sexta-feira, 19 de novembro de 2010

VÍTIMAS DA CRISE, OS GREGOS RESIGNAM-SE

REPORTAGEM

"Até o Parténon de Atenas padece com a crise grega? Desde meados de Novembro, o acesso à colina da Acrópole encerra às 15 horas. "Por causa das reduções de pessoal", informa Giorgia Evange. No fim do Outubro foi despedida, ao mesmo tempo que um centena de contratados do Ministério da Cultura, após sete anos a guiar e a vigiar os turistas, procurando que não degradem as ruínas da antiguidade clássica. "Agora há tão poucos guardas na Acrópole que qualquer turista pode levar um pedaço de mármore de recordação, sem ser visto."
A preservação da Acrópole deixou porém de constituir a sua principal preocupação. Agora tem de procurar sobreviver, com os seus dois filhos pequenos. Ganhava 850 euros mensais. Agora vai receber metade, como subsídio de desemprego, durante um ano. "E depois acabou-se", murmura desanimada.
Problemas humanos como o de Giorgia vão aumentar exponencialmente, tal é a gravidade da crise económica e financeira em que a Grécia está mergulhada. Savas Robolis é já uma das vítimas. Professor catedrático de economia na Universidade de Atenas, desde 1970, já sofreu, tal como todos os funcionários públicos, uma redução de vencimento. Desde Julho passado pagam-lhe apenas 2.600 euros, em vez de 3.200 até então. 
No sector privado, os salários não sofreram qualquer alteração, mas a precaridade é agora uma regra. "O salário mínimo era um patamar, agora é um tecto", afirma Robolis, igualmente director do Instituto do Trabalho, um centro de estudos ligado a um sindicato próximo dos socialistas do Pasok, actualmente no poder. Os jovens de menos de 26 anos são as primeiras vítimas. Por mais diplomas que tenham, são contratados por 534 euros mensais, num país onde o custo de vida não é nada barato.
Na vasta reforma das regras que governaram a Grécia durante decénios, ninguém escapa ileso. "Sob recomendação dos nossos credores externos (BCE e FMI), o parlamento prepara-se para votar uma lei que autorizará as empresas a denunciar os acordos colectivos de trabalho, sempre que os considerem demasiado constrangedores. Alguns patrões já estão a aproveitar, antes mesmo da aprovação da lei", assegura-nos Roboli.
Toda a Grécia treme com a crise. "O imobiliário novo já baixou 30%", na opinião de Michael Hatsios, director de um atelier de arquitectura, que se ocupa igualmente de promoção imobiliária. Desde há quase très anos que a sua empresa não consegue levar a bom porto um projecto de milhares de metros quadrados no Pireu, nos arrabaldes de Atenas, por falta de apoio bancário.
Mesma melopeia no turismo. Tal como o seu avô e o seu pai, Antonis Skiathas é dono de uma taberna típica onde trabalha um pequeno exército de criados de mesa. Garantiu-nos que desde o início da crise, na primavera de 2009, os atenienses deixaram de frequentar os restaurantes e os turistas são cada vez mais raros. "Os meus apuros diários baixaram entre 30 e 40%", lamentou-se.
Para aceder a estatísticas mais desesperantes umas que as outras, Vassilis Kordikis é a pessoa ideal. Presidente da Confederação Nacional dos Comerciantes Gregos (agrupamento patronal, que reúne um terço das empresas do país), apressa-se a alinhar-nos os maus indícios: 20% das lojas já fecharam, o desemprego aumenta inexoravelmente, podendo vir a atingir, segundo estimativas, 15%  da população activa em 2011. Enquanto isto, os impostos aumentam e as pensões de reforma diminuem... "Dentro de um ano a máquina económica estará completamente parada", prognostica este militante pessimista. Ou realista?
Nos estaleiros de reparação naval de Perama, próximos do Pireu, já está quase tudo parado. Porque à política de austeridade do governo veio juntar-se neste caso a crise resultante da globalização do transporte marítimo de mercadorias. A nova redistribuição de jogo obrigou a frota comercial grega -a maior do mundo- a abandonar Perama e optar pelos estaleiros navais turcos ou chineses, muito mais competitivos. Dessa evolução negativa resulta esta atmosfera de tristeza que nesta manhã de Novembro paira sobre os cais intermináveis, agora bem menos animados que no passado.
Não que os trabalhadores se tenham ido embora. Continuam por ali, mas agora aos magotes no único café da zona, à espera que apareçam empresários à procura de mecânicos, de soldadores ou de pintores. Para passar o tempo, vão fumando e bebendo entre homens, enquanto falam alto sobre um mundo que está a desaparecer e acerca das dificuldades da vida de todos os dias.
Um deles, Manolis, falou-nos dos magros 17 dias de trabalho conseguidos desde Janeiro, dentro de pouco tempo insuficientes para conseguir o reembolso dos medicamentos. Um outro, Kostas, insurge-se contra os bancos que todos os dias lhe vêm reclamar prestações em atraso. Um terceiro, acusa o Estado de pretender acabar com os estaleiros de Perama...E assim se vão passando os dias, semana após semana, mês após mês.
A Grécia inteira sofre com a crise e, no entanto, apesar da violenta purga administrada pelo governo socialista de Papandréou, não há revolta generalizada. Porquê? Porque existem amortecedores sociais, que vão atenuando, por enquanto, a dureza dos novos tempos - O recurso à família, em caso de dificuldades financeiras, ou a prática corrente de um segundo emprego. Além da cada vez maior importância da economia paralela. Exactamente a que o estado grego procura suprimir."

