sábado, 27 de junho de 2009

CONQUISTADORES E HERDEIROS


OPERADORA DE CAIXA
António Rebelo
Em Teerão, jovens e menos jovens manifestam e arriscam morrer, em luta contra um regime obsoleto. No Brasil milhares continuam a manifestar, alguns a morrer, lutando pela obtenção de terra para cultivar. Em África e na Ásia milhares e milhares passam fome. Em Calcutá, em Bombaím, em Benares, as camionetas da limpeza passam de madrugada e vão recolhendo os mortos dessa noite. Em Portugal, os operários da Autoeuropa chumbam, em votação livre, um acordo negociado pela Comissão de Trabalhadores. Retirava-lhes uma vantagem conseguida no trabalho aos sábados. Um pouco por todo o país, cidadãos que se consideram responsáveis vão aguardando que o Estado, o governo, as autarquias, os políticos ou os patrões lhes resolvam os problemas e lhes tragam as soluções de bandeja. Como aconteceu com a democracia, já lá vão 35 anos...
Aqueles são os conquistadores. Lutam pela vida. Manifestam-se a favor daquilo em que acreditam. Quando não têm cão, caçam com gato. Nunca esquecem que ninguém dá nada a ninguém. Estes são os herdeiros. Aguardam que os outros providenciem. Vão-se queixando privadamente, que isto nunca se sabe. Têm direitos, liberdades e garantias. Deveres? Nem pensar!
Neste contexto e em plena crise, pareceu-nos útil transcrever uma pequena entrevista, suficientemente explícita para dispensar mais comentários. Muito útil para os que ainda sonham com uma vida bastante melhor, mas nada fazem para a alcançar...
"Mesmo se já pendurou a bata há quase um ano, Anna Sam continua a ser "a operadora de caixa". A que revelou o que pensam e vivem aqueles milhares de mulheres atrás das caixas, com as quais só contactamos na altura de pagar.-Há pouco mais de um ano, o seu livro "Atribulações de uma operadora de caixa" (Éditios Stock), já traduzido em 17 línguas, vendeu mais de 100 mil exemplares. Reincide agora com "Conselhos de amiga à clientela" (ig ualmente Stock) uma nova viagem no mundo do comércio, visto desta vez pelo lado dos clientes.
O que é que mudou na sua vida com o sucesso do primeiro livro? -Tudo e nada. Tenho o mesmo apartamento na periferia de Rennes (Bretanha), o mesmo marido e os mesmos cães. Só que agora, quando vou ao Leclerc de Cleunay, onde trabalhei durante oito anos, é apenas para conversar com os meus antigos colegas. Mas ainda sinto muita dificuldade em projectar-me no futuro, em me considerar uma escritora. -Tem um blogue (www.caissierenofutur.over-blog.com ) e já publicou dois livros. Também já há uma banda desenhada, em breve uma peça de teatro e, se calhar, em breve um filme, tudo a partir do seu primeiro livro. Não receia vir a especializar-se no papel de operadora de caixa? -Aqui há tempos, quando estava a pagar o bilhete de autocarro, o motorista disse-me: -Estou a conhecê-la. É a operadora de caixa! E no entanto, há mais de ano e meio que me despedi. Mas realmente não tenho vontade nenhuma de vir a ser catalogada para sempre como ex-operadora de caixa. Neste momento estou em meditação sobre dois projectos de livros que não falarão de caixas registadoras, nem de hipermercados, nem mesmo de comércio. É claro, no entanto, que nunca poderei voltar totalmente as costas à grande distribuição. Afinal, foi graças a ela que consegui chegar onde estou. -Não abordou a crítica social em nenhum dos livros. Foi de propósito? -Se assinei com as Éditions Stock, foi exactamente porque foram os únicos que não tentaram empurrar-me para as descrições miserabilistas. Ao contrário de todos os outros que me contactaram, após o sucesso do meu blogue. Nunca pretendi denunciar as condições de trabalho na grande distribuição. Operadora de caixa não é realmente nada fácil. É desgastante, fisicamente e psicologicamente. E sobretudo é mal pago. Mas há empregos piores. E, contrariamente ao que se diz, os diplomados não são assim tão raros. Eu, por exemplo, tenho um mestrado em literatura francesa e, no Hipermercado Leclerc, onde trabalhava, mais de 25% das operadoras eram diplomadas do ensino superior. -Qual é a sua opinião sobre o trabalho ao domingo ou o desenvolvimento das caixas automáticas? -As pessoas têm de deixar de pensar que somos idiotas. O trabalho ao domingo nunca será feito na base do voluntariado. Vivemos exactamente o mesmo fenómeno com os feriados. Quem trabalha na Páscoa ou no Dia de Todos os Santos, fá-lo porque é obrigado. Ou porque são fortemente incitados pela direcção, ou porque têm necessidade de mais 5o euros ao fim do mês. Mas tenho uma posição mais moderada a respeito das caixas automáticas. Julgo que é uma evolução positiva, que tornará as tarefas menos cansativas fisicamente, permitindo desenvolver o acolhimento, o aconselhamento da clientela, que são naturalmente mais interessantes do que ir simplesmente retirando embalagens da passadeira rolante. Haverá sem dúvida menos operadoras. Mas continuará a haver. E vamos poder enfim chamar-lhes "hospedeiras de caixa", sem usurpar a expressão ao seu significado corrente."

Nathalie Funès, Nouvel Observateur - Tradução e adaptação de António Rebelo

5 comentários:

EXILARCA (da diáspora tomarense) disse...

INFORMAÇÃO.

Na qualidade de EXILARCA da diáspora tomarense com sede algures fora dos limites do concelho, investido do cargo por um núcleo restrito de tomarenses que vivem fora da Cidade Templária, anuncio a criação de um movimento Renascentista para a terra Nabantina que culminará num Encontro em Tomar para "Balanço e Acções a Implementar" seis meses antes das eleições autárquicas de 2013. Outras reuniões poderão ter lugar sem anúncio público.

Não reivindicamos descendência nem patrono; não privilegiamos nenhum credo religioso ou ideário político.

Até lá surgirão iniciativas concretas sem prévio aviso, que irão surpreender. Uma vez por outra poderemos intervir na blogosfera e imprensa tomarense.

EXILARCA (da diáspora tomarense).

Sebastião Barros disse...

Se em 2013 ainda conseguir arrojar o chinelo e a cabeça continuar a nã falhar demasiado, podem contar comigo. Caso não venha atrapalhar, que o falecido António Cartaxo da Fonseca, a quem devemos no essencial a nossa biblioteca municipal, nunca se esquecia de dizer que mais de dois tomarenses juntos já é gente a mais...

Anónimo disse...

Outro!

A blogos tomarense está polvilhada pelos escritos deste, deixem-me rir, exilarca.

Como se Tomar precisasse de chefes e não de líderes.

O pobre patarata confundiu exilarca com exilado, só pode ser.

Anónimo disse...

Coisa de malucos como os malucos que andam por aí.

Anónimo disse...

exilarca