terça-feira, 24 de abril de 2012

Ainda mais Estado na economia?

Quem siga a actualidade com atenção e paixão, já terá notado certamente que neste jardim à beira-mar plantado a comunicação social foge das comparações como o diabo da cruz. Compreende-se. Salvo no que concerne ao clima, ao futebol e ao consumo de peixe, raramente ficamos bem na fotografia. E, como nunca convém incomodar "os de cima", apesar de não haver censura, nunca fiando. O calado foi a Lisboa e veio sem pagar bilhete. Dizem...

Eurostat/Le Monde

Contrariando o hábito nacional, aqui temos uma infografia muito elucidativa, publicada pelo incomparável Le Monde, uma das poucas instituições europeias respeitadas em todo o mundo.
Permite-nos comparar a  taxa máxima de IRS (ou respectivo equivalente) nos 27 países da UE. Conclusão para nós bem triste: Conseguimos reunir o pior de dois mundos. Pagamos os impostos mais elevados e temos a pior burocracia. Com efeito, a taxa máxima portuguesa de 46,5% é comparável às da Suécia, Finlândia, Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Itália e Áustria, onde os serviços públicos (saúde, educação, segurança, transportes...) funcionam a contento de todos, mas  suportamos uma burocracia asfixiante e serviços públicos medíocres, tal como os antigos países comunistas, onde em contrapartida os impostos são muito menos gravosos... Curioso, não é? Porque será que nos outrora países comunistas os impostos são agora muito mais baixos? Simples vingança à posteriori?
E depois ainda há por aí cada vez mais próceres de uma maior intervenção do Estado, para atalhar a crise , reduzir o desemprego e potenciar o crescimento económico. Nas actuais circunstâncias lusas, os keynesianos e apaniguados são cá uns líricos! Onde é que estão os fundos públicos disponíveis para dinamizar a economia? Não será muito mais eficaz diminuir o peso do Estado, emagrecer consideravelmente a burocracia redundante e parasitária, simplificar a vida de todos, sobretudo dos potenciais investidores, e depois baixar as diversas taxas e impostos? Quer-me parecer que sim, pois a cadela da República dá cada vez mais mostras de não poder continuar a amamentar tanto cachorro durante muito mais tempo...


Caso ainda restem dúvidas após a leitura anterior, aqui temos mais um exemplo flagrante. Neste quadro temos os países classificados em função da variação nos impostos tipo IRS, entre 2000 e 2011. Tratando-se de uma desgraça, mais uma vez temos Portugal no pódio. Pior do que nós só a Inglaterra, que entretanto já anunciou uma redução da taxa máxima (de 50% para 45%) em 2013.
Conclusão bem triste: Cada vez mais voraz chata e ineficaz, a burocracia lusa!

FMI/Le Monde

Mais uma comparação,  mais uma desgraça. Tal como os países do topo (França, Inglaterra, Espanha) temos um défice orçamental de todo o tamanho, mas não beneficiamos de bons serviços públicos nem conseguimos gerar crescimento económico. Triste sina a nossa!
Que tem tudo isso a ver com Tomar?! Pouco. É só por dizer que também temos a maior e mais chata burocracia da zona, o maior número de telemóveis distribuídos, as mais elevadas taxas locais, os prazos mais longos para a resolução de qualquer assunto, a maior dívida autárquica do norte do distrito, a mais elevada percentagem de desemprego, o maior número de barracas para habitação, a maior percentagem de imóveis em ruínas, e por aí adiante. Simples coincidências? Ou será que afinal, como usam dizer alguns marxistas de café, "Isto anda tudo ligado"?

2 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Meu caro professor, as diferenças (para melhor) entre os números dos países do Leste da Europa Comunitária e o nosso País, não terão a ver com ainda alguns resquícios de justiça social, essa cabra, dos tempos de terror comunista e a perda dela há muito, cá por este jardim?

O meu, o seu, o nosso imposto colectivo, tem servido para pagar, é verdade, a nossa Democracia; mas vivemos nós em verdadeira Democracia, quando os lucros do capital especulador (aquele que nada produz) aumentam exponencialmente e as empresas estão asfixiadas sem recurso ao crédito, não gerando emprego e riqueza para o País?
Concordo consigo quando defende que o Estado é mau. Mas tenho para mim que a solução, lá porque o estado é mau, não é acabar com ele.
A "treta" de que se houver menor Estado, haverá melhor Estado, está desmistificada nestes tempos; falta apenas vender dois ou três crucifixos e uma ou outra pregadeira e onde estamos? creio que é evidente que estamos piores do que antes de vendermos os anéis e as gargantilhas, logo o que deveria ter sido feito, era melhorar o mau Estado, mas pelos vistos o prometido emagrecimento (em termos de gastos sumptuosos e mordomias e institutos e jobs) foi esquecido, o escândalo das PPP's passou ao lado e tudo ficará com antes (quartel general, Abrantes), os crimes de lesa-Pátria do BPN, BPP e por aí fora saíram da ordem do dia e até o buraco da Madeira está a ser investigado por uma polícia experimentadíssima, a GNR, sendo a PJ chutada pra canto, à má fila...
Entretanto, alegremente, "cantando e rindo", lá vão os mesmos, os trabalhadores, os médios e pequenos empresários, sendo cada vez mais expoliados dos seus rendimentos.
E siga a banda!