Jean-Pierre Tuquoi, enviado especial do jornal Le Monde
Tradução de António Rebelo

12 comentários:

Anónimo disse...

Pela primeira vez visitei hoje o mercado abarracado de Tomar, nascido do assassinado Mercado Municipal.
Realmente tenho de confessar que está muito bom para uma aldeia aciganada e sem nível como este esterco de terra agora é.
Continuemos a venerar a cáfila de pulhas está na câmara.

Anónimo disse...

Sobre a resignação da população face às dificuldades económicas:
-O povo percebe que havendo tantos a roubar num país pequeno(como disse Ferraz da Costa)o dinheiro não dá para tudo;
-Com metade do País aposentado (só os que têm menos de 65 anos são já quase 2 milhões)boa parte dos impostos estão cativos e sem retorno. E as aposentações até estão a ser incentivadas no Estado;
-A economia paralela (trabalho ou serviço sem factura) deve "compor" muito rendimento familiar;
-A geração anterior, em regra aforradora, ajuda hoje ou, tendo falecido, deixou um pé de meia bancário em uso na actualidade...
-Deve restar ainda, nas periferias das cidades, a receita da especulação dos terrenos rurais porque onde havia couves, passou a haver prédios de 20 ou 30 apartamentos ou vivendas com "pixina"...
Por isso, a economia tem razões que a razão desconhece e a crise é sobretudo para os que "andam de metro" logo às 7 ou 8horas da manhã!
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Talvez um dia a Europa compreenda que foi um erro pensar que a evolução natural seria substituir o emprego industrial pelo emprego nos serviços.

Anónimo disse...

Doutor Rebelo, sou um tomarense e fico muito espantado com a cidade de Tomar e o seu futuro, mas penso que isso já mais que falado, e muitas vezes repetido. Mas o que me espanta mais são as homenagens/estátuas a individualidades desta terra. Eu penso que em outros municípios não deve existir tantas homenagens como em Tomar. Temos uma sensibilidade muito tomarense, temos uma sociedade tomarense muito podre. Estão duas estátuas junto ao estádio. Um deles é o senhor Nini Ferreira, o outro um Musico chamado Lopes-Graça. O primeiro gostava de saber o que fez ele por Tomar. Escreveu uns livros sobre Tomar, certo, dizia mal todos os tomarenses e para aqueles que vinham de fora para ficar,certo. Merece uma estátua??
O outro um musico, reconhecido internacionalmente, teve uma carreira musical produtiva. Por certo não devia ser um senhor muito abunado financeiramente, quando lhe pediram um hino para Tomar, ele pediu um orçamento digno de rejeição. Para não falar que o seu espólio não foi dado a Tomar.
A outra para mim, é o nome atribuído à Biblioteca Municipal de Tomar. O que fez Cartaxo da Fonseca por Tomar?
Depois, as constantes propostas de homenagens que são discutidas nos paços do concelho. mais haveria para apontar. A minha posição é de espanto.Chego a uma conclusão: a cultura Tomarense cada vez está pior, estes tipos de homenagens que são feitas e estátuas que são feitas são um escape da má gestão da cultura que se faz, e também um reflexo da mentalidade Tomarense, que é imposta pelos ditos senhores cultos da cidade de Tomar. Esta questão de homenagens/estátuas vai abrir um precedente de que vai ficar muito tomarense que merecer, vou repetir: MERECE UMA HOMENAGEM, não vai poder ter.E existe pessoas que merecem uma verdadeira homenagem/estátua e não são devidamente reconhecidas. Talvez daqui a uns anos, as novas gerações façam uma "perstroika" tomarense e sucumbam com a mentalidade dos tomarenses pelos ditos vultos tomarenses.Penso as pessoas que merecem a devida homenagem/estátua, não a tem nem querem ter. Eu sou uma pessoa na flor da idade, e estudo, não estou aqui a querer homenagens, gostava mais que o meu municipio desse atenção à sua situação financeira, económica, social, e em especial se pudesse existir uma reforma mental no tomarenses, seria óptimo.
Venho a este espaço, para observar as observações de quem escreve aqui sobre Tomar. Confesso que não são muitas vezes, mas sempre que posso venho,pois gosto muito de vir, é um blog muito "limpo" (tirando alguns comentários) o que o autor escreve é um discurso correcto. Não vou revelar quem sou, não por uma questão de cobardia, mas sim por alguma represália. Talvez um dia possa me confessar a minha identidade a quem escreve(porque bem merece).

