quarta-feira, 4 de abril de 2012

ECONOMISTAS EM PÉ DE GUERRA


Prólogo
Com os políticos locais quase todos em prudente silêncio e uma minoria a agitar questões de lana caprina ou a tentar defender causas perdidas de antemão, merece a pena ler o papel seguinte. Apesar de assaz longo, faculta a quem o conseguir entender cabalmente uma excelente e fiel imagem dos areópagos do topo da economia planetária. Aqueles que no fim de contas vão continuar a condicionar -e de que maneira!-o nosso futuro enquanto bisonhos habitantes do vale nabantino.

"Para além dos indicadores de actividade, a saída da crise está a ter consequências colaterais para o mundo da Economia. Boa parte dos seus teóricos, sobretudo nos Estados Unidos, estão divididos entre aqueles que defendem a necessidade de aplicar novos estímulos fiscais para evitar o regresso da recessão e garantir a criação de emprego e, do lado oposto, os que defendem que a política monetária é um instrumento mais do que suficiente para a gestão da procura. Trata-se da tradicional guerra entre keynesianos e neoclássicos, aos quais se juntam a cada dia que passa novas correntes: neomonetaristas, economistas verdes, psicoeconomistas...
Paul Grugman (Professor em Princeton), Brad DeLong (Professor em Berkeley) e Mark Thomas (Universidade de Oregon), lideram o grupo dos defensores das teorias de John Maynard Keynes. São os designados como "saltwater" (água salgada, em inglês, porque as universidades onde ensinam são todas à beira-mar). Do lado oposto, John Cochrane e Eugene Fame, ambos da Universidade de Chicago, acompanhados por Robert Barro, de Harvard, que questionam a política de estímulos fiscais como via para sair da crise.
É um debate similar ao que aconteceu nos anos 30 do século passado, entre Keynes e Hayek, uma história contada por Nicholas Wapshott no seu livro El enfrentamiento que definió la economia moderna. Naquela altura, os referidos pais da economia moderna mantiveram um aceso debate sobre o papel do Estado na economia. "Hayek foi derrotado por Keynes nos debates económicos dos anos trinta. Segundo creio, não porque Keynes tenha conseguido provar as suas teses. Apenas porque entretanto a economia colapsou, pelo que ninguém se mostrou muito interessado em apurar quais as causas do desastre", escreveu Robert Skidelsky, biógrafo de Keynes.
Certo é que o domínio do keynesianismo no debate económico foi evidente até que nos anos 70 Milton Friedman decretou que "em determinado sentido todos somos keynesianos; nos outros, já ninguém voltará a sê-lo". O consenso entre especialistas começou desde então a construir-se em torno da necessidade de um menor papel do Estado na economia, passando-se a propiciar o controlo do crescimento, dos preços e da criação de emprego, em boa medida através das taxas de juro.
Deste então, as teses de Friedman foram dadas por ultrapassadas por diversas vezes, até que em pleno apogeu da crise financeira, em 2008 e 2009, todos se tornaram keynesianos, como recordou Peter Steinbruck, ministro alemão da finanças do governo Merkel, apesar de ser social-democrata: "Os mesmos governantes que nunca ousariam aumentar a despesa pública, estão agora distribuir milhares de milhões. É impressionante esta transição forçada de décadas de política de oferta para um drástico keynesianismo", declarou em Dezembro de 2008. Mas tal mudança não duraria muito.
Henry Farrell, da Universidade Georges Washington e John Quiggin, da de Queensland, acabam de publicar um texto sobre o auge e a queda do keynesianismo durante a crise económica em curso. Explicam estes dois professores de Economia que naqueles anos foi possível conseguir um consenso sobre as medidas de estímulo, mesmo quando os keynesianos não tinham respostas claras sobre o que fazer perante a crise, nem dispunham de iguais meios de divulgação. Algumas tardias reconversões ao keynesianismo de economistas de reconhecido mérito, como Richard Posner ou Martin Feldstein fizeram o resto.
Farrell e Quiggin explicam também que a entrada no palco internacional dos economistas do Banco Central Europeu,  como não podia deixar de ser partidários da política monetarista, bem como a lenta saída da crise, mas com o concomitante aumento do desemprego, mesmo nos países que mais estímulos lançaram no mercado, voltou a pôr em causa o modelo de Keynes. Mas também não resolveu definitivamente a questão, pelo que o debate prossegue, ainda sem fim à vista.
O cenário das novas guerras entre economistas é agora a Internet. Não se passa um único dia sem que um grupo recorde aos outros como estão equivocadas as suas teorias, através de blogues, twitter, videos, conferências, cartas aos directores dos principais jornais, gráficos... tudo serve nesta guerra em todos os formatos disponíveis na Rede. Com o seu blogue e a sua coluna  no The New York Times, o Nobel Paul Krugman, consegue alguma vantagem sobre os seus opositores.
Nesta autêntica guerra de guerrilha, os economistas atacam as bases que fundamentam as teorias contrárias, como na crítica que Krugman lançou recentemente contra Jean Claude Trichet, o anterior presidente do BCE: "Ignorou tudo o que sabemos sobre a inflação e a diferença entre os choques para aumentar as taxas de juro no início de um problema transitório [a subida de preços no verão de 2008, quando a zona euro já estava em recessão]. Agora, tendo recusado e ignorado o que a macroeconomia tinha  a dizer a tal respeito, queixa-se de que a mesma ciência não oferece um guia político útil. Incrível."
Mas a luta integra também questões pessoais, que revelam egos feridos. É o caso do aceso debate  entre por um lado o professor Steve Keen, e por outro Paul Krugman, apoiado por vários keynesianos: "O establishment neoclássico (Pois é Paul! Também fazes parte dele!) ignorou durante décadas todo o trabalho de investigadores de outras tendências, como eu. Por isso, torna-se agradável assistir agora a um compromisso, em vez de ignorância deliberada ou, mais provavelmente, cega, em relação a análises alternativas".
Certo é que as derrotas se vão sucedendo em ambos os lados, o que cada um deles vai lembrando ao outro. Os que defendem o impacto expansionista das políticas de austeridade, como Alan Reynolds, do Cato Institut, avançaram com exemplo concreto a Irlanda, que após implementar duras políticas de ajustamento, conseguiu sair da recessão, avançar com planos para sanear a banca e retomar a via do crescimento. Afinal, tudo não passou de uma vitória pírrica [= a uma derrota]. Em finais de 2011, a Irlanda voltou ao vermelho, e os seus governantes foram forçados a renegociar com os credores o calendário dos reembolsos.
Dado que os economistas americanos são os mais activos nesta batalha, não é de estranhar que a actual campanha política nos USA, tendo em vista as presidenciais, tenha também entrado no debate sobre a saída da crise. A partir da Universidade de Stanford, John B. Taylor (cujas análises sobre a relação entre a inflação e o crescimento potencial da economia, servem como referência para a política monetária), pôs em dúvida que as ajudas aos Estados e às administrações locais tenham sido úteis para estimular a economia, como agora defendem os democratas perante os republicanos. Um ponto de vista logo contestado com firmeza por Christina Romer, da Universidade de Berkeley, antiga assessora económica de Barack Obama. E assim sucessivamente...
"Tal como nas guerras de Luís XIV, as tentativas para reabilitar o velho keynesianismo têm procado muito ruído e muita fúria, mas apenas modestos ganhos de território", sublinhou um blogueiro, referindo-se ao debate em curso entre as diversas escolas de economia. Com ou sem conquistas, tudo indica que a guerra ainda está muito longe do fim."

