Convidado pelo prezado amigo Luís Ferreira, fui ontem à noite até à Estalagem do Mouchão, para participar num anunciado debate sobre economia e emprego, organizado pelo PS local. Mal empregado tempo! À boa maneira portuguesa, houve jantar prévio. Para alguns, claro. Depois soube-se que um dos oradores convidados não viria. Enfim, a simpática Anabela Freitas pediu compreensão para o atraso de outro orador, que ainda vinha na estrada à hora prevista para o início da função.
A sessão iniciou-se com a sala cheia, cerca de 70 pessoas. O presidente da Federação PS de Santarém asseverou que contam com o PS nabantino como alternativa em Tomar, advogando outro modelo económico para o país e a inevitabilidade de estimular a procura interna. Com que meios, não esclareceu. Saudações e outros ademanes depois, usou da palavra um empresário. Alguns tópicos: Situação complexa; todos somos culpados; ai da sociedade, ai da empresa sem estratégia; dificuldades das empresas; Estado demasiado pesado; qual o Estado que nos interessa?
Seguiu-se o tal orador atrasado, que entretanto chegara. Especialista em Finanças Públicas, segundo informou. Debitou depois toda uma série de generosas generalidades sobre a economia e as finanças do país, tipo Diário Económico, vincando ser de evitar um discurso que não seja realista, que seja excessivamente retórico. Alguns pontos: crescimento anémico; Receita FMI/BCE/UE não está a resultar; indispensável renegociar; se a troika fornecesse fundos com a mesma taxa facultada aos bancos, em vez de 8 mil milhões anuais de juros, o Estada pagaria apenas 2 mil. Pois, pensei eu. E se a minha prima tivesse um motor Ferrari...
Quando um dos assistentes falava de juros de agiotagem, achei que era tempo de me pôr ao fresco. Eram 23 horas. Ainda falei à saída com um fiel daquela igreja laica, lastimando que tenha sido questão unicamente do país, e não da cidade e do concelho, como eu julgara antes. Foi-me dito que do geral se vinha com facilidade ao particular e que não estava escrito em lado nenhum que o anunciado debate seria sobre economia e empresas locais. Pois não, retorqui eu, mas era suposto.
Pegando nas palavras do empresário convidado a falar, "ai do partido sem estratégia". E o PS tomarense, se a tem, ninguém ainda deu por isso. É pena. Como costuma escrever António Alexandre: "Assim não vamos lá."
2 comentários:
Sr. Prof Rebelo
Mas os Sr ainda acredita nas pessoas que proliferam nos dias de hoje na politica!?
Sou uns tantos anos mais novo, e infelizmente já deu para perceber à long time que não pode e não se deve acreditar em políticos. Como alguém à não muito tempo atrás disse "Jamais".
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
70 pessoas?! Muito interessante!
Também me convidaram, semanas atrás, para um plenário concelhio de militantes do PS (uma honra), em Mira Sintra, num concelho com mais de 400.000 habitantes; estiveram presentes não mais que 70 "inscritos" com a presença de João Galamba. "Não inscrito", foi como alguém se referiu à minha pessoa, numa intervenção. Saltou-me a tampa: "Não militante!", corrigi, assanhado, num àparte.
Claro! Sobre o concelho de Sintra nem pio, para evitar batatada...(não estava na ordem de trabalhos). Tomei lá conhecimento de que o diretório nacional pôs termo à guerrilha entre bandos, impondo Basílio Horta como próximo candidato do PS à Câmara de Sintra. Uma boa escolha. Já podem imaginar o tipo de luta (guerra guerreada) entre estes bandos, que num tão populoso concelho (o maior do País), só tiveram ensejo de nomear um munícipe para a presidência (ganhador), julgo que o primeiro presidente de Sintra eleito após Abril (Ana Gomes, mora no concelho, encabeçou uma lista, também imposta de fora). Todos os outros vieram de fora... Num concelho desta importância, estarem presentes só 70 "inscritos" é pouco.
O debate ultrapassou as minhas expetativas pela positiva.
Gostei de reviver outros tempos, de militante partidário,e senti algumas saudades. Mas a idade... chama por mim.
Os jovens têm uma ideia deturpada do que é a vida partidária. Deviam aderir aos partidos. Neles (e não só neles) podem expressar toda a sua energia e generosidade, imaginação e criatividade, para bem da democracia e do coletivo. Mas eles olham para algumas sedes locais dos partidos, e julgam que são casas abandonadas. Não lhes dão nada para fazer, nenhum assunto local para estudar, nenhuma pista para enriquecimento filosófico da respetiva doutrina política (e das outras), nenhum debate inovador que os mobilize, tão pouco um ambiente estético atrativo e propício aos seus novos gostos e costumes. Na maioria são locais onde nem de política se fala...
O nosso sistema partidário intermédio e de base, sinceramente, regrediu, parece-me uma seca. Falta juventude. Será que os partidos vão desaparecer...? Andam por aí intelectuais e docentes universitários a fazer petições à AR que vão muito nesse sentido... É uma nova leva de salteadores do aparelho de Estado, com muitos familiares para empregar, a querer correr com os últimos assaltantes. Já só quase há funcionários públicos nos partidos, cada um agarrado ao seu ossinho.
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