terça-feira, 16 de novembro de 2010

A VITÓRIA CONSEGUE-SE ESQUECENDO HÁBITOS CONSOLIDADOS


No que diz respeito ao trabalho, temos de esquecer os velhos diplomas e muitos hábitos enraizados

As pessoas continuam a ter em mente uma distinção entre trabalho manual e trabalho intelectual, que em tempos fez sentido, quando de um lado havia apenas operários e camponeses analfabetos e do outro intelectuais humanistas. No entanto, nos nossos dias, que sentido faz dizer que um técnico de implantes dentários tem um trabalho manual, enquanto um empregado  de escritório tem um trabalho intelectual? O técnico enfrenta problemas que representam um verdadeiro desafio intelectual e para lhes responder  tem de recorrer a um saber que exigiu muitos anos de estudo e experiência. O empregado de escritório pode fazer um trabalho de rotina, que apenas pede alguns conhecimentos elementares de uso do computador.
A nossa economia tem uma necessidade desesperada de técnicos bem preparados, E não estão em causa só as profissões tradicionais da indústria, mas também as actividades dos serviços: electricistas, especialistas em sistemas hidráulicos, jardineiros, especialistas em segurança, cozinheiros e pasteleiros, enfermeiros ou técnicos de climatização.
Na verdade, o que hoje é necessário é um saber teórico-prático, mesmo para as coisas mais simples: quem tem uma loja de flores tem de saber  de flores e de plantas, numa loja de tecidos tem de haver quem saiba de tecidos e de fibras, de moda e manufactura de vestuário, numa livraria é preciso saber de livros e de autores, numa loja de computadores é preciso conhecer mais de um sistema operativo para poder ajudar os clientes com problemas concretos.
Por vezes é difícil encontrar técnicos deste tipo. As empresas procuram-nos e não os encontram. Entretanto, muitas famílias e muitos jovens continuam a valorizar o ensino universitário, por darem exccessiva importância ao diploma, e procuram um trabalho intelectual de prestígio. Querem tornar-se  de um dia para o outro escritores, advogados, jornalistas, pivôs de televisão. Finalmente acabam por se ver a concorrer com outras 10 mil pessoas, para cinco lugares de polícias de trânsito, ou de funcionários públicos.
A principal causa de tudo isto está na própria distinção entre trabalho intelectual e manual, que é feita logo no ensino. De um lado continuam a fazer-se cursos universtários sem qualquer relação com a realidade. Do outro fazem-se cursos profissionais sem suficiente aprofundamento teórico. O que é necessário é proporcionar uma formação de nível teórico elevado, mas aplicada às coisas concretas. Deve estudar-se trabalhando com casos reais, sob a orientação de bons professores, com a consciência de que no fim serão exigidos resultados.
 O desafio da concorrência global não pode ser enfrentado apenas com alquimia económica. Temos de acordar, de pôr as fantasias de parte, de esquecer hábitos enraizados, e olhar a realidade de frente, como fizemos no pós-guerra, quando em poucos anos saímos da miséria, ou como fez a China e está agora a fazer o Brasil.
Precisamos de força vital, mas também de rigor e de determinação.

Francesco Alberoni, sociólogo e jornalista italiano, jornal i, 16/11/10, página 4.
O negrito é de Tomar a dianteira.

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