A questão das eventuais alternativas à actual austeridade, tão propugnadas por A. J. Seguro, já aqui foi desmontada, no post "Um sonho que durou pouco", de 12 deste mês. Contudo, para que não prevaleça a ideia de que se tratava de uma opinião externa, segue-se outro ponto de vista sobre o mesmo assunto, desta vez de um economista português. Faça favor de ler e não se esqueça de votar, aqui do lado direito do ecrã, caso ainda o não tenha feito. Pode estar em causa o devir de Tomar. Não lhe interessa?
"HERÓIS COM PÉS DE BARRO"
"Parece que o senhor François Hollande está em desgraça. O nível de popularidade caiu em seis meses para cerca de 41%, um dos mais baixos de que há memória para um presidente francês. É certo que o homem nunca inspirou grande confiança. A vitória nas eleições foi mais demérito de Sarkozy do que mérito dele próprio. Mas, vá-se lá saber porquê, tornou-se o herói improvável de uma esquerda europeia ansiosa por ter um.
Essa esquerda via no senhor Hollande uma espécie de anti-Merkel e, aparentemente, o próprio acreditou nisso. Durante a campanha eleitoral encheu o peito daquilo a que chamam "orgulho francês", uma espécie de bonapartismo serôdio, e prometeu contrário daquilo que a chanceler alemã vem aplicando à Europa. O crescimento contra a austeridade, o investimento contra o rigor orçamental, diminuição da idade da reforma, ao contrário do que fez o seu antecessor, controle de preços e toda a restante cartilha da esquerda.
Conseguido o Eliseu, a primeira coisa que o senhor Hollande fez foi voar para Berlim, ainda que à segunda tentativa, para, esperava a esquerda, enfrentar a senhora Merkel. Saiu de lá com a vaga promessa de uma ainda mais vaga aposta comum no crescimento da economia europeia. Depois disso o senhor Hollande desapareceu na cena europeia, onde deixou de riscar o que quer que seja. A frente interna reclamava pelo milagre anunciado e foi aí que o senhor Hollande caiu na realidade. E em popularidade.
O herói do crescimento comunicou tristemente aos franceses, esta semana, que vão ter de poupar 60 mil milhões de euros em cinco anos, ou seja um montante próximo do pacote de ajuda externa a Portugal. Reconheceu ainda que a França precisa de diminuir em 20 mil milhões de euros os custos do trabalho, para repor a competitividade da economia francesa. É conveniente recordar que, durante a campanha eleitoral, o senhor Hollande tinha garantido que os custos do trabalho não eram um problema.
E assim, num abrir e fechar de olhos, o senhor Hollande aderiu às políticas de rigor e austeridade, ainda que, segundo o próprio, para defender o crescimento. A quem é que já ouvimos isto? Bom, desde logo à senhora Merkel, a tão odiada inimiga da esquerda francesa, portuguesa e europeia em geral. Depois, já agora convém puxar pelos nossos galões, a Passos Coelho e a Vítor Gaspar. Por último: essa é a política da Europa do euro, imposta pelos alemães, para a qual era suposto o senhor Hollande ter uma alternativa. Não tem, como se vê. E não tem por uma razão muito simples: ela não existe, no actual quadro de uma economia global.
A demagogia e o populismo não conseguem esconder esta realidade. A França, como muitos países europeus, tem desequilíbrios graves que colocam em risco o financiamento da respectiva economia. Depois, como o próprio senhor Hollande reconhece, a economia francesa não está competitiva, necessitando baixar os custos unitários do trabalho. Lá como cá e na generalidade das economias europeias.
A solução de esquerda seria colocar as máquinas a imprimir dinheiro e colocar barreiras alfandegárias às importações, promovendo a inflação. Mas tal solução nem o antigo herói da esquerda europeia -François Hollande- se atreve a defender. Apesar de tudo, é mais digna a rendição ao pragmatismo que, como sabemos, não tem cor política."
Luís Marques, Massa Crítica, Expresso Economia, 17/11/2012.
Sobre o mesmo tema, não perca sob nenhum pretexto o próximo texto, da autoria de Jacques Attali, ex-conselheiro económico de François Mitterrand e ex-presidente da comissão nomeada por Sarkozy para elaborar um relatório sobre o desenvolvimento da França.
Partindo do princípio que não há alternativa às políticas de austeridade, mostra quais são as duas hipóteses de evolução possíveis no actual estado das coisas.
1 comentário:
Caro professor,
Diz este Luis Marques:
"Depois, como o próprio senhor Hollande reconhece, a economia francesa não está competitiva, necessitando baixar os custos unitários do trabalho. Lá como cá e na generalidade das economias europeias." Portanto, solução preconizada: trabalho escravo!
E diz mais:
"A solução de esquerda seria colocar as máquinas a imprimir dinheiro e colocar barreiras alfandegárias às importações, promovendo a inflação." Mas o que é que tem andado a fazer o perigoso esquerdista Obama, senão isto?!
E ainda:
"E não tem (Hollande,solução) por uma razão muito simples: ela não existe, no actual quadro de uma economia global." e diz que a demagogia e o populismo não conseguem esconder esta realidade. Que descaramento! então não foram a demagogia e o populismo que nos trouxeram, aos franceses e a nós e aos gregos e aos outro todos, à situação em que nos encontramos?!
Professor, eu sei que é difícil ir por aí, mas se não lhe der muito trabalho, será que pode colocar aqui um postal com as propostas da CGTP (e da UGT, já agora) para ajudar o País a saír do buraco? sim, sei que me vai dizer que são inexequíveis, mas publique-as, mais não seja para se ver o outro lado da questão e os que o lêem possam ter outra visão, que não a sempre catastrófica que aponta.
Cumprimentos
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