(O espaço é seu, não tenho o direito de me esticar mais)

Cumprimentos

templario disse...

DE:Cantoneiro da Borda da Estrada

Sobre "AINDA MAIS ESTADO NA ECONOMIA",

excerto muito interessante do artigo de Pedro Guerreiro, "Dário, o minoritário", hoje no Jornal de Negócios (também online):

" Agora, Dário fica incrédulo quando lê este diário. A La Caixa passou a deter 48% do BPI, saltando a barreira dos 33%, e não há OPA?! Mas como, se é uma óbvia posição de controlo, ainda por cima com o alinhamento do Allianz? Como, se nunca a CMVM tinha antes dito que as limitações estatutárias são razão para dispensa de OPA? Dário consegue, enfim, perceber que numa Jerónimo Martins um accionista com 40% não poderia mandar, pois a família Soares dos Santos continuaria a controlar com 56%. Mas... no BPI?

Calma, Dário, sim, é extraordinário, mas é coisa de bom empresário. Sim, retorque Dário, mas e a Brisa? Nessa há OPA, mas é como se não houvesse: o preço é abaixo do cão que está a pagá-la com o seu pêlo: o pêlo do cão e o pêlo do Dário. Porque o dividendo foi suspenso, o ordinário, já não sai da empresa. Como?! Pois, Dário, o mundo mudou, há que ser evolucionário. E na Cimpor, questiona Dário, suspenderam a Assembleia Geral para não pagar o dividendo? Mas então... a OPA é baratinha, já está acertada com o Governo, o Governo manda na Caixa, a Caixa manda no BCP, ambos mandam em Manuel Fino, se é assim, então e o minoritário?!

Dário acredita nas pessoas, se lhe dizem que o negócio da Cimpor não estava fechado antes de ser lançada a OPA, ele acredita, acredita no Governo, na Caixa e na Camargo, são pessoas de bem. Mas caramba, pensa Dário, a linha do tempo perdeu a continuidade: no dia 30 de Março, às 16:36, o Negócios noticiou o lançamento da OPA; às 17:14 o Negócios diz que o Governo já deu o acordo de venda da posição da Caixa; só às 21:00 é que a OPA é comunicada oficialmente; e 26 minutos depois a Caixa comunica que vai vender. Dário interroga-se: como é que é que a Caixa responde em 26 minutos que venderia a Cimpor, depois diz que não tinha decidido antes das 21 horas, mas também garantiu que não toma decisões dessas em 26 minutos? Dário esfrega os olhos para ver se acorda. Mas outra coisa não lhe sai da cabeça: como é que o Negócios noticia às 17:14 uma decisão que a Caixa diz só ter tomado depois das 21:00?! Como nem passa pela cabeça de Dário duvidar de quem jura que não houve concertação, só há uma solução: há um bruxo no Negócios!

Dário está perdido, sente-se num infantário. Umas empresas mudam de controlo sem OPA: a REN e a EDP agora chinesas, o BPI espanhol, ou melhor, catalão, e até na Galp quem mandava agora manda mais, pois havia uma concertação legalmente contratada. Coisas de advogado judiciário. Outras empresas lançam OPA, à briosa Brisa e à simpática Cimpor, mas Dário não ganha nada e ainda perde dividendos. E as obrigações perpétuas do BES e do BCP, que é feito, Dário? Dário pensava que "perpétuas" queria dizer "para sempre" mas elas já não existem; e que "obrigações" queria dizer "segurança", mas trocaram-nas por acções que valem menos de dois terços.

Dário, Dário, não desistas. Serás agora missionário. As empresas têm de ser salvas, elas e o empresário, e tu, no fundo, és um especulador da bolsa, tens o que mereces. Mesmo que te sintas um perfeito... como é que se diz? Qual é aquela palavra com seis letras que rima com minoritário?"


Estamos bem entregues, digo eu.

Quem é que anda a tratar destas manigâncias, destas mediações, destes negócios?

Esperemos....