1 - Quase sem nos apercebermos, caminhamos de forma acelerada rumo a uma sociedade de pensamento débil. Pensar é muito complexo, exige treino e recursos. Usar ideias alheias e frases já feitas é muito mais fácil.
2 - Até eu fui nessa onda, sem me dar conta. Arrastado pelos jornais, pela TV e pelas conversas de rua. Havia um coincidência. As Europeias não tinham nada a ver com a política interna, pelo que os socialistas podiam muito bem vencer, apesar de tudo. Só Pacheco Pereira, que eu saiba, é que ousou afirmar que as eleições para o Parlamento Europeu eram afinal e também uma sondagem gigante, com amostragem real, sobre as legislativas e as autárquicas.
3 - Houve também os habituais entendidos, que afirmaram já terem previsto desde há muito o que veio a ocorrer. Mas esses não contam. Fazem parte daquele conhecido grupo dos prognósticos só no final dos jogos, que por assim procederem nunca se enganam.
4 - Divulgados os resultados eleitorais, fiquei algo perplexo. Imediatamente escrevi que me enganara, para logo a seguir ir perscrutar atentamente os dados oficiais do escrutínio. As conclusões a que cheguei são tão contra a corrente, que decidi torná-las públicas, com o essencial da respectiva fundamentação.
5 - A primeira conclusão a que cheguei foi que, afinal de contas, os votos nas europeias são influenciados sobretudo por questões internas, tanto nacionais como locais. Se assim não fosse, como explicar os resultados positivos do Bloco de Esquerda, da CDU e do CDS? Alguém pensa seriamente que foram consequência da actuação dos respectivos deputados em Estrasburgo? A esmagadora maioria dos eleitores nem sequer sabem onde é que isso fica, quanto mais agora o que se lá passa com meia dúzia de parlamentares, entre os mais de 700 do Parlamento Europeu.
6 - Outro tanto aconteceu, pela negativa, com o PS e o PSD. Ambos baixaram, embora um muito mais que o outro. Por causa do mau trabalho anteriormente desenvolvido pelos seus eleitos no já referido areópago europeu? Alguém ousará sustentar semelhante hipótese?
7 - Sendo, por conseguinte, evidente que as várias forças partidárias foram, consoante os casos, premiadas ou punidas pelos eleitores, em função do trabalho político desenvolvido no país, entende-se perfeitamente o que aconteceu ao PS. Pagou pela natural erosão do poder, pelas políticas impopulares mas quiçá necessárias, bem como por uma certa arrogância.
8 - Mas como explicar o sucedido ao PSD, que não só não conseguiu aproveitar o considerável e inesperado descalabro dos socialistas, com até acabou por perder alguns votos, não logrando ultrapassar os resultados de há quatro anos, quando José Sócrates obteve a maioria absoluta?
9 - No quadro distrital, sendo verdade que o PS baixou consideravelmente em todos os concelhos, como justificar que o mesmo tenha ocorrido com os social-democratas, que apenas conseguiram subir um ponto percentual na Chamusca?
10 - Mais curioso ainda, e argumento decisivo para apoiar a hipótese segundo a qual os eleitores votaram em função da política nacional e local, o PS teve perdas superiores a 20 pontos percentuais em 12 concelhos do distrito, oito dos quais com autarquias de maioria socialista. Em Tomar, com uma autarquia PSD, baixou 19% em relação a 1999.
11 - O mesmo aconteceu com o PSD, cujas maiores descidas se verificaram em concelhos laranjas. Perdeu 17% em Ourém, 12% em Ferreira , 10% em Tomar. Nos restantes concelhos, as perdas foram inferiores a 10%. Não desgastado pela acção governativa, o PSD averba assim um resultado global que mostra claramente a pouca cionfiança do eleitorado, que preferiu ir para os extremos do tabuleiro político
12 - Perante tudo isto, torna-se claro que os socialistas já pouco ou nada poderão fazer a nível nacional, até às legislativas. A ansiada maioria absoluta é, a partir de agora e salvo imprevisto, uma miragem. Tal como é certa a derrota nas legislativas, faltando apenas apurar a gravidade do previsível desastre. Isto porque, quaisquer que sejam as medidas que o governo decida tomar e implementar, é já demasiado tarde para poder vir a beneficiar dos eventuais resultados favoráveis.
13 - Outra é, no meu entender, a situação a nível local. Como já referi em post anterior, baixar 19% em relação a 1999, num concelho cuja câmara PSD é alvo de forte contestação, está muito longe de ser brilhante e não augura nada de bom. Todavia, se houver coragem, honestidade, realismo e agilidade política, nada está perdido por enquanto. E mais não digo, que para bons entendedores...
