domingo, 8 de abril de 2012

Convergência e bailes de vampiros

A imprensa de ontem deu a conhecer mais uma inesperada convergência. Outrora acérrimos adversários políticos, Medina Carreira e Vital Moreira consideram agora que o modelo social que temos está falido. O antigo ministro da finanças de Mário Soares, oráculo maldito de todas as nossas desgraças, apesar de nunca se ter enganado, ou se calhar exactamente por isso, declarou que "o Estado Social actual colapsa dentro de cinco ou seis anos.  Se entretanto a caridade europeia o continuar a alimentar." Porque, segundo diz,  "estamos a viver de esmolas periódicas, ainda por cima com juros."
Inesperadamente para muitos e perante a mal contida raiva de outros, o ex-dirigente e deputado comunista Vital Moreira -agora deputado socialista no Parlamento Europeu- proclamou esta evidência: "O estado Social não pode ser mantido a crédito". Exactamente o mesmo ponto de vista de Medina Carreira. Mas o agora parlamentar socialista europeu foi mais longe. Para ele, Passos Coelho está a governar bem e, caso consiga pôr o país a crescer, mesmo pouco, o PS terá sérias dificuldades para voltar a ser governo. Em suma, mais uma vez a prova provada de que os frios climas do norte da Europa tendem a tornar os políticos mais realistas. A tal diferença comportamental entre os do norte e os do sul, com aqueles a ajudarem estes a desatascar-se. Sem grandes resultados até agora. Já o Variações cantava "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga, o corpo é que paga!"
Enquanto isto, em Tomar, outrora orgulhosa capital templária e agora uma reles e porca aldeia, com cada vez menos gente que valha a pena, começaram os tradicionais bailes dos vampiros -aquela série de conciliábulos mais ou menos formais, secretos ou nem tanto, onde se tentam encontrar os integrantes da equipa vencedora que depois há-de vir a sugar o orçamento nabantino. Cuidam eles. Porque desta vez a envolvência mudou. As pessoas que contam a nível local -afinal bem poucas- já perceberam que ao cabo de mais de 15 anos de governança PSD, nenhuma das obras que em conjunto custaram dezenas de milhões representa afinal qualquer mais valia para a cidade e o concelho. Pelo contrário. Pavilhões, jardins, rotundas, pontes, museus, fontes e paredões são infelizmente sorvedoiros de dinheiros públicos, cada vez mais escassos.
Nestas condições, não se trata de uma vez mais elaborar listas para enganar os eleitores (que dificilmente irão na conversa desta vez). Antes de interiorizar uma grande ideia fecunda, para a partir dela estruturar um programa susceptível de devolver aos tomarenses a esperança num futuro melhor. Um devir em que claramente os eleitos dirijam os destinos do concelho -e sobretudo os funcionários superiores da autarquia-ao contrário do que agora acontece.
O já mais do que ultrapassado "Tomar 2015" não passa agora de um documento cómico, com a sua linguagem fantasista e exaltante: "Tomar evidencia não só uma vitalidade patente em vários indicadores, como perspectivas para robustecer e diversificar a sua base económica, recuperando-a e actualizando as suas vocações históricas: cidade de serviços, pólo de inovação e de competitividade, cidade de cultura e de saber." (CEDRU, 9)
Donde a absoluta necessidade de, nos actuais bailes de vampiros em curso, começar a dançar ao som da música de Miguel Relvas -à boa maneira nabantina, agora maldito e culpado de todos os males, porque conseguiu triunfar, chegando ao topo do poder. Que música é essa?!?! "Os futuros presidentes de câmara terão de saber gerar riqueza  e não apenas gerir riqueza, como até aqui.". Nem mais! Sobretudo em Tomar!
Boa Páscoa!

1 comentário:

alexandre leal disse...

Caro Professor

Isto vai ser mais uma dor de cabeça para a bem preparada classe politica que merecemos.Príncipalmente o PS (pouco tem a ver com o seu PS),incomodado por as estruturas nacionais não lhes passarem cartão,como foi evidente no estafado caso do CHMT,obrigando-os a fazer tristes figuras num cata votos lamentável,esquecendo a informação factual(pior negando-a);sem saber como posicionar-se na questão Seguro/grupo parlamentar/viúvas do dominical engenheiro,tem ainda por cima de engulir estas coisas que até vêm de ministros de Mário Soares e do cabeça de lista do partido às eleições europeias. E logo o estado social que tão caro é ,ou finge ser,a algumas figurinhas. Desde que sejam os outros a pagar,claro!
É este tipo de falta de coragem politica,o pânico de perder 1 voto para o vizinho,defeitos dramáticos transversais à pequenez local que me fazem acreditar que com malta assim não nos safamos.Julgo que,no caso do PS,PC,etc se as estruras centrais não avocarem os processos(não sei se com os novos estatutos do PS isso será possível,como não sei se foram removidos os obstáculos a candidaturas de militantes que pensem pelas suas cabeças ),se não for o Carrão a ganhar(desculpe a provocação...) iremos de mal a pior.Já para não pensar na catástrofe que seria o perene lider outra vez no poleiro.

Cumprimentos