O artigo de Mário Reis no Templário de ontem e a adesão de Tomar à Rede de Cidades e Vilas Medievais, noticiada no Cidade de Tomar, trazem mais uma vez à baila a questão do desenvolvimento turístico local. Sendo agora evidente que nenhum dos grupos políticos representados no executivo ou na AM dispõe de qualquer projecto minimamente adequado aos tempos que correm (E que estão para durar!), não espanta que também nessa área estejamos todos em pleno deserto de ideias profícuas. Daí a votação unânime aprovando a adesão à acima citada rede, o que vai custar ao depauperado orçamento municipal mais seis mil euros de entrada (Segundo consta do documento aprovado "para compensação de todo o trabalho já desenvolvido" !!!) e uma quota anual de mil e 500 euros.
Se a isto juntarmos os encargos com a Rota da Judiarias, a Associação de Municípios com Centro Histórico, a Rota dos Monumentos Património da Humanidade, a Associação Nacional de Municípios, a Comunidade do Médio Tejo, etc etc, a que acrescem as deslocações, ajudas de custo e outras facturas, a pergunta surge naturalmente, agora que estamos praticamente como Egas Moniz, descalços e de corda ao pescoço: Compensará?
O turismo é a industria da paz, representando mais de 10% do PIB da maioria dos países da Europa Central e Ocidental. O que não significa que baste atrair visitantes para se conseguir uma mina de oiro. Temos perto de nós um exemplo flagrante: ninguém jamais planeou o turismo de Fátima, que mesmo assim se desenvolve a passos de gigante. Porque vão lá milhões de peregrinos rezar? Claro que também. Mas sobretudo porque compram velas, fazem donativos, adquirem recordações, comem nos restaurantes, dormem nos hotéis e visitam atracções locais (Museu de Cera, Vida de Cristo, por exemplo) ou próximas (Grutas, Batalha, Alcobaça, Tomar...)
No final, o que importa não é quantos lá estiveram mas apenas aquilo que gastaram em promessas, recordações, comida, bebida, dormida, entradas, etc. Ou seja o total dos "produtos" consumidos, que naturalmente implica uma oferta variada. Coisa que continuamos a não ter em Tomar, onde se insiste em pensar que basta os turistas virem cá. Sucede que a nossa principal atracção permanente, o Convento de Cristo, mal gerido e nestes últimos tempos mal servido de acessos, consegue ainda assim cerca de 150 mil visitantes anuais. Contudo, deste total, metade não pagam (visitas de estudo, entradas gratuitas aos domingos de manhã) e o remanescente conseguido (75 mil visitantes x 6 euros = 450 mil euros) vai directamente para uns senhores com gabinetes no Palácio da Ajuda, que integram um organismo chamado IGESPAR, o qual serve também para exarar uns pareceres, ao fim de meses e meses de paciência dos ingénuos que julgaram ser fácil investir nos Centros Históricos. Ao que se diz, nem chegará sequer para remunerar os quase 40 funcionários da antiga Casa da Ordem de Cristo. De forma que, bem pode o senhor director do dito organismo rubricar um louvor à actual directora, que todos os que andamos nestas coisas sabemos bem que não consegue dar conta do recado de forma cabal. Pelo que, enquanto não houver no município quem tenha audácia e capacidade suficientes para agarrar o futuro com força e com as ambas as mãos, naturalmente amparado pela maioria dos tomarenses, vamos continuar em marcha mais ou menos acelerada rumo à irrelevância e à miséria. Mas se é isso que as pessoas querem, apenas tenho a opor a força da minha razão.
Numa visita livre, os turistas vão para onde querem e ficam o tempo que lhes apetece. Numa visita guiada, pelo contrário, vão para onde os levam e ficam o tempo que o guia quiser. Está percebido, ou é preciso fazer um desenho? E aquilo que vale para o Convento, vale para tudo o resto. No final, o que conta é o "carcanhol" que cá deixaram!
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