domingo, 7 de fevereiro de 2010

SALVAR A JANELA DO CAPÍTULO - CONTINUAÇÃO

Vimos ontem como lutaram, (respeitando sempre a legalidade) e conseguiram vencer, os franceses que se manifestaram contra o projectado abastardamento do Hotel Lambert. Unidos, conseguiram recolher oito mil assinaturas, numa petição contra as pretensões do novo proprietário. Dado que Paris intramuros conta quatro milhões de eleitores, enquanto o concelho de Tomar anda pelos 4o mil, as pouco mais de 100 assinaturas aqui recolhidas contra a limpeza/lavagem da Janela do Capítulo, representariam afinal, em Paris e nas mesmas condições contextuais, dez mil signatários. Nada mau, nada mau, sobretudo para alegados ignorantes. Ou será que, tudo devidamente ponderado, no fim de contas, a ignorância não mora onde dizem ?
Consta igualmente da tradução de ontem que "apagar os sinais da história para conseguir um suposto aspecto inicial do edifício" (exactamente o que se pretende fazer na Janela), "vai contra a Carta de Veneza, de 1964." Ora sendo o Convento de Cristo Património da Humanidade, está naturalmente sob a tutela vigilante da UNESCO, que lhe retirará tal estatuto, caso não sejam respeitadas as suas determinações. E quais são essas exigências?
De acordo com o citado documento, adoptado pela UNESCO, "A conservação e o restauro dos monumentos constituem uma disciplina que apela à colaboração de todas as ciências e de todas as técnicas que podem contribuir para o estudo e salvaguarda do património monumental." (Artigo 2º) E lá se vai a ideia, tão querida dos nossos contraditores, de que os especialistas de restauro é que são competentes ! Logo no artigo seguinte (3º), estabelece-se que "A conservação e restauro dos monumentos visam salvaguardar tanto a obra de arte como o testemunho histórico." Se a ideia de limpeza/lavagem da Janela for avante, como é que depois os visitantes poderão ficar a conhecer o comportamento da mesma durante 500 anos de exposição aos elementos ?

Caso ainda restem dúvidas de que a pretendida intervenção é de todo inaceitável, o artigo 4º da referida carta dissipa-as: "A conservação dos monumentos impõe em primeiro lugar uma adequada manutenção permanente dos mesmos." Que o mesmo é dizer, mantê-los em bom estado, com a menor intervenção possível, de forma a salvaguardar o seu aspecto natural. E logo mais adiante, no final do artigo 6º, estipula-se que "qualquer distribuição e qualquer arranjo susceptível de alterar as relações de volume e cor, devem ser prescritos."

A projectada limpeza/lavagem não vai alterar as relações de volume e cor ? Muitos visitantes pensam o contrário: "É a mais fascinante das obras manuelinas de Portugal. Esculpida entre 1510 e 1523, resume e concentra de modo perfeito toda essa arte, ponto culminante do delírio vegetal. Os musgos e líquenes contribuem ainda mais para lhe dar relevo e espessura..." , Le Guide du Routard - Portugal, Hachette, página 342. (O negrito é nosso).

Será preciso acrescentar mais ? "O restauro é uma operação que deve ter um carácter excepcional. Destina-se a conservar e a revelar os valores estéticos do monumento e baseia-se no respeito pelos materiais originais...O restauro pára onde começa a hipótese." (Artigo 9º da carta de Veneza)

Os arautos da limpeza/lavagem já perceberam agora que estão equivocados ? Ou pretendem realmente colocar em perigo não só a Janela no seu aspecto natural, mas igualmente o seu estatuto de Património da Humanidade, conseguido em 1982 ? Rezam as crónicas que a UNESCO não tem manifestado até agora qualquer simpatia pelos aprendizes de feiticeiro...

4 comentários:

Anónimo disse...

Deixe lá a janela em paz ! Porque é que não vai para a praça dar milho aos pombos e deixa as pessoas competentes fazerem o seu trabalho ? Irra, que empecilho !

Frei Gualdim disse...

Eu estava para sair do meu túmulo e dar uma volta pela cidade para fazer uma visita aos defensores do restauro da janela mas já vejo que não será necessário.
Depois desta só lhes resta meter o rabinho entre as pernas e saírem de mansinho desta contenda. É que não sabem mesmo nada do que andam a defender.
Mas a ignorância não pode ser desculpa para quem se arvora em profissional competente. Incompetentes diria eu!

Anónimo disse...

Para Anónimo das 09:27

Uma de duas, ou o seu comentário é jocoso, e nesse caso parabéns; ou é mesmo literal e melhor seria dedicar-se àquilo que aconselha -dar milho aos pontos e comida aos patos. Deixar as pessoas competentes fazerem o seu trabalho ? Neste caso da Janela, onde é que elas estão ?

Anónimo disse...

Pois é, o Pau lino também era muito competente a fazer o seu trabalho!

Resutado: quem se trabalhou foi Tomar e foram os Tomarenses.

Ainda por cima ficaram com os elefantes, de barriga vazia e com o défice às costas!

Toma! que é democrático!!!!!