas sobre o futuro da urbe, (contrariando o que disseram durante a campanha eleitoral), constituem eles próprios o problema, por isso mesmo.
Já Mário Soares tem, quanto a nós, toda a razão. Tanto a nível nacional como local. Pelas margens do Nabão, salta aos olhos dos eleitores atentos que os autarcas em funções apenas executam de forma satisfatória dois tipos de tarefas: 1 - Despachar os assuntos correntes, de um modo geral tarde e a más horas; 2 - Procurar fazer o necessário para assegurar a sua sobrevivência como eleitos.
Os eleitores mais condescendentes, que são os reais causadores da presente situação, em que a cidade e o concelho mirram de dia para dia, lá vão repetindo que as coisas não estão fáceis para ninguém; que o Mundo nunca mudou tão rapidamente; que não adianta ter projectos, pois uma vez concluídos já estarão ultrapassados. Se calhar, nem sequer lhes passa pela cabeça, nem a eles nem aos seus eleitos, que o deveras importante não é encontrar respostas; o fundamental é saber formular as perguntas adequadas, as quais desencadearão depois as tais respostas fecundas.
Sobre a problemática da presente aceleração da mudança, deixemo-nos de tretas. Já há cinco séculos, o grande poeta da lusitanidade constatou a mesma coisa: "E afora este mudar-se cada dia,/Outra mudança faz de mor espanto,/Que não se muda já como soía." Ou seja, em português actual: E além destas mudanças quotidianas/ Outra mudança é ainda mais de espantar/Que já não se muda como era costume.
Em conclusão: Vão-se lastimando, vão arranjando desculpas, vão exigindo peixe em vez de canas para irem à pesca, vão aguardando com pachorra que as coisas melhorem, MAS NÃO DIGAM QUE NINGUÉM VOS AVISOU A TEMPO E A HORAS. Se Darwin aqui fosse eleitor, dir-vos -ia certamente algo como "Neste mundo de mudança cada vez mais acelerada, ou nos adaptamos em tempo útil, ou morremos de forma inglória, vitimados pelas inovações." É a vida !

1 comentário:

Anónimo disse...

E já então o nosso Poeta, vendo que os que mandavam e desperdiçavam as riquezas e as experiências (que outros bem aproveitaram à nossa custa), vendo todos tão embriagados de sonhos e glórias, que se esqueceram dos seus preços, avisava, que as glórias só não são efémeras para quem souber a cada momento merecê-las:

"Não mais Musa, não mais, que a lira tenho

Destemperada, e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.

O favor com que mais se acende o engenho,

Não me dá a Pátria não, que está metida

No gosto da cobiça e da rudeza

Duma austera, apagada e vil tristeza."