terça-feira, 30 de novembro de 2010

O BENEFÍCIO DA DÚVIDA

A análise política ontem publicada no DN, com o título supra, por João César das Neves, professor de economia na Universidade Católica, contém numeroros pontos com os quais, no meu entendimento, os tomarenses vão ser confrontados em futuras autárquicas, sejam elas quando forem, e quaisquer que venam a ser os candidatos. Parece por conseguinte importante a sua leitura atenta, por todos aqueles que se interessam realmente pelo devir desta terra. Naturalmente terão o cuidado de alterar, quando necessário, os nomes das personagens e/ou dos organismos. Desejo boa leitura.

"O pior na crise actual é a falta de esperança. A decomposição acelerada do Governo põe todos a pensar em alternativas. Mas nenhuma granjeia um mínimo de credibilidade. As coisas estão mal e só se vislumbra que piorem. O mais grave não é o sofrimento. É não se ver saída.
É importante dizer que este desânimo não vem da situação real. As circunstâncias são duras mas claras. Não é difícil saber o que há a fazer. O caminho é exigente mas sem mistérios. Vivemos em décadas recentes situações bem piores de onde saímos bem. E então a desorientação e a desilusão não eram tão grandes como agora. É verdade que a geração actual tem um grau de exigência diferente, sem a capacidade de trabalho e o poder de encaixe dos seus pais. Mas quem não tem dinheiro não tem vícios, e quando não há escolha as condições depressa ensinam a saída.
Mesmo assim, temos de admitir que as dúvidas sobre o sucesso do governo, qualquer que seja, são legítimas e justificadas. Não tanto pela dificuldade da tarefa, ou falta de qualidade dos prospectivos líderes técnicos, mas devido à manutenção de condições que nos enfiam no buraco há quinze anos. Os interesses instalados, direitos adquiridos, bloqueios regulamentares e exigências processuais não mudarão  com a troca de executivo. Os grupos de pressão souberam criar contactos em todos os partidos de poder para proteger as suas benesses. A rede que estrangula a economia, se foi apertada por Sócrates e o PS, pode bem sobreviver-lhes.
Apesar disso, com novos líderes surgirá uma inegável oportunidade que não podemos desprezar. É provável que falhe, mas temos de tentar. Mesmo com políticos maus e sob influência dos lobbies, é possível um executivo diferente chegar onde este falhou. E a prova disso é...José Sócrates.
Quando surgem ministros novos, não envolvidos nas culpas da situação, sem necessidade de justificar erros antigos, livres de compromissos passados e ainda desconhecendo as manhas do poder, existem condições reais para reformas efectivas. Mais ainda se a população, assustada pelas circunstâncias, exige mudanças corajosas e está disponível para suportar os sacrifícios inerentes. E essas condições são em grande medida independentes da qualidade e cor política dos protagonistas. A situação portuguesa de 2005 constitui exemplo evidente.
Já poucos se lembram, mas há cinco anos vivia-se  por cá uma conjuntura paralela à actual. Toda a gente sabia que a crise financeira era séria e só a austeridade nos podia salvar. A culpa ficara com o PSD, que governara de 2002 a 2004, e o recém-eleito governo maioritário PS prometia medidas duras e reformas radicais, que eliminariam de vez o  flagelo do Orçamento. O executivo era composto por políticos implicados na gestão socialista da década anterior, e no falhanço que conduzira à maioria PSD/PP de 2002. Só que, passados três anos, o novo gverno aparecia como inocente, competente e empenhado. Estavam assim criadas as condições para a correcção da crise.
Estes factos são precisamente aqueles que desanimam muitos analistas. Constatamos que esta é a quarta vez, em menos de dez anos, que repetimos o mesmo cenário de crise. Apesar das promessas, as sucessivas austeridades de Guterres, Durão Barroso e duas vezes de Sócrates, mostraram-se incapazes de corrigir a situação. Pior ainda, os políticos futuros vêm da mesma cepa dos que sabemos terem falhado.
Mas dizer isto é esquecer como estivemos próximo de conseguir resolver a questão. Se Sócrates tivesse feito o que prometera, se tivesse querido mesmo controlar o défice, em vez de o tapar com impostos, se a atitude reformista fosse mais do que uma pose, se não se tivesse caído no recuo das remodelações, manipulações mediáticas e trapalhadas boçais, a nossa situação seria agora bem diferente.
As condições que Sócrates desperdiçou em 2005 e 2006 são dificilmente reproduzíveis. Além disso, circunstâncias não bastam. As qualidades dos decisores são cruciais. Mesmo assim é nosso dever, e uma posição realista, dar pelo menos o benefício da dúvida ao futuro governo."

João César das Neves, naohaalmoçosgratis@fcee.ucp.pt DN de 29/11/10, pág. 58, com os agradecimentos de a.frrebelo@gmail.com

6 comentários:

Anónimo disse...

Mais um artigo na linha do bota-abaixo costumeiro do ex.delfim de Cavaco Silva.
Embora bata em todos, no bom estilo de Medina Carreira, JCN acaba por piscar o olho ao próximo governo (PSD?).
Contudo retenho
"... os políticos futuros vêm da mesma cepa dos que sabemos terem falhado"

AA

Anónimo disse...

Embora cheio de verdades e de muitas omisões é um recado,por interposta pessoa,de Cavaco Silva,candidato presidencial.

João César das Neves e um tal de Bento,conselheiro de Estado,são dois telecomandados megafones do Sr. Silva,parafraseando Alberto João.

Não esqueçamos que Cavaco Silva é o PAI do modelo económico que agora,ao fim de 20 anos,se revela e desmorona inexorávelmente.


ANALISTA POLÍTICO DESEMPREGADO

Anónimo disse...

PAROLADA!

Anónimo disse...

Poupe-nos Prof. Rebelo, poupe-nos!!!!!

O César das Neves é um bestunto catolicão com um discurso redondo e enrolado!

É preferível o calinas, que ao menos assume a sua burrice militante!

Anónimo disse...

"João César das Neves e um tal de Bento,conselheiro de Estado,são dois telecomandados megafones do Sr. Silva"

e não esquecer da Opus Dei, à qual os três pertencem, ainda que João César das Neves seja o único que o assuma publicamente.

Anónimo disse...

Só que com "maçons" como Luís Ferreira,a Maçonaria terá mais dificuldade em combater os beatos da Opus.