António Rebelo
Aproximam-se as eleições para o Parlamento Europeu, cujos candidatos preferiram falar quase exclusivamente da situação portuguesa. No próximo sábado é dia de repouso, para reflectir. Nada melhor, para ajudar nessa ponderação, do que meditar sobre a descrição que outros fazem de nós. O prestigiado vespertino francês Le Monde enviou a Portugal um dos seus melhores profissionais, Jean-Jacques Bozonnet, que assina uma página inteira daquele diário, na edição datada de hoje.
Julgo que os pequenos textos acima não carecem de qualquer tradução e dão uma ideia daquilo que o jornalista pensa do nosso país.
Na sua peça principal, cujo título figura na ilustração de baixo, o jornalista gaulês descreve detalhadamente a situação laboral portuguesa, com destaque para o caso dos recibos verdes. A dado passo, explica que situação de flagrante ilegalidade é tão evidente, que alguns dos inspectores do trabalho, encarregados de fiscalizar a legalidade dos recibos verdes, estão eles próprios a recibos verdes...
Na impossibilidade prática de traduzir a totalidade do texto principal, optei por publicar a versão portuguesa do outro texto, dado ser bastante mais sucinto, mas ainda assim extremamente interessante. A começar pelo próprio título.
Partido Socialista no poder já prepara derrota nas legislativas de Outubro
"Em Portugal os mortos não votam mas abstêm-se. Demasiado numerosos nos cadernos eleitorais mal actualizados, estes inscritos-fantasma irão engrossar, durante a noite do próximo Domingo, aquilo que os observadores políticos portugueses designam como "abstenção técnica". Pelo menos mais de 10% em relação à abstenção real, habitualmente muito elevada neste tipo de escrutínio. Cerca de um milhão de novos eleitores fizeram a sua inscrição nos cadernos eleitorais desde 2005, aumentando o total do eleitorado para 9,5 milhões, quando afinal a população total, incluindo os 500.000 emigrantes sem direito de voto, não ultrapassa os 11 milhões.
Uma anterior actualização dos cadernos, há dez anos, permitiu eliminar um milhão de falsos eleitores, entre falecidos, duplamente inscritos, emigrados, etc. Está-se mesmo a ver que é urgente efectuar mais uma limpeza. "O próprio sistema encoraja esta abstenção técnica, porque as transferências do governo central para as autarquias são indexadas ao total de eleitores inscritos na área respectiva", disse-nos José Manuel Fernandes, director do PÚBLICO. Segundo ele, porém, a taxa de abstenção não mudará nada naquilo que está em jogo nesta eleição, a poucos meses das legislativas e das autárquicas, ambas programadas para meados de Outubro: "Trata-se apenas de enviar uma mensagem sem ter de assumir os custos", resumiu este jornalista.
O Partido Socialista que governa já sabe que vai perder a maioria absoluta no próximo outono. Desde há dois anos que todas as sondagens lhe vêm prometendo isso mesmo. A crise económica anulou completamente todos os sacrifícios impostos aos portugueses pela política de rigor e de inspiração liberal, conduzida por José Sócrates para reduzir o défice excessivo. Nestas condições, a diferença em relação ao Partido Social Democrata (PSD, direita) será examinada à lupa durante uma parte da noite de 7 de Junho. A subida do PSD de Paulo Rangel nas sondagens, forçou Sócrates a empenhar-se mais do que o inicialmente previsto na campanha para as europeias. "Se o PSD for o partido mais votado no próximo Domingo, podemos vir a assistir a uma dinâmica de enfraquecimento do PS até às legislativas", declarou-nos o sindicalista Carvalho da Silva, líder da CGTP. Sobretudo se as más notícias económicas continuarem a acumular-se durante o verão.
Assim sendo, uma interrogação se impõe na véspera das europeias: Com quem irão os socialistas governar a partir de Outubro? A esquerda da esquerda, que engloba o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (anticapitalista e trotsquista), poderá vir a representar um pouco mais de 25% do eleitorado, mas encontra-se dividida e sem vontade estratégica comum. Pouco interessado em partilhar o poder, estará Sócrates mais à vontade numa aliança com o PSD, ou até com o CDS-PP? O Presidente da República, Cavaco Silva terá já iniciado discretamente algumas consultas, para avaliar as hipóteses de formação de um governo de larga união. "Todos os partidos nos têm sondado, tentando saber como encararíamos a possibilidade de trabalhar no âmbito de um compromisso nacional", confirmaram-nos na CGTP".
2 comentários:
Sendo o motivo os recibos verdes, que o Governo se propôs a "taxar" com 3% às empresas que os usassem, para os obrigar a passar a contrato, reduzindo aí os impostos em 2%, pena é que esteja neste momento suspensa a sua actuação, pela polémica que criou junto dos empresários.
Junto dos empresários e não só. Bruno Graça(CDU) foi dos mais contrários em Tomar contra aimplementação desta medida. Uma medida que visava acabar ou pelo menos reduzir os TRABALHADORES precários - como as dezenas que ele tem a recibos verdes na Gualdim-Pais que preside, contou com a oposição do COMUNISTA Bruno.
Quando se trata de EXPLORAR, patrões e comunistas são areia do memso saco, está visto.
Ora bem, aí é que está! Quando lhe cai a máscara são todos gémeos!
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