Alícia González, EL PAÍS - NEGÓCIOS, 01/04/12, página 20

Conclusão

Resulta do texto anterior que,tanto a nível internacional como europeu ou nacional, ainda ninguém tem resposta segura para pelo menos três singelas perguntas: Quando acaba a crise? Como acaba a crise? A crise acabará alguma vez?
A nivel local a situação é menos complicada, posto que são observáveis no país diversos casos de localidades e /ou concelhos onde a crise é bem menos grave. Só aqui na região, podemos apontar Leiria, Ourém, Fátima, Benedita. Ou Óbidos, um pouco mais longe.
Que fazer então? Começar por elencar os problemas a resolver e propor uma solução realista e fecunda para cada um deles. Depois é só aperfeiçoar pelo debate e trabalhar, trabalhar, trabalhar...
Quais são os principais problemas tomarenses cuja resolução pode ser facilitada pela autarquia? O desemprego, o realojamento dos ciganos, o investimento produtivo, a interpenetração Cidade-Convento, o rio, a Festa dos Tabuleiros, os Lagares da Levada, o Convento de Santa Iria, a Estalagem, o Bairro 1º de Maio, o Bairro da Senhora dos Anjos, os Pavilhões da FAI, a reabilitação dos velhos edifícios, a limpeza urbana e rural, a sinalização rodoviária, a sinalização turística, o desenvolvimento sustentado do turismo, o estacionamento urbano... ...
Como costumam dizer os promotores imobiliários, tenho em carteira uma proposta para cada um desses problemas. Os actuais políticos em funções também têm?

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