RESPOSTA A ALGUNS LEITORES

Será certamente deformação profissional. Só pode. Após tantos anos. Seja ou não, aqui vão alguns esclarecimentos, para duas amáveis criaturas (ou será só uma e a mesma?), muito irritadas com determinadas afirmações aqui feitas. Com um humilde pedido prévio muito bem intencionado: Se por acaso descobrirem onde se vende tolerância, não hesitem e comprem uma boa dose. Não é que precisem, para já. Mas com o tempo e as vicissitudes da vida... Costuma dizer-se que candeia que vai à frente alumia duas vezes. Oxalá seja o caso.

Numa das referidas intervenções, naturalmente anónimas, por ser nitidamente mais corajoso, escreve-se este belo, distinto e erudito português: "Inesperada derrota do PS? Arre porra que és burro." A excelsa prosa continua, terminado até a perguntar se aqui no blogue não estaremos catatónicos. Adiante. Conforme dizem os psicólogos, regra geral as interrogações têm mais a ver com os respectivos autores do que com os interpelados. É a vida...

Respondendo à amável e implícita pergunta, aí está uma resposta possível, na ilustração inferior, retirada do habitual "Le Monde" de hoje. Mesmo quem não consiga ler francês com correnteza, não terá qualquer dificuldade para compreender a parte final da notícia reproduzida: "O partido socialista do espanhol José Luís Rodriguez Sapatero foi vencido (por 4 pontos) e o do português José Sócrates enfrentou uma inesperada derrota." Para usar o estilo do leitor interpelante: Arre porra que estes jornalistas do "Le Monde" são burros. Deve ser por isso que só vendem 500 mil exemplares por dia...

Outro leitor, igualmente agastado, pelo que poderá até ser o mesmo já referenciado, não gostou que os antes aqui apodados de "animadores de bancada", tenham depois passado a ser designados por "extrema esquerda". A ilustração mais acima, igualmente retirada do "Le Monde" de hoje, mostra a composição previsível do futuro Parlamento Europeu, de acordo com os resultados das eleições agora celebradas nos 27 estados membros da UE. Da esquerda para a direita, temos: 31 Esquerda Radical, 182 Sociais-democratas, 48 verdes, 80 Liberais-democratas, 296 Conservadores, 53 Soberanistas, 20 Populistas e 17 Diversos.

Perante o que antecede, como havemos de chamar aos 3 deputados trotsquistas portugueses e aos dois comunistas ortodoxos, dado que previsivelmente irão integrar o pequeno grupo da "Esquerda radical"? A não ser que os 2 da CDU queiram integrar-se nos Soberanistas, uma vez que também defenderam a soberania durante a campanha eleitoral, passando assim a fazer parte da extrema-direita do parlamento. É certo que também há o grupo dos Verdes, que seria o ideal para o PEV, mas o pior é que o seu líder, Cohen-Bendit, escaldado desde o Maio de 68, não quer lá "melancias". E depois há o problema do PSD, cujos deputados terão de integrar o grupo dos Conservadores, ou o dos Liberais-democratas. Nos "Sociais-democratas", que seria aparentemente o mais indicado, nem podem pensar. Estão lá os socialistas do PS e do PSOE, entre outros, que não admitem intrusos.

Como se constata, o mundo é muito grande, a política muito complexa e as relações humanas muito complicadas. Tudo razões mais do que suficientes para pensar pelo menos duas vezes antes de escrever aquilo que nos agrada, mas que a outros poderá parecer um mero conjunto de insanidades. É certo que o anonimato protege de muita coisa, mas não dos problemas de consciência e dos pesadelos. Se calhar é por isso que os chineses, herdeiros de uma civilização várias vezes milenar, costumam escrever: "Se tem remédio, porque te queixas? Se não tem remédio, para que te queixas?" Haja saúde!