sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Pode ser que finalmente...

Peço desculpa por insistir em traduções do Le Monde sobre a actuação do presidente François Hollande. Sucede que as esquerdas que temos tendem a difundir uma versão falsa da situação em França e uma visão enviesada da política do presidente socialista gaulês. Resta-me portanto tentar restabelecer a verdade factual, desta vez com o Editorial do Le Monde de ontem, subscrito pelo seu director. Façam favor de ler com cuidado, que o estilo é denso:

"Dizer a verdade de forma clara, até certo ponto..."


"Um triunfo. Se por acaso lesse a imprensa do dia seguinte -o que ele nega- François Hollande não poderia deixar de manifestar a sua satisfação. Graças à sua longa conferência de imprensa, em 13 do corrente, a primeira do seu quinquénio, o chefe de Estado seduziu os jornalistas. Os medias, que ainda há alguns dias atrás o criticavam asperamente, descobriram terça-feira passada um presidente responsável, sereno e determinado; um chefe à vontade na sua nova função, que defende com gravidade a coerência da acção do seu governo, que determina sem complacência o seu trajecto (o abandono do voto dos estrangeiros, por exemplo) e que nem hesita, quando necessário, criticar um membro da sua equipa ministerial (desta vez foi Manuel Vals), como forma de mostrar que está acima das questões partidárias e que o patrão é ele. Os que viam em Hollande um novo Queuille, incapaz de decidir, evocam doravante Churchill ou Mendès France, nada mais, nada menos! Na verdade, voltou a ser ele próprio: um social-democrata europeu, partidário do "socialismo da oferta" (há que produzir antes de distribuir), exactamente como foi antes da campanha eleitoral. Terça-feira passada tentou perspectivar o caminho percorrido pelo seu governo desde 6 de Maio. Embora possa haver algumas pequenas diferenças entre o que foi dito em Tulle e agora no Eliseu, não há de certeza, disse ele, na condução que assegura há um semestre, "nem curva apertada, nem curva larga". Os decretos de urgência de Julho passado (reforma aos 60 anos para algumas categorias de trabalhadores, aumento do salário mínimo), a austeridade e a pancada fiscal de Setembro (o orçamento e o défice de 3%), o pacto de competitividade de Novembro (crédito de imposto para as empresas): cada um dos marcos deste percurso é assumido pelo presidente. Mesmo as decisões que desagradam à esquerda, como por exemplo o aumento do IVA.
Está convencido que é esse caminho ainda inexplorado que vai permitir a recuperação do país. O chefe de Estado não esconde que se trata de uma via difícil: o desemprego vai aumentar nos próximos doze meses. "Não estou a governar para as próximas eleições, mas para a próxima geração", garante o presidente, fingindo indiferença perante a impopularidade do momento. Para já, os próximos passos estão marcados: haverá "compromisso histórico" entre os parceiros sociais, no que concerne às relações laborais e à reforma do Estado. Pela primeira vez, Hollande defendeu energicamente um redução massiva das despesas públicas. Mas apesar da argumentação forte e vigorosa, manteve uma certa indefinição sobre a maneira de conseguir tal redução.Questionado já no final [a conferência contou com a presença de 400 jornalistas e durou duas horas e 50 minutos] sobre se toda esta estratégia económica não constituía para a esquerda francesa "uma revolução copérnica", segundo a fórmula usada por um dos seus ministros, Pierre Moscovici, a propósito do pacto de competitividade, o presidente preferiu não responder directamente. Apesar da sua evidente vontade de dizer a verdade de forma clara, é ainda decerto demasiado cedo para o admitir."

Le Monde, Editorial, Erik Izraelewicz, 15/11/2012, 1ª página

Já votou, aqui do lado direito do ecrã? Está à espera de quê? 

A cor vermelha e o texto a azul são de TaD.

1 comentário:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Uma conferência de imprensa de quase três horas faz toda a diferença!!!

Né? Dr. Rebelo?

Para 400 jornalistas!!!

Essa fixação em Hollande tem um significado evidente...

Porque a questão é esta: o facto de nas últimas eleições em Portugal ter sido eleito um governo do PSD não me angustiava, nem aos portugueses em geral.

O que aconteceu foi o povo ter sido aldrabado, burlado, e ver-se agora a contas com um governo de trafulhas, incompetentes e provocadores. Que estão a desgraçar o nosso País, a mergulhá-lo numa tragédia e expressam sem vergonha um desprezo inconcebível pelo povo que deviam defender. E vendem-no aos amigos ao desbarato. E os que foram cúmplices da sua chegada ao poder, mostram-se pressurosos, ordeiros. Só falta servirem um chá à primeira fila dos manifestantes em frente à AR, conjuntamente com a polícia especial e chamndo os deputados, e o farsola do PM para cortar a primeira fatia do bolo, tudo ordeiramente, porque o povo é manso... Mas não é!

Por outro lado, se a França vive dificuldades, isso só prova que a crise não foi um fenómeno português. Está agora a chegar à Alemanha, o que é de lamentar.

E quem não teve vergonha de querer ignorar- ou fingir que ignorava - a verdadeira dimensão e natureza da crise, e afiançou malevolamente que ela era culpa de um brilhante Primeiro Ministro, terá de continuar a depenicar aqui e ali, para disfarçar a fraca ciência adquirida numa universidade algures em Paris. Fraca ciência... Lamentável cidadania.

Para a perceber, logo desde início, em Portugal, não era sequer necessário ir a Coimbra. Qualquer cidadão português honesto, mesmo analfabeto, desde que devidamente empenhado na vida activa, o terá percebido.

Mas alguns pequeno-burgueses da treta, habituados a pequeninas mordomias do aparelho de Estado, onde se refugiaram para fugir àquilo que, fora dele, consideram vida de escravos e de baixo status (refiro-me a alguns, bem entendido), ousam exprimir opiniões como se pais do povo sejam. Pobres diabos, que não enxergam quão medíocres e reacionários mostram ser.

Vejam lá agora onde tentam ir ao rabisco! - A Paris...

Mas quanto aos fracassos diários de um governo de sacanas, de aldrabões, incompetentes e canalhas, nem uma palavra. Tudo vai bem... Porca gente!

Se, quer o Presidente da República quer o primeiro-ministro portugueses, dessem uma conferência de imprensa de três horas, no dia seguinte caía o governo e o PR demitia-se daí a pouco.

Haja vergonha!