É recorrente ouvir lamentos de que não há ninguém à altura para encabeçar uma lista ganhadora à autarquia tomarense. Basta falar na crise para ouvir frases do tipo "Os bons não estão para se sujar; os outros querem é tacho", "Os partidos já deram o que tinham a dar", "Até agora os tomarenses nunca elegeram um cabeça de lista militante partidário", "Isto já não tem concerto". Quando se contrapõe que talvez não seja tanto assim, a discordância é imediata: "Então quem?!" Caso o incauto interlocutor arrisque alguns nomes de cidadãos que na sua opinião poderiam vir a fazer excelentes mandatos, segue-se a crónica recusa pseudo-fundamentada: "Esse está velho; essa tem falta de experiência; esse é complicado demais; essa é demasiado mole; esse é muito agressivo; essa sabe muito, mas já não engana ninguém; esse já mostrou que não serve..."
Se em tempo de guerra não se limpam armas, em época de crise não convém complicar. Um velho dito popular sustenta que tudo tem a sua utilidade. Uma panela com buracos no fundo pode vir a dar um excelente passador... Durante perto de meio século, a oposição civil portuguesa procurou debalde encontrar a melhor maneira de derrubar o salazarismo. Muito mais virados para a prática, os militares, calejados pelas guerras africanas, necessitaram de pouco mais de ano e meio para conquistar o poder.
Muito antes do 25 de Abril já era do conhecimento geral no exército que o Otelo nem sempre carburava bem e tinha as suas coisas, mas era excelente a planear e a comandar operações, durante as quais usava a norma israelita: nunca ordenava "Avancem!" , mas sempre "Sigam-me!". Atitude rara, valorosa e muito apreeciada, como bem sabem todos os que por lá andaram. Foi por isso que, chegada a altura de passar à prática, o MFA, intelectualmente liderado por Melo Antunes e Vítor Alves, designou Otelo como comandante operacional do que posteriormente veio a ser conhecido como "25 de Abril".
Não se enganaram os militares de Abril. Tudo correu como previsto, pois na hora da verdade Otelo não falhou. Depois veio a cometer erros graves? Sem dúvida. Mas no essencial cumpriu, executou com êxito total aquilo de que os seus camaradas de armas o incumbiram, pelo que merece a nossa admiração.
Da mesma forma, em Tomar, tanto os que andam pelos partidos como os independentes, têm toda a conveniência em adoptar um raciocínio simples e prático, tipo militar: Qual o principal objectivo a atingir? Quem até à data se mostrou mais capaz de o conseguir? Ou como no futebol: Joga bem, marca golos? É bom armador? O resto são desculpas de mau pagador, sabido como é que não há ninguém perfeito. Sucede até que algumas qualidades podem ser defeitos, e vice-versa, dependendo do contexto.
A fechar, julgo ter interesse relembrar o caso das herdeiras ricas, na época em que eram os familiares a escolher os noivos. Sucedeu muita vez que, após tanta exigência, acabassem por ficar solteiras. E nesta altura a noiva tomarense está velha, porca, doente, falida, com calotes e cheia de vícios...
2 comentários:
"Isto não tem concerto", lê-se no texto.
Eu não percebo uma coisa destas numa terra em que estão em actividade quatro Sociedades Filarmónicas.
Qualquer delas tem, tendo em conta o apoio que recebem do Município, a responsabilidade de criar condições para suprir tão urgente necessidade.
Pior fora se "isto" não tivesse conserto...
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Ora aí está uma boa base para dinamização de uma alternativa de esperança para o concelho, aquela que o senhor Caiano Silvestre (que aproveito para saudar) aqui lança.
De forma nenhuma para eleborar uma candidatura de independentes (sou avesso, por enquanto, a candidaturas independentes, porque de independentes nada têm).
Porque não se reúnem as suas direções na tentativa de elaborarem um manifesto público, especialmente direcionado aos partidos locais, para encontrarem uma alternativa saudável para arrancar a cidade e o concelho da letargia em que se movem, partindo do pressuposto (controverso, bem sei) de que o PSD/PPD não merece reganhar a governação da câmara?
Num concelho de muitos congressos e seminários, o seu movimento associativo bastante rico e dinâmico poderia tomar a iniciatica de realizar urgentemente um qualquer conclave para debater questões ´políticas, sociais e culturais (e até económicas), filhado nas próprias eleições autárquicas.
Uma boa forma de espevitar os partidos locais, lembrando-lhes que há uma sociedade civil atenta e com capacidade de forte influência. Convidando também alguns chamados líderes de opinião.
E nessas associações estão incluídas as sindicais, patronais, desportivas e outras.
Como deixa subentendido o senhor Caiano Silvestre, da aldeia onde fui famosa estrela futebolística, naquela memorável equipa do Alexandre, Segorbe, Graça, José Garcia, "Foguete"... e outros, as mais variadas associações não se devem limitar a recolher anualmente os subsidiozinhos.
Santa Cita poderia ser o local escolhido para esse conclave, porque ela foi nos meus tempos de criança, adolescência e juventude, a mais avançada aldeia de Portugal em qualidade de vida. A bem dizer um oásis nesse Portugal Velho a que muitos nos querem fazer agora voltar. A terra do meu padrinho, o saudoso Senhor Fernando Abóbora.
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