A sondagem de Tomar a dianteira, que ontem terminou, constitui uma novidade absoluta em Tomar, tanto pelo tema como pela participação conseguida. Impõe-se portanto proceder com todo o cuidado à análise dos seus resultados, que terão surpreendido muitos leitores, incluindo este vosso servidor. É o que se vai procurar fazer.
1- Ensina-se em todas as boas escolas de jornalismo que "A opinião é livre, mas os factos são sagrados". Significa isto que cada um pode pensar o que quiser, sendo no entanto eticamente obrigado a respeitar a realidade, as coisas tal como aconteceram, sob pena de vir a passar por troca-tintas, mais tarde ou mais cedo.
2 - A sondagem de Tomar a dianteira respeitou a transparência, o anonimato e a imparcialidade, tendo utilizado um aplicativo comprovado e não manipulável, bem como uma pergunta neutra, logo insusceptível de influenciar os votantes. Os resultados são por isso totalmente credíveis, ainda que naturalmente sujeitos à crítica.
3 - Ao obter-se 217 votos, conseguiu-se a maior participação de sempre, praticamente o dobro da conseguida há quase três anos, na sondagem sobre uma solução para o mercado. Significativamente, a percentagem de eleitores anda à volta dos 50% dos leitores usuais do blogue, uma vez que, segundo o contador Google, Tomar a dianteira registou ontem 445 visitas. Comparativamente, nas autárquicas de 2009 a taxa de abstenção foi de 41,21%, e de 41,34% nas legislativas de 2011. Existe portanto uma certa relação, que não será só fortuita.
4 - Hugo Cristóvão venceu largamente a candidata já escolhida pelo PS, ao conseguir 50 votos = 23%, quase o dobro de Anabela Freitas, com 29 votos = 13%. Logo a seguir ao ex-presidente do PS local aparece o inesperado Virgílio Saraiva, que averbou 35 votos = 16%. Todas as outras figuras do PS local (António Alexandre, Luís Ferreira, José Vitorino, Zeca Pereira) ficaram aquém dos 5%.
5 - Os 76 votos = 35% em "Outro" englobam várias categorias de eleitores: os que não tencionam votar PS, os que votarão PS se o candidato for outro, os que só votarão PS se o candidato for X. Como é evidente só outra sondagem permitiria, ainda assim com alguma dificuldade, apurar a importância numérica de cada um dos três referidos subgrupos.
B - A minha opinião
A sondagem constitui, no meu entender, uma pesada derrota para Anabela Freitas e para os estrategas socialistas, uma vez que torna evidente, a 11 meses das próximas eleições, o enorme fosso que os separa dos cidadãos eleitores, mesmo dos usuais votantes socialistas. É simultaneamente uma folgada vitória para Hugo Cristóvão, por assim dizer a consagração do seu labor como líder dos socialistas locais e como deputado municipal. Outro vencedor é o inesperado Virgílio Saraiva, cujos 16% resultam, julgo eu, do seu posicionamento na ala esquerda do partido e, sobretudo, da sua acção sindical. Ao votarem nele, os seus eleitores sabiam bem que não se tratava de o indicar para hipotético cabeça de lista, mas apenas de lhe agradecer desse modo a militância política e sindical que tem desenvolvido com afinco e com brilho.
Perante tais resultados, os membros da Comissão Política socialista que amanhã vão decidir em definitivo quem vai liderar a lista PS em 2013 têm uma escolha díficil -rectificar ou ratificar. Caso optem por ter em conta os insofismáveis resultados da sondagem -que vão sem dúvida deixar marcas- terão de escolher outro cabeça de lista, susceptível de vencer em Outubro do ano que vem. Se, pelo contrário, optarem pela ratificação, entregam a Anabela Freitas uma espinhosa tarefa -espécie de via dolorosa longa de onze meses- para a qual parte, infelizmente para ela e para os simpatizantes socialistas, já ferida de asa. As coisas são o que são...
Haveria uma terceira hipótese: Adiar a decisão final para melhor oportunidade, tendo em conta a dramática situação local, nacional e internacional, que não pára de se agravar. Não está porém nos hábitos locais parar para pensar. A palavra de ordem é por assim dizer sempre "Prá frente que depois logo se vê!" Por isso já chegámos onde estamos.
Cá conto estar para ver. Tal como vi em tempo útil que Vitorino não era um candidato vencedor, ou que a coligação era um erro e que não duraria até ao fim do mandato...
4 comentários:
Caro António Rebelo,
Independentemente de esta "sondagem" poder ter respeitado «a transparência, o anonimato e a imparcialidade, tendo utilizado um aplicativo comprovado e não manipulável, bem como uma pergunta neutra, logo insusceptível de influenciar os votantes», como bem sabe ela não cumpre com os requisitos técnicos, nomeadamente de amostragem, para que dela possa ser válido extrapolar conclusões.
Porque, necessariamente, haverá um enviesamento, pelo facto de "sondagem" estar a ser feita na Internet, portanto a uma parte restrita da poupulação; e, dentro desta, em específico num blogue (portanto, ainda a um segmento mais reduzido, não obstante a reconhecida representatividade / notoriedade do seu blogue no meio político tomrense).
Pelo que, em minha opinião, me parece necessariamente algo "abusivo" concluir, a partir dos números obtidos, que Anabela Freitas parte para esta tarefa «já ferida de asa».
Não coloco em causa que isso possa eventualmente ocorrer (isto é, que possa haver oposição à sua nomeação, dentro do próprio partido, ou entre os seus simpatizantes), mas tal não é lídimo concluir a partir desta votação que aqui promoveu.
