segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ACTUALIZAR A JANELA DO CAPÍTULO - 2

No texto anterior, Tomar a dianteira apresentou três hipóteses, devidamente ilustradas, para actualizar a Janela do Capítulo, adaptando-a aos tempos que correm e tornando-a assim mais atractiva, e motivo para aumentar o número de visitantes pagantes no Convento de Cristo. Como também foi dito, a nossa iniciativa resultou da recomendação, contida no relatório do LNEC/Processo 052/1/14446, de Janeiro de 2002, página 28, a qual recomenda uma pinturazita após a pretendida limpeza/lavagem "Como forma de dar coerência à envolvente intervencionada." Acrescenta-se até que "A aplicação de uma solução de oxalato de amónio transformará a parte exterior da pedra em oxalato de cálcio, composto bastante menos solúvel do que a calcite, pelo que será de esperar que as superfícies resistam melhor aos agentes agressivos." Enquanto ficamos aguardando que os nossos amigos engenheiros químicos confirmem ou desmintam tal hipótese, não podemos deixar de sublinhar que as superficies em causa, designadamente as da Janela do Capítulo, estão parcialmente cobertas de musgos e outros líquenes, mas não estão degradadas, porque justamente essa cobertura vegetal as tem protegido. Basta observar com rigorosa atenção. Ainda assim, o citado relatório, que já tem mais de 8 anos, recomenda, após a tal estapafúrdia limpeza/lavagem "a utilização de solução de água de cal pigmentada com pigmentos naturais, por forma a ajustar os tons mais dissonantes." E esta, hein? exclamaria o saudoso Fernando Pessa, se ainda vivesse. O leitor sabia que há, ou pode vir a haver, na Janela de todos nós, tons dissonantes ? Já na comunicação social é a mesma coisa. Há tons dissonantes e vá de encontrar solução para o problema. Não é Manuela Moura Guedes ? Heranças mal assimiladas...
Na hipótese estrambótica de haver limpeza/lavagem, seguida da tal "veladura final", ousamos aconselhar que se dê, à Janela e à fachada, um tom resolutamente amarelo (ver foto acima), como forma de incrementar consideravelmente a vinda de turistas chineses. Não só são de raça amarela, conjuntamente com os japoneses, os coreanos, os mongóis e outros, como o amarelo sempre foi a cor preferida dos imperadores do Império do Meio. E até têm o Rio Amarelo, ou Huang He, o sexto maior do mundo.
Há, é certo, o problema das cruzes de Cristo. A da Janela e as do coroamento da nave. No seu Hotel Mandarim Oriental, em Macau, Stanley Ho mandou instalar, ao cimo da escadaria nobre, uma imponente reprodução da nossa Janela, em madeira de teca. Mas ordenou que substituíssem a cruz por um motivo chinês.Não se trata, porém, de nada de inultrapassável, pensamos nós. Pois se até fomos à Índia e à China por mar, quando era realmente difícil... Já que estamos em maré de adaptação, cobrem-se as ditas cruzes com casacos e bonés estilo Maozédong. Até o Garcia Pereira e o Durão Barroso, entre muitos outros, vêm à inauguração de tão importante requalificação. Vai uma aposta ?

Se, apesar de tudo, por muito improvável acaso, a "hipótese chinesa" não agradar, designadamente por se entender que cada coisa a seu tempo, pelo que ainda será quiçá prematuro, há também a hipótese "secret pink", ou "estilo pantera cor de rosa", que é do mais americano que se pode conseguir. Como ainda estamos, na Europa, em época de obamania, se o dito aceitar cá vir presidir à inauguração, será um estrondoso sucesso planetário, com a consequente entrada de milhões e milhões em divisas, que tanta falta cá fazem. Quando a economia americana recuperar, está claro. Só em direitos televisivos vamos conseguir, não uma pipa, mas o tanque da cadeira de el-rei cheio de "massa". E se ele é grande ! (E está a precisar de obras urgentes, diga-se de passagem.)

Também não há coragem para implementar a hipótese americana ? É sempre a mesma história. Muita conversa, muitas promessas, muitas ideias, muita coragem, mas depois quedamo-nos sempre no meio do rio. E nem para trás nem para a frente. Por isso estamos como estamos. Só com gargarejos, nunca mais vamos conseguir sair da cepa torta. Ou sequer limpar finalmente a terra das botas. Mas pronto. Para grandes maleitas, grandes remédios. Que tal deixarem a Janela em paz, limitando-se a assegurar a sua regular manutenção, tal como está ? Não se correm riscos, não haverá controvérsia, e ficará muito mais barato. Basta que quem dirige o IGESPAR tenha a coragem de dizer, aos habituais galifões do orçamento, que afinal o organismo mudou de estratégia. Que prefere abrir concurso, ou celebrar ajustes directos, tendo em vista apenas a quotidiana manutenção do monumento (que bem precisa, tantas são as ervas e arbustos para retirar, as paredes para caiar, as telhas para substituir, etc. etc.) por uma ou mais equipas ligeiras, excluindo nos tempos mais próximos qualquer intervenção pesada. Até porque, como é sabido, estamos na penúria e a situação tende a agravar-se... A modéstia e o realismo sempre têm sido proveitosos para quem os adoptou.
Quem vos avisa, vosso amigo é. Olhem que o Diabo sabe muito, não por ser o Diabo, mas por ser velho e ter consequentemente muita experiência. Cautela e caldos de galinha...

2 comentários:

Maria disse...

A última hipotese é a que mais me agrada. Não estraga, nem desvaloriza o nosso maior tesouro.
Mas vão lá convencer as pessoas!...
O que vale, é que no meio de tanta ideia idiota, levam tanto tempo a cecidir, que entretanto, eu morro.
Maria

Frei Gualdim disse...

"
Até porque, como é sabido, estamos na penúria e a situação tende a agravar-se...
A modéstia e o realismo sempre têm sido proveitosos para quem os adoptou.
"

- O problema é quando a falta de modéstia é rainha e senhora da sociedade. Quando se confunde utopia com vanguardismo. Quando se fala do que não se sabe. Quando a soberba orienta a actuação e a ciência deixou de ser uma procura interminável para ser a defesa dos que não têm razão.

É verdade que "a vida contínua" e "há mais vozes do que marinheiros", mas há também os que aproveitam estes momentos para destruir a obra que outros nos legaram.
Não somos que morremos. É Tomar que está a ser assassinada pouco a pouco. Quando nada a distinguir das outras vilas de Portugal seremos tão só mais um lugar no mapa. Sem identidade.