Anónimo disse...

Quando o governo de José Sócrates cair e a Assembleia da República for dissolvida,QUANTOS "boys e girls" DO PS DE TOMAR FICARÃO DESEMPREGADOS ?

Alguém sabe responder?

Dão-se alvíssaras!

Anónimo disse...

Mas quem se julga este "bébé" que tem o arrojo de vir enxovalhar tomarenses de que não conheceu a personalidade,a acção,a obra,a coragem de não serem servis?

Vá mudar de fralda e por pomada no rabinho...

Anónimo disse...

Um gajo não pode dar a sua opinião porque os velhos do Nabão o mandam logo passear ? Vá você mudar de fralda, porque cheios de pessoas como o senhor andamos nós ! A sua geração é que colocou Tomar nesta situação. Ganhe juízo e dedique-se à pesca. Estou totalmente de acordo com o jovem que escreve sobre a aberração das homenagens.

Anónimo disse...

Diga isso tudo,mas não se esqueça de fazer a saudação romana e tecer as habituais loas ao neo-fascista PNR.

O seu agastamento perante HOMENS como Nini Ferreira ou Lopes-Graça é paradigmático da sua postura de salazarista saudoso.

Vá curtir mágoas até ao Vimieiro...

Anónimo disse...

Daqui fala o "bébé" para os senhores ditos bem formados de Tomar.A pequenez do discurso repara-se em varios sentidos. 1º quando fala de uma utopia muito tomarense, ao dizer "a personalidade,a acção,a obra,a coragem" eu penso que estas caracteristicas possam ser encontradas na estátua que se encontra no centro da praça da répulbica. A 2ºé mais triste, parece que há pessoas na sociedade tomarense intocáveis e não se pode ter uma opinião, e apontar o que quer que seja ás ditas pessoas importantes, quando na verdade essas pessoas nunca fizeram nada por esta terra, na minha modéstia opinião. Muitas delas souberam passearem-se pelas ruas da cidade apontar defeitos mas não encontrando soluções. Fizeram-se evidenciar em acontecimentos, mostrando a sua presença, com o objectivo de se destacarem e serem eles os rostos e não Tomar e os tomarenses, é típico em Tomar. A cidade das falsas aparências.Quem faz algo por Tomar não é reconhecido, e quem sobe ás custas da fraca cultura e sociedade tomarense são erguidas estátuas.Para acabar, não sou do tempo do Estado Novo, e não partilho de ideiais fascistas, sou um jovem que como muitos foi estudar para fora, e como também muitos jovens tomarenses não vê a sua vinda para Tomar depois dos estudos. Porquê? Porque a sociedade tomarense continua a gostar de viver das aparências e das homenagens, e esquece-se do progresso e do futuro que Tomar tem que proporcionar aos tomarenses e para que se torne uma cidade de refência.

Anónimo disse...

Seu "bébé",

Não misture alhos com bugalhos.
Você andou a estudar,segundo diz,mas apenas adquiriu instrução.
Tomou a cultura com um garfo,no lugar da colher.
Depois, a ignorância e a estupidez são sempre muito atrevidas.
Não fale do que não sabe,a bem da salubridade social.
Você ainda estava em ante-projecto quando Nini Ferreira e Lopes-Graça já eram HOMENS com H.
E agora vem armar-se em "cócó",em parvo encartado,a escarrar sobre o que lhe dá na real gana.

Vá-se catar dessa piolheira mental e não venha conspurcar quem não deve.

Se está justamente revoltado por não encontrar oportunidades na nossa terra, atire-se às políticas e aos responsáveis políticos da situação.

Não dispare contra aqueles que nunca abdicaram da cidadania e que lhe deviam servir de exemplo.

Nunca de bodes expiatórios!

Anónimo disse...

As ofensas verbais neste discurso são tão rídiculas como quem as escreve. E quem a escreve denota-se que não tem formação cívica. Eu não sou moralista, e até me sinto mal em dizer a uma pessoa com mais anos de vida do que eu, que não se sabe comportar, e não sabe ter maneiras, utilizando formas verbais pouco correctas dignas de quem não tem a miníma classe de Homem. Esse tipo de discurso é próprio de quem não tem argumentos plausíveis, ainda não me apresentou nada, até agora foi só ofender.Ofensa como esta, é de pessoas mesquinhas, baixas, e muito provavelmente na sua tenra idade não teve formação. Com isto me fico, e não vou responder a estes "senhores" ditos defensores de Tomar, que só sabem ser mal educados. Continuo isso sim, à espera de argumentos dignos.

Anónimo disse...

Felizmente que há certas vozes que não chegam ao céu...