sexta-feira, 13 de abril de 2012

CEGUEIRA POLÍTICA




Esgotado o filão dos fundos comunitários para pontes, viadutos, rotundas, arruamentos, auto-estradas e similares, urgia encontrar outro pelo menos tão sumarento, antes das eleições de 2013 e 2015, uma vez que, em conformidade com a norma em vigor, sem obras para mostrar não há eleito que consiga vencer. Está feito. É o turismo. A troika propugna o incremento das exportações e o turismo propicia isso mesmo: exportar sem recurso à indústria tradicional, quase sempre poluente e forte consumidora de mão de obra. É certo que só o turismo receptivo -ou de income, como agora se diz- é que é exportador, mas isso não passa de um detalhe que só interessa a quem é miudinho.
O programa "Turismo 2015" do QREN vem mesmo a calhar. Cai que nem sopa no mel, murmuram os futuros beneficiários. Tomar a dianteira resolveu ir espreitar à Internet, em turismo2015.pt. Eis parte do que encontrou:
"O Polo de Turismo 2015 tem como ambição obter ganhos de eficiência e de eficácia na utilização dos fundos do QREN, estimulando parcerias entre os agentes do sector e conduzindo o Turismo a um novo patamar de excelência no horizonte de cinco anos."
Tirando a redundância involuntária em "eficiência e eficácia", que são sinónimos, bem como a evidente basófia contida na expressão "um novo patamar de excelência no horizonte de cinco anos", nada de particular a zurzir. Trata-se apenas e só de mais do mesmo no reino do blábláblá.
Mais adiante surge um significativo documento, que se passa a reproduzir: "Polo de Competitividade e Tecnologia - Turismo 2015. Reestruturação e alargamento da rede de escolas de hotelaria e turismo. Área geográfica de intervenção: Porto, Viana do Castelo, Santa Maria da Feira, Lamego, Mirandela, Coimbra, Fundão, Oeste (Caldas da Rainha/Óbidos), Lisboa, Estoril, Setúbal, Portalegre, Santarém, Faro, Portimão,Vila Real de Santo António e Beiras"
Custo total das intervenções propostas 38,8 milhões de euros. 11,64 milhões do orçamento português e 27,16 da União Europeia."
Tomar, Évora, Alcobaça, Batalha, Fátima, Mafra, Nazaré? Pelos vistos não têm qualquer interesse. Se calhar por já terem demasiado turismo e/ou alcançado o tal "novo patamar de excelência no horizonte de cinco anos". Santa ignorância!
Enquanto isto, os autarcas tomarenses persistem, insistem e assinam. Aproveitando o Dia Mundial dos Monumentos e dos Sítios, na próxima quarta-feira, dia 18, vá de organizar umas actividades...no Nado-morto da Levada. Tudo com o título pomposo "O Museu da Levada: proteger o património, gerir a mudança". Nem mais! Está-se mesmo a ver que é o que a autarquia tem feito. E bem! Basta reparar na frase "visitas guiadas e comentadas", para constatar que se trata de mais uma operação blábláblá. Ou não é verdade que visitas guiadas e visitas comentadas são uma e a mesma coisa?
Quanto ao propalado Museu da Levada, podem insistir até quando lhes aprouver, que não conseguirão disfarçar o óbvio: trata-se desde o início de um programa paraplégico. Não tem pernas para andar. Os três sectores com algum interesse relativo para o turismo interno (visitas de estudo à borla), (Fundição, Central Eléctrica e Moagem) A) - não têm requisitos mínimos de segurança suficientes para abrir ao público,  B - não  têm condições físicas para os vir a instalar; C - não existem locais de estacionamento para autocarros escolares, nem mesmo só para deixar ou receber passageiros. Se a isto juntarmos a evidente carência de recursos humanos qualificados, o desastre aparece como grave e inevitável.
Com muitos anos de tarimba, o presidente da câmara das Caldas da Rainha (PSD) foi sucinto e certeiro: "Quando uma autarquia não tem verba própria disponível para garantir os seus 20% nos programas do QREN, então também não tem meios para os manter a funcionar." O programa do "Museu da Levada" custa 6 milhões de euros em números redondos e a autarquia do sr. Carrão não tem dinheiro nem para mandar cantar um cego. Nestas condições, porque insistem em negar o óbvio? 
Mais um caso de evidente cegueira política. Bem diz o povo: "Não há piores cegos do que aqueles que não querem ver".

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora ai esta um artigo com cabeça,tronco, pés e membros. Estes sim gosto de ler e aplaudo veemente este gênero de artigo. Na verdade as cidades que não estão contempladas devem ser filhos de parente pobre, terá Tomar mais turistas do que a cidade do Porto, Lisboa, Estoril, Santarem, Faro etc??????????????? Sobre o Museu da Levada estou plenamente de acordo, não ha ponta por onde se pegue, como diz e muito bem Blablablabla... Enfim, mais uma operação de cosmetica. Dou-lhe os parabens por tal artigo, critica construtiva e boa visão do obvio. Parabéns...