quarta-feira, 24 de junho de 2009

TURISMO, ASNEIRAS E TRIVIALIDADES


António Rebelo
Como provavelmente alguns outros cidadãos telespectadores, aguardei com expectativa favorável o recente programa da RTP 1 Prós e Contras. Afinal não é todos os dias que temos a possibilidade de seguir um programa intitulado, desta vez, Portugal - Um novo turismo, com cerca de três horas de duração. O local escolhido -as minas de sal-gema de Loulé- pareceu-me algo insólito, mas ainda assim aguardei sem sobressaltos. Erro meu. Logo a apresentação, com as costumeiras vistas aéreas e os comentários ditirâmbicos, deu o tom do que iria seguir-se.
Num programa com tamanha duração, o normal seria que estivessem presentes convidados de todos os sectores integrantes do tema em discussão. Pois não senhor. Apenas o ministro da economia, o secretário de estado do turismo, meia dúzia de hoteleiros, três ou quatro donos de restaurantes, um cozinheiro, o director do Centro nacional de formação hoteleira e três ou quatro presidentes de câmara. Todo especialistas altamente qualificados em turísmo, como se calcula. Havia também o presidente da Academia Internacional de Gastronomia, um espanhol, e o presidente da Organização Mundial de Turismo, um francês. Economistas, sociólogos, geógrafos, agentes de viagens, operadores, acompanhantes, transportistas, guias, certamente só teriam vindo empatar. Por isso não estava lá nenhum.
Da longa série de intervenções, recheadas de trivialidades, destaque para a alusão ao "turismo de qualidade", o que mais nos convém, de acordo com todos os intervenientes nacionais. Que nem sequer tiveram receio de contradições quando falaram. Foi assim que alguns defenderam em simultâneo o turismo de qualidade e as companhias low-cost. Teremos assim, segundo afirmaram, turistas de alta qualidade a viajar em companhias de baixa qualidade. Original, se excluirmos o caso recente da raínha Sofia de Espanha que, numa emergência, utilizou um voo low-cost para Londres, onde foi visitar o irmão, internado num hospital. Segundo declarou depois, como era o único voo com lugares disponíveis, nem hesitou. A realeza sempre foi e continua a ser outra coisa...
Mais habituado a estas andanças, o tal espanhol lá foi dizendo, em castelhano pois claro, que Portugal é um país encantador mas muito periférico e com um grave problema de comunicação. Contrariando a legislação em vigor, não houve legendas, nem tradução simultânea. E julgo até que ninguém terá percebido muito bem onde o nuestro hermano queria chegar com aquela do problema de comunicação...
Seguiu-se um adorável entremez com o engenheiro da mina, acompanhado por uma dúzia de mineiros, todos em fato-macaco e capacete. Muito turístico, como se calcula. Tal como a escolha do local. O mina de sal faz logo lembrar a comida geralmente salgada dos restaurantes (para "puxar à pinga") e as facturas por vezes igualmente bem salgadas. Tudo muito agradável. Adiante... Tivemos igualmente direito à preparação de uma sobremessa de figo recheado com sorvete de sumo de laranja, feito ali mesmo pelo chefe cozinheiro Avillez. Afinal os nomes ainda são o que sempre foram.
Perdido no meio dos restantes convidados, que pelos vistos vieram unicamente para "mobilar o cenário", o tal francês que preside à Organização Mundial de Turismo, seguiu tudo mas nunca usou da palavra, pois não havia tradução simultânea. Apenas fora entrevistado à tarde, durante cerca de 5 minutos, no quarto do hotel... e em inglês, como convinha. Apesar da escassez de perguntas, lá foi dizendo que o turismo representa em Portugal cerca de 6% do PIB e 17% do emprego, mostrando assim conhecer dados que os intervenientes portugueses, incluindo a apresentadora, se "esqueceram" de divulgar.
Salvo melhor opinião, parece-me que, após mais de três horas a olhar para o ar e a ouvir falar numa língua que não entende minimamente, o senhor gaulês irá fazer-nos uma excelente promoção no seio e junto de todos os membros da organização a que preside. Dirá até, provavelmente, que não têm tradutores profissionais, nem falam francês ou espanhol, mas sabem entrevistar em inglês, desde que seja coisa sucinta, para não cansar muito.
Quem também levará certamente um óptima impressão de Tomar, bem como desejos de cá voltar quanto antes, são os campistas que cheguem pela estrada de Coimbra. Encorajados pela sinalética existenteno cruzamento com o IC3 (ver fotos), depois de várias voltas para nada, concluirão certamente que os nabantinos são uns brincalhões, desde há pelo menos 5 anos para cá. E depois queixam-se que cada vez há menos turistas nos restaurantes e alhures. Com semelhante acolhimento...
Razão tem o convidado espanhol, certamente homem muito e bem vivido. Os portugueses são muito periféricos e têm um problema de comunicação. Que é como quem diz, de forma educada, "São periféricos em tudo. Até no comportamento e na comunicação." Haja Deus!