14 - Afinal até é legítimo pensar que pode muito bem não interessar aos socialistas locais, ou pelo menos a alguns deles, ganhar a Câmara. Com bem se sabe, a política tem por vezes razões que a razão desconhece, sendo certo que é sempre bem mais fácil puxar cordéis do que administrar a coisa pública...
10 comentários:
Tem piada! A maioria dos slogans a que os portugueses já e habituaram é: "NUNCA BAIXAMOS OS PREÇOS"
Relativamente ao ponto 1 fala por ti ó burgesso.
HAVEREM
Arre porra; o homem não desiste!...
O dr. no seu distinto, e como se observa, aperfeiçoado pensar, ainda não reparou que as europeias são cadáver enterrado!....
Só o não são para aqueles que, fazendo de conta que vão defender os reais interesses de alguns que os elegeram, estão a cogitar e a rir, (mais uma vez) com os camiões-tir carregados de euros, que vão transportar de Bruxelas, ou lá de onde seja, para as suas contas pessoais;(pessoais sim , não é lapso....)
o resto são cantigas, ia a fugir-me a pena para, de escárnio e mal dizer….(mas só movidas pela inveja dos que, metidos nessas andanças o não conseguiram)!...
O que calha, agora, como o Sr. com inteligência contagiante pressagia, é preocuparmo-nos e apontarmos baterias para a coisa autárquica;
de lá, porventura, ainda poderemos e teremos de certeza as grandes candeias para brilharmos e in€harmos…
Mobilize-me esses jovens dr.;
ponha o Luisito mailo Zezito a pensarem direito, e lá para 2013 o Sr. mais eles continuarão ainda a ter a mesma matéria para falar…
sejam positivos que, aos meus, basta “nunca baixar os braços”….
o companheiro
Há algo em comum entre as eleições europeias e as autárquicas em Tomar: um erro de casting em todas as forças candidatas! Ah! E muita incompetência demonstrada, que desmotiva a maioria dos votantes!
Porque as eleições de 1999?
por terem sido as ultimas do seculo passado?
porque não comparar com as primeiras da democraçia em 1975?
ou então as ultimas da ditadura?
Eleições para a europa foram muito depois dessa data e sao essas que sao comparaveis, nao comparemos meloes com nesperas!
Nao adianta puxar o lustre ao cagado, o ps foi penalizado, e bem encavado tendo o PSD ganho.
contra factos nao ha argumentos.
A falsidade, a falta de seriedade que pontifica nos boys do PS e cada vez mais descarada.
Para bom entendedor basta....
Para muita gente as europeias foi uma refeição de difícil digestão.
E então há que tomar um "digestivo" que aqui e na práctica assume a forma de textos e mais textos, reflexões e mais reflexões, uma espécie de exorcismo.
Para o anónimo que afirma que "Não adianta puxar lustro ao cágado."
Para conste, aqui declaro, mais uma vez, que não sou filiado no PS, de onde saí em 1983. Poderei ser socialista não filiado, mas apenas isso. Igualmente certifico que ninguém me encarregou de defender o PS ou os socialistas locais, coisa que aliás nunca aceitaria,como nunca aceitei. Há muito que estou habituado a pensar sempre pela minha cabeça, que pode não ser de primeira qualidade, mas é minha e a única que tenho.
Quanto à comparação com 1999, a explicação é simples: em termos de estatísticas, quanto mais recuo melhor. Ora acontece que, contrariando o que afirma, as eleições de 99 também foram para o Parlamento Europeu, e dez anos é melhor para comparar do que cinco. Ou não lhe parece?
De qualquer maneira,tenho aqui ao meu lado os elementos comparativos referentes a 99/04, e devo dizer que o PSD perdeu votos em todos os concelhos do distrito, entre um mínimo de 1%,em Ourém, e um máximo de 9%, em Ferreira do Zêzere. Como pode ver, o mal já vem de longe, só que desta vez o PS levou um sério trambolhão, o que permite aos sociais-democratas aparecerem como vencedores, quando afinal continuam a perder eleitorado, mesmo quando não estão no governo, o que é grave.
Saudações cordiais
António Rebelo
(Os resultados estão disponíveis em http://www.eleicoes.mj.pt/europeias 2004/CP/D14/CO2.html)
Dr, não esperava isto de si. Seja rigoroso por favor, senão vejamos. O resultado que afirma ter sido alcançado emm 2004 pelo PSD efectivamente n-ao o foi! Quem concorreu foi uma coligação PSD/CDS denominada Força Portugal. Se agora somar os resultados do PSD e do CDS o resultado foi superior! Verdade ou mentira?
E já agora - aplicando este resultado a um cenario de autarquicas teriamos o seguinte executivo: PSD - 3; PS - 2; BE - 1; CDS -1.
É assim ou não é?
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