Isto sem pretender, de modo nenhum, diminuir o valor da sua iniciativa ao propor publicamente esta "consulta".
Cumprimentos,
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Não tendo, na qualidade de observador atento da vida política local tomarense, nenhuma opinião formada sobre a Sra. Anabela Freitas, escolhida para cabeça de lista (oficiosa) pela comissão política local, o resultado obtido pelo Dr. Hugo Cristóvão não me surpreende. Pelo contrário, vem ao encontro do que já aqui, por algumas vezes, defendi, ou deixei subentendido. Primeiro, porque defendo um jovem para a liderança da câmara de Tomar, um concelho cuja decadência é evidente, não só para quem por aí nasceu e viveu toda a juventude (até perto dos 30 anos) e a visita regularmente, como para os que esporadicamente a visitam e me transmitem a sensação de que a "mais linda cidade de Portugal" parece ter entrado em derrocada.
O Dr. Hugo Cristóvão -parece-me - daria o presidente que Tomar precisa. Quando estou em Tomar recebo as melhores referências a seu respeito; eu próprio tive já a oportunidade de conversar com ele umas duas ou três vezes e colhi boas impressões, no que concerne a ponderação, temperança, formação cultural, excelente formação política, nomeadamente, partidária, postura simples, bom relacionamento com os tomarenses. E não me parece um ganancioso por poder. Visito esporadicamente o seu blogue Algures Aqui, que me dá uma ideia positiva deste jovem (que suponho não estará muito distante dos 40 anos).
Anabela Freitas terá as suas qualidades. Não me posso pronunciar. É também uma jovem e poderia ser a primeira mulher a assumir a liderança da Câmara.
O Dr. Rebelo surpreendeu-me num dos seus recentes posts, informando que todos os presidentes de câmara de Tomar eleitos após Abril 74, eram independentes. Não tinha reparado nesse pormenor. Reparo é na decadência da Cidade, e numa prática política de bandos. Mas essa premazia dada a independentes não deu resultados. É altura de chamar à responsabilidade um político "encartado"... - um "Inscrito", como disse o outro.
É óbvio que estas votações (a forma) podem comportar muita malandrice... Sabemos isso. E até pode acontecer que o Dr. Hugo Cristóvão hesite muito em se chegar para a frente. Faz mal!
Se eu fosse militante do PS, e vivesse em Tomar, daria muita importância a esta votação e, tendo a opinião que tenho do jovem H.C., punha-me em movimento a arrebanhar apoios para levá-lo a cabeça de lista nas próximas autárquicas, para fazer dele o primeiro presidente, não independente, da câmara de Tomar. Que me desculpe a Sra. Anabela Freitas.
E aposto que ganhava a liderança da câmara, com uma campanha à maneira, para a qual poderia contar comigo numa comissão de propaganda e agitação de apoio à sua candidatura - por toda a cidade; por todas as freguesias; por todos os lugares. A começar já!
Eu gosto desse jovem. Estou certo que os tomarenses iriam gostar dele.
A palavra é dos militantes do PS!
Caro Leonel:
Concordo consigo num ponto e num só: Os votantes não constituem uma amostra representativa dos eleitores do concelho. Trata-se de uma amostra "apenas" aleatória. No entanto, não lhe parece que 217 eleitores como amostra de 38 mil é muito melhor que os tradicionais 690 da amostra representativa do eleitorado português, que é de milhões?
Sobre o "ferida de asa", escrevi-o apenas como opinião e lamento sinceramente que assim vá suceder, mas é o que temos.
Cordialmente,
Em relação à amostra, e não sendo eu um 'especialista' na matéria, a dimensão só por si (mesmo que em termos proporcionais, face à população total) não será necessariamente garante de maior fiabilidade...
As sondagens 'profissionais' (as que são divulgadas pela comunicação social aquando de eleições gerais) são estratificadas, de forma a reproduzir condições sócio-económicas, escalões etários, sexo, distribuição geográfica, etc., do universo da população (em particular, as sondagens 'à boca da urna' baseiam-se até em "freguesias tipo", que, tradicionalmente têm um comportamento padrão similar ao do universo que se pretende estudar).
Isto dito, eu não contesto a sua opinião, a sua apreciação, a sua "análise política" se assim quisermos chamar (vivendo à distância, não tenho dados que me permitam avaliar / tomar o pulso às tendências locais). O que pretendia frisar é que me parece que este tipo de consulta não será base suficiente para este tipo de extrapolação.
Só a título exemplificativo (e numa comparação à 'outrance'), se recordarmos a eleição dos "Grandes Portugueses", é fácil perceber porque é que Salazar venceu, e Cunhal ficou logo a seguir: porque se formaram grupos mais ou menos organizados, de grande militância, promovendo a 'angariação de votos' nessas duas figuras...
Para concluir, sem tomar partido (até porque, desde logo, nem sequer sou votante inscrito em Tomar...), não tenho o prazer de conhecer pessoalmente nem um nem outro dos mais ou menos putativos candidatos (Anabela Freitas e Hugo Cristóvão), com a 'pequena' diferença de, em relação ao Hugo, ser um 'companheiro de blogosfera' de há já bastantes anos, cuja escrita e ideias vou acompanhando (não obstante à distância, como referi anteriormente), e que me dá o gosto de também ir de alguma forma acompanhando o que neste meio vou escrevendo, já há quase 10 anos...
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