segunda-feira, 23 de abril de 2012

As obras malditas da Estrada do Convento - conclusão (até à próxima visita)

Projectadas e adjudicadas à maneira de António Paiva (quanto mais depressa melhor), as obras da envolvente ao Convento de Cristo só podiam redundar em desastre, uma vez que depressa e bem não há quem. Os problemas começaram logo com a empresa vencedora, com sede em Viana do Castelo, a 300 quilómetros daqui. Dava para desconfiar, mas ninguém esteve para essa maçada. Estrangulada pelas dificuldades financeiras, a citada empresa limitou-se a comer a ração que lhe fora colocada na mangedoura. Os berbicachos vieram a seguir. O da destruição do alambor foi o mais falado, mas não foi o único, nem coisa parecida. Seguem-se mais quatro aspectos do estado actual da empreitada.


Sabe-se nos meios ligados à arquitectura, à mecatrónica e ao património que a tendência é agora para afastar o trânsito e o estacionamento dos monumentos. Por causa da poluição dos escapes. Tendo optado, certamente mal informados, pela solução exactamente inversa, ao aumentarem a capacidade de estacionamento de ligeiros e pesados mesmo à ilharga do monumento (onde, diga-se de passagem, as broncas são quase diárias, tanto lá dentro como cá fora, dando uma péssima imagem de Tomar), os projectistas e os políticos do executivo tinham a estrita obrigação de manter a coerência. Uma vez que se melhoram as condições de estacionamento, lógico seria melhorar igualmente as condições de acesso. Pois não senhor! A foto 9 da mensagem anterior documenta o contrário.
A compleição do terreno, o respeito pela paisagem circundante, e tal, rbéubéu, pardais ao ninho, amanhã vai estar um rico dia, se não chover. A verdade é que se gastou um dinheirão em betão, tendo todavia faltado o rasgo para endireitar tanto quanto possível a velha estrada salazarista e os problemas da ribanceira. Não só vamos continuar com aquela triste vista no enfiamento da Rua Alexandre Herculano, com velhas chulipas da CP (agora REFER), reconvertidas em sustentáculos do talude, como ficou por fazer o viaduto que evitaria aquela incómoda e perigosa escada na Calçada de S. Tiago. Pior ainda! Se em certos sítios a estrada é estreita e sinuosa, porque o terreno como estava não deu para mais, noutros alargou-se desmesuradamente o passeio, para a tornar mais estreita. Porquê? Para quê? Para que vai servir um passeio de mais de dois metros de largo naquele local?
Posso estar enganado, mas aposto que um destes dias vamos ter ali um ligeiro ou um autocarro parado, com os respectivos turistas no passeio, todos satisfeitos, a tirar fotografias... E os outros que esperem para passar!

Outra desgraça é este parque de estacionamento para apenas vinte ligeiros, ali a meia encosta, que nasceu torto e por isso nunca mais se vai endireitar. Sobre o estilo do mesmo, estamos conversados. Não destoaria em Las Vegas e está tudo dito. Quanto à execução, parece ter sido intencionalmente ao arrepio da lógica mais elementar. Em vez de adoptarem a cota mais baixa como referência para a indispensável terraplanagem, optaram pela mais alta. Seguiu-se a edificação dos paredões de contenção e, finalmente, o tosco arranjo do talude resultante, com terra vinda de alhures. Que se não levar qualquer protecção, na primeira tromba de água que vier, despede-se da família e vai à vida.

 Do lado oposto, que por mero acaso também é propriedade municipal, vamos ter o mesmo problema. Não compactada, a terra ali despejada vai aluir com as primeiras chuvadas fortes, arrastando a calçada entretanto colocada. Mas não interessa. Mesmo se a ordem já é rica como dantes, os senhores autarcas continuam convencidos de que Lisboa e Bruxelas não têm outro remédio que não seja pagar tudo, incluindo as piores asneiras...

E aqui temos, em conclusão, o por assim dizer inútil murete de protecção. Não se pode dizer afirmar que fique com mau aspecto. É apenas ridículo, porque estilo novo-rico, daqueles que no século passado compravam livros a metro, para decorar a biblioteca doméstica... Dinheiro mal arrumado, é o que é!|

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