6 comentários:

Anónimo disse...

Nem tudo o que parece realmente é! Aquele "emblema" na placa com a indicação de Tomar não significa que se trata de uma losalidade com parque de campismo. mas sim que é uma terra de índios. Aquele "boneco" é um "teepee"...

Anónimo disse...

Pois! Pode ser! Mas quem aceita estar lá para ir explicando isso aos turistas? É que para eles, em geral, índios só mesmo na América do Norte.

Anónimo disse...

Isso é o que lhe parece! Então cá não temos os índios da Meia Praia?

Anónimo disse...

BOMBA!!!

Vai rebentar uma "bomba" muito, muito em breve!
Enquanto andamos por cá a entretermo-nos com estas giga-jogas da politiquice citadina, andam-nos a fazer a folha com pezinhos de lã.
Uma vez mais vai ser necessário que as pessoas de Tomar, pondo de parte a partidarite e a naturalidade, se juntem em bloco e se manifestem. A acção tem de ter lugar sob pena de termos de andar a passear de ambulância por causa de uma simples unha encravada.

Mais não digo! Amanhã darei todos os detalhes...mas mesmo todos!!

Este assunto é verdadeiro e muito graoso para a cidade e todos os seus habitantes.

Anónimo disse...

Peço ao sr. Rebelo ou outro(s) administrador(es) do blogue que passem o meu texto para outros blogues que eu não conheço.
Este é um assunto sério, e convem que o maior numero de pessoas esteja a par da sua existência.
Logo que possa darei mais informações.

Obrigado.

Anónimo disse...

A administração do CHMT está a preparar-se para desmantelar totalmente o hospital de Tomar sob o pretexto de o preparar para a gripe com origem no México. Pretensamente este hospital ficará a funcionar apenas para isolamento e tratamento de afectados por essa doença. Vão dividir as valências entre Torres Novas e Abrantes e até já estão em fase de decidir quais as primeiras a sair e para onde.
Isto é mais uma tentativa de liquidação deste hospital em favor dos outros dois no sentido de os tornar rentáveis.
O que se passa na realidade é que das três unidades só o de T.Novas tem condições de isolamento para a gripe H1N1.
O hospital de Tomar é o que tem tido as melhores classificações quer no desempenho, quer no aproveitamento de recursos, quer na higiene.
O que se está a passar não é mais do que uma manobra política suja, já que as câmaras de Abrantes e T.Novas são PS.
Tudo leva a crer que depois de tiradas de cá, as valências não mais regressem, e ficamos com um verdadeiro elefante branco nas mãos.
Assim, a cidade de Tomar e parte da Zona do Pinhal deixarão de contar com esta unidade hospitalar e terão de se "desenrascar" com meros centros de saúde com horário finito.
Vasmos calar e deixar que tudo isto aconteça?