quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um retrato implacável


O texto seguinte é sem dúvida alguma direitista. Fruta do tempo, em suma. Já não resta na Europa qualquer governo de esquerda. A crise varreu-os todos. O que se compreende sem dificuldade. A esquerda é, por definição, distribuidora e agora com a crise só restam os sacrifícios para repartir. Mas trata-se igualmente de um sintético e implacável retrato da Espanha actual. E de Portugal. Com ligeiras diferenças: 1 -  Portugal não vai cair. Já caiu. Agora terá de pedir novo resgate. 2 - Onde se lê "bacalhau a pataco em todas as autonomias", convém acrescentar para Portugal "passeios/comezaina/tintol/bailarico à custa do orçamento, em todas as autarquias." Quanto ao resto, o melhor é ler e reler com atenção...

ASSIM VAI CAIR ESPANHA

"Muito mais cedo que tarde, Espanha vai pedir a ajuda da troika. Será o resultado de um fracasso colectivo e do facto de ter funcionado com muito pouca inteligência. Será culpa dos socialistas e das suas políticas nefastas, mas igualmente do PP de Rajoy, da sua cobardia e das suas reformas de menina envergonhada, para tentar enganar o andaluzes, que afinal não caíram na armadilha.
Não sei o que seja pior, se a histórica inépcia socialista para organizar sociedades ou o tacticismo tão irresponsável de Mariano Rajoy que, sabendo muito bem o que tinha de fazer, e como era urgente, preferiu ceder ao eleitoralismo e proteger a carreira política de Javier Arenas [líder do PP na Andaluzía], em vez de lutar por todos os espanhóis.
Também será culpa da pouca inteligência das pessoas. Dos que esticaram mais o braço do que a manga da camisa, vivendo como novos ricos confiando numa vida de golpada após golpada. Será culpa outrossim da pouca inteligência dos sindicatos, que exploraram, sodomizaram e finalmente assassinaram a galinha dos ovos de oiro, com as suas reivindicações tão afastadas da realidade. Será culpa também dos pouco inteligentes trabalhadores, que acreditaram alguma vez que o seu inimigo era o empresário e que por isso tentaram sacaneá-lo, trabalhando menos, produzindo menos, produzindo pior e metendo baixas fraudulentas. Também será culpa da pouca inteligência do "bacalhau a pataco" de todas as autonomias, essa monumental e caríssima pantomima para dissimular que o País Basco e a Catalunha são realidades diferentes, que merecem e devem ser tratadas de forma especial.
Já agora, será culpa de tantos jornalistas e colunistas demagogos e populistas que, com o seu neutralismo vergonhoso, incitaram toda a gente a viver acima das suas posses. E dos que se chamam intelectuais e não foram capazes de nenhuma ideia, escondendo-se atrás das banalidades mais vulgares e perniciosas. Será culpa de tanto opinador de pacotilha, que alegrou a turba, armando-se em herói, quando o seu dever era dizer a verdade, ser inconveniente e fazer sentir aos leitores a incomodidade do seu equívoco.
E de modo nenhum podemos esquecer a grande parte de culpa de tantos jovens que só souberam queixar-se e emporcalhar praças, em vez de empregar o seu vigor no trabalho e o seu ímpeto na esperança. O pedido de ajuda externa será também por culpa do vitimismo cínico de tantos mal criados, que nunca mexeram uma palha, que cuidam que tudo lhes é devido e que ainda não entenderam que só o esforço dá sentido à vida. Pouca inteligência, ou nenhuma inteligência, assim terá caído Espanha, como em tantas outras vezes na sua história.
Teremos um resgate externo antes do Verão e a Europa tomará então as medidas que os nossos políticos não tiveram valor nem inteligência para adoptar. Despedimentos, com subsídio de dez dias por ano de trabalho, até um máximo de seis meses. Subsídio de desemprego, também com um limite máximo de seis meses. Redução média e proporcional entre 25 e 30% de todas as pensões de reforma e/ou aposentação. Despedimento imediato de 40% dos funcionários públicos, reduzindo proporcionalmente os vencimentos dos restantes em 30%.
As autonomias mais correntes devem ser reduzidas a entes administrativos sem poder político, reduzindo os seus custos em 80%.
Será drástico mas não será dramático. Será o mais justo e o necessário para que Espanha passe a viver de acordo com as suas possibilidades, como fazem as pessoas de bem."

Así caerá España, Salvador Sostres, El Mundo, 10/04/2012, página 8


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