sábado, 17 de novembro de 2012

Leitura de fim de semana

Tencionava publicar uma crónica do ex-conselheiro de François Mitterrand, Jacques Attali, igualmente presidente da comissão nomeada por Sarkozy para elaborar um relatório sobre a modernização da economia francesa. Pensando melhor, só o respectivo título já deve dar que pensar aos responsáveis políticos locais, habituados ao marasmo nabantino, mas agora visivelmente contrariados em plena convulsão europeia e mundial.
"Mar alto ou recifes da costa?" -assim se designa a supracitada crónica- fica para segunda-feira de manhã. Entretanto publica-se algo mais recreativo e adaptado ao fim de semana. Ora faça o favor de ler, para constatar que os portugueses não passam afinal de meros aprendizes nalgumas áreas.
E a propósito, já votou, aqui do lado direito do seu ecrã?

"Caça às pensões gregas"


"Quem diria que o calvário dos pensionistas gregos, amiúde apresentados como os mais atingidos pela crise, poderia mesmo assim ser invejado por outros? Pois é contudo o caso de muitos dos seus vizinhos balcânicos, sobretudo búlgaros e romenos. Alguns milhares deles já entregaram requerimentos de passagem à reforma, junto da IKA-Etam, a principal instituição grega de segurança social. Antigos trabalhadores sazonais ou precários, procuram vir a conseguir a pensão mensal mínima, que é de 486 euros. Uma soma astronómica na Bulgária, onde a pensão média raramente ultrapassa os cem euros.
"Alguns perceberam que, devido às regras da União Europeia, bastava ter descontado apenas alguns meses na Grécia, para ter direito à pensão mínima, explicou-nos um funcionário do ministério búlgaro das finanças, com ar divertido. A notícia propagou-se como um rastilho de pólvora entre todos aqueles que já trabalharam no nosso outrora opulento vizinho do sul."
Caso os requerimentos venham a ser aceites, estes reformados raianos podem requerer igualmente na Grécia uma pensão suplementar de 230 euros. atribuída aos mais desfavorecidos. O  suficiente para levar uma "vida de pachá", segundo um jornal de Sófia, a capital, que com todo o gosto conseguiu localizar alguns búlgaros habilidosos que recebem pensões gregas. A operação vale a pena, num país cujo salário mínimo é de 135 euros mensais e onde os preços são muito convidativos, mesmo para os padrões gregos.
Os pensionistas gregos -os verdadeiros!- foram de resto os primeiros a perceber isso mesmo. Desde o início da crise, centenas deles instalaram-se do outro lado da fronteira, na cidades búlgaras de Sandanski e Petritch, onde gastam as respectivas pensões, tornando muito felizes os comerciantes locais. "Graças aos reformados gregos conseguimos um incremento no sector dos serviços", disse-nos com visível satisfação Metodi Bisserkof, vice-presidente da câmara de Petritch. "Aqui consigo viver à rica!", garantiu-nos o ex-comerciante ateniense Kostas Michoulis, que sentia algumas dificuldades na Grécia, com a sua pensão de 600 euros mensais. "Mas por outro lado, ainda não consegui perceber como é que esta gente consegue viver com tão pouco", conclui Michoulis, grego de 67 anos, a viver na Bulgária há três.
Uma pensão grega para preços búlgaros... Dezenas de milhares de apanhadores de azeitona, serventes e ajudantes de enfermeiro, que trabalharam alguns meses ou vários anos do outro lado da fronteira, têm agora essa hipótese, susceptível de lhes vir a assegurar prosperidade e felicidade na sua própria terra. É verdade que, de acordo com a legislação grega, é necessário residir no país de modo permanente para ter direito à reforma e às ajudas sociais. Mas os espertalhuços já encontraram uma solução. Segundo o jornal económico grego Imerisia, funcionários corruptos arranjam facilmente atestados de residência para estrangeiros, mediante finanças. Os inspectores da IKA até já conseguiram descobrir que vários desses pensionistas búlgaros raianos têm exactamente a mesma morada. Outros há até que conseguem receber pensões sem qualquer relação com os anos de descontos. O referido jornal noticiou o caso de uma búlgara de 66 anos, há um ano a viver na Grécia mas que, de acordo com o seu processo, já descontava há 25 anos para a IKA. Simples erro informático, certamente..."

Alexandre Lévy, L'Express, 07/11/2012, página 41

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