quinta-feira, 19 de abril de 2012

Principais temas da semana


Na sua habitual secção "Agora falo eu", O MIRANTE publica esta semana as declarações de uma empresária de cinquenta anos, residente em Tomar, que regressou de Angola em 1975. Quando o entrevistador lançou a frase "Se fosse presidente da Câmara de Tomar as suas prioridades seriam..., a resposta foi precisa e concisa: "Mandava construir um shopping para dar mais animação e trazer mais gente de fora à cidade e fazer com que o nosso hospital voltasse a ser o que era dantes" (Página 10).
Já se sabia que os tomarenses vivem numa espécie de realidade virtual, com apenas alguns pontos de contacto com as coisas como elas são de verdade. Nunca, porém, que me lembre, surgiu um exemplo prático tão adequado. Numa altura em que acaba de encerrar o hipermercado Auchan, em Santarém, e o Torreshopping se prepara para ser a vítima que se segue, pretender um centro comercial em Tomar como forma de atrair visitantes é um sinal evidente de que as pessoas estão mesmo a leste do drama tomarense, uma cidade outrora dinâmica mas agora ferida de morte. E cujos principais coveiros são os próprios tomarenses, com as suas divisões, as suas ilusões, as suas quezílias e as suas teorias há muito fora de moda.


"Convento de Cristo bate recorde de visitantes", titula O TEMPLÁRIO, que numa página interior esclarece que a Festa dos Tabuleiros é que permitiu o dito resultado extraordinário. E os tomarenses vão assim ficar mais uma vez muito contentes, muito orgulhosos, porque veio muita gente de fora, o que ajudou a promover a cidade, embora não se saiba com precisão o que há a promover e para quê. O problema é que os melões não se compram com contentamento nem com orgulho, mas com euros, quer se goste ou não.
Afinal a questão é sempre a mesma: Veio muita gente, e daí? No caso concreto do principal monumento tomarense, dos agora apregoados 190 mil visitantes, quantos é que pagaram os 6 euros de ingresso? Metade? Ou nem isso? Outro tanto em relação aos Tabuleiros. Quais foram as receitas? E as despesas? E o esforço pecuniário da autarquia? Nove meses são já passados, mas do bébé-orçamento nem ditos nem modos. Estranho, muito estranho mesmo!
É muito bonito louvar a cultura, os espectáculos e outros eventos para atrair visitantes. Todavia, a agreste verdade é que tudo tem os seus custos e aqui uma de duas: Ou os monumentos e os eventos são rentáveis, o que significa que as receitas compensam as despesas e ainda geram lucro; ou, pelo contrário, é o erário municipal e nacional que arca com todos os encargos, o que obriga os contribuintes a meter a mão ao bolso para que outros se possam divertir, cultivar, observar, repousar, saborear... Como no já célebre caso das passeatas comezaina/tintol/bailarico, tudo para angariar votos à custa dos tansos que pagam IRS, IRS, IMI e IVA a 23%.
Ganda terra! Ganda país!


Por falar em ganda terra, ambos os semanários locais destacam mais uma manifestação contra a reforma hospitalar do CHMT, entretanto já concluída, até que eventuais novas medidas se venham a tornar indispensáveis. O TEMPLÁRIO vai até mais longe com a sua manchete "Tomarenses defendem hospital", uma vez que continua por demonstrar a pertinência das manifestações serôdias como forma eficaz de reivindicar o ambicionado retorno ao statu quo ante. Os próprios dinamizadores de tais ajuntamentos parecem ter as usas dúvidas, visto que também procederam a uma vasta recolha de assinaturas em prol do hospital e têm alguma esperança na próxima votação da petição entretanto entregue na AR.
Apesar destas duas vias paralelas -manifestações e petição na AR- continua por esclarecer o que me parece ser o ponto fulcral da questão: Numa altura de grave crise que obriga a forte austeridade, qual ou quais os argumentos credíveis para restabelecer a situação anterior, numa terra como Tomar, cuja população diminui a olhos vistos, uma vez que os mais velhos vão desaparecendo e os mais novos dão corda aos sapatos em busca de melhores perspectivas? Onde conseguir os recursos pecuniários indispensáveis para custar o retorno à estaca zero? Sacar algumas valências agora em Abrantes e em Torres Novas? E as respectivas populações? Vão condescender e calar-se porque Tomar já foi uma grande terra, capital dos templários e sede de uma região militar? Quem é que disse aos tomarenses que águas passadas ainda movem moínhos? Só se for ali para as bandas da Praça da República, onde uma eleição de 2009 ainda vai continuar a proporcionar confortáveis réditos mensais até Janeiro de 2014. Vantagens de uma terra pachorrenta. Demasiado pachorrenta...

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