domingo, 28 de novembro de 2010

QUALIDADE, ESSA GRANDE ESQUECIDA

Pouquíssimas coisas acontecem por acaso, e ainda assim resultam de uma conjunto de factores, tal e qual como se tivessem sido planeadas. Por conseguinte, a qualidade lato senso daquilo que se pretende, ou acontece, é sempre o resultado da qualidade dos diversos factores desencadeantes, quer estes sejam (aparentemente) espontâneos ou induzidos por mão humana.
Para que não haja grandes dúvidas logo de início, comecemos por um caso bem conhecido -o da falta de preparação dos portugueses em geral, provocada por falta de preparação prévia, esta por sua vez causada por falta de informação, uma vez que, como é sabido, aprender é tornar conhecido aquilo que antes se ignorava. Justamente no caso da informação, o panorama português não é mesmo nada animador, havendo naturalmente uma justificação plausível para cada caso, o que não ajuda nada. Na imprensa local e regional é a falta de meios materiais e humanos, bem como a pressão dos anunciantes, sobretudo os intitucionais. À escala do país, raramente alguém o disse tão bem e de forma tão sucinta como Baptista-Bastos, homem da informação assumidamente da extrema-esquerda e sem medo de dar conta da realidade envolvente. Eis o seu ponto de vista mais recente: "A imagem de Portugal é-nos devolvida pela Imprensa que temos. Uma Imprensa acrítica, preguiçosa, tendenciosa e sempre, ou quase sempre, favorecedora de quem está no poder -ou para lá caminha." (Baptista Bastos, Jornal de Negócios, 26/11/10). 
Bem entendido, o carapuço serve a quem serve, carapuços há muitos, e fico-me por aqui sobre este aspecto, para não beliscar ninguém em vão...
Nesta área da qualidade, que implica sempre o trinómio qualidade/preço/utilidade, temos em Tomar abundantes exemplos para ilustrar a nossa crónica e confrangedora falta de qualidade, a todos os níveis e em todos os sectores. Desde logo no principal dos factores de desenvolvimento económico de uma comunidade -o empreendedorismo. Habituado a viver graças à teta estatal, directamente ou por intermédio de serviços locais, o tomarense continua a acreditar, apesar da evidente agudização da crise local, que Deus Nosso Senhor tem lá muito para nos dar, basta saber estender a mão e esperar. Poderá ser verdade, tudo depende do que se entenda por "basta saber estender a mão". Em todo o caso, empreender, arriscar, ousar, empenhar-se, inovar, aprender, sempre foram e são verbos muito difíceis de usar pelos nabantinos. Falta de qualidade na área da língua pátria, sem dúvida. Pelo menos...
Não espanta por isso que, para termos enfim um estabelecimento de venda de produtos especificamente para turistas no casco histórico, tenho sido necessário recorrer a uma associação de desenvolvimento regional, fundada e sediada alhures, impulsionada e mantida por fundos de Bruxelas. Estou a falar da "Loja do mundo rural", ali na multi-secular Rua Direita. Aquela que uma antiga cantilena do século XIX situava assim: "Avé Maria cheia de graça, a Rua Direita vai ter à Praça." Pois esse estabelecimento, explorado pela ADIRN - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte, com sede em Torres Novas, é irmão de um outro, instalado no Convento de Cristo, em dependências anexas aos claustros da Hospedaria e da Micha, fazendo concorrência à "Loja Conventual", explorada pelo IGESPAR no salão vestíbulo da Portaria Norte.
Nessas lojas, a qualidade deveria ser a preocupação dominante, quanto mais não seja porque turista descontente não volta e incita outros a não virem. E não há nada pior para um turista (falo por experiência própria) do que sentir-se enganado, defraudado nas suas legítimas expectativas. 
É por isso caricato que numa loja amparada por uma grande organização regional, por sua vez sustentada por Bruxelas, se venda aos visitantes gato por lebre, como exemplifica a ilustração. Aquelas cruzes vermelhas das canecas, inscritas num quadrado imaginário, são de que ordem de cavalaria ou outra? Alguém me sabe explicar? E porque terão a inscrição Tomar, por baixo da dita cruz?
Não tem importância? Pois, se calhar não. Mas é pena, pois com atitudes desse jaez apenas vamos contribuindo para abandalhar cada vez mais este país. Basta pensar em todos aqueles que, para se justificarem, usam logo a estafada frase feita "Para o que é, bacalhau basta!" Ao preço a que agora se compra o fiel amigo escandinavo, não será bem assim...
Num outro âmbito, a Rotunda das Obras de Santa Engrácia, obedeceu a que normas de qualidade? A ideia inicial foi uma desgraça; o projecto uma lástima; a execução uma miséria; o resultado é patusco. Só os jactinhos de água e o artificial nevoeiro central  vão custar aos contribuintes pelo menos 200 euros = 40 contos mensais de manutenção. E estarão operacionais durante quanto tempo? Em princípio, se o Lavoisier não mentiu, "As mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". A ser assim, mais cedo que tarde vamos ter outra vez entupimentos e mais entupimentos, provocados pelo calcáreo da água. Vai uma aposta?
Mas além do carácter redundante dos jactinhos de água, geralmente usados para refrescar a atmosfera no Verão, e por isso despicidendos sem remédio, posto que ao lado do rio, há toda aquela labiríntica ornamentação floral e arbustiva. Quem irá manutencionar tudo aquilo? A que preço? Teremos mesmo ficado bem servidos em termos de Qualidade/preço/utilidade?
Qualidade, essa grande desconhecida, que tantos desgostos nos provoca e tanta falta nos faz! Sobretudo na política e...na economia política.



1 comentário:

Anónimo disse...

Baptista Bastos alguma vez foi um homem de extrema-esquerda ?

Só que não o conhece,nem procurou informar-se,poderá fazer uma afirmação tão tôla e afastada da verdade.

Só o preconceito e uma macarrónica "máquina de etiquetar" podem suster esta mirabolante tese do Sr. Dr. Prof. António Francisco Rebelo.

É por esta, e por muitas outras parecidas, que as pessoas mais informadas e esclarecidas não lhe dão crédito que não merece.

Por isso,porque está a começar a ficar sem verniz,a participação neste seu blog é cada vez menor e,tendencialmente,de menor qualidade.

Você não avalia os comentários dos seus leitores em função do que argumentam nas suas ideias e opiniões mas,tão só,pelo que cosidera ser ou não um ataque pessoal ao ego gigante da sua iluminada pessoa.

Henrique Carvalho