quarta-feira, 18 de abril de 2012

Tentar vender gato por lebre


Os moinhos da Levada, agora conhecidos como "Lagares d'El-Rei" numa foto de Silva Magalhães, do último quartel do século XIX. Os dois mais à direita foram entretanto destruídos, para dar lugar à actual Central Eléctrica desactivada há mais de meio século. Com é bem visível, dos três restantes, os dois com heráldica a encimar a porta eram de telhado de quatro águas, duas grandes no sentido norte-sul e duas muito mais pequenas, na direcção nascente-poente. A forma atabalhoada e caótica como tem decorrido todo o processo, (o que é usual nas obras municipais), originou que ninguém tenha reparado em tal detalhe, como em vários outros, pelo que temos agora dois pavilhões com duas águas e um com quatro. E viva a preservação do património! Se fosse um particular, caiam-lhe os abutres em cima para o esfolar vivo. Tratando-se da própria autarquia...que bem prega Frei Tomás; façam o que ele diz; não olhem para o que faz!
Esta abertura para estranhar e lamentar que o executivo tenha organizado hoje mais uma visita guiada ao propalado "Museu da Levada", mais conhecido pelo Elefante Branco da Levada, que já é a segunda em sete meses. A primeira teve lugar em 24 de Setembro de 2011. Então como agora, o  objectivo é convencer o eleitorado de que ali irá funcionar uma grande atracção turística tomarense. Não é verdade!
Admitindo, como simples hipótese teórica, que alguma vez a empreitada venha a ser concluída e o apregoado museu inaugurado, a ASAE encarregar-se-à de o encerrar compulsivamente logo a seguir, por manifesta desconformidade em relação às normas europeias. Normas essas cuja implementação é extremamente onerosa  na fundição, problemática na central eléctrica e praticamente impossível por falta de espaço na moagem nova. O próprio arquitecto Chuva Gomes já admitiu publicamente que assim é de facto.
Tal medida administrativa, apesar de violenta e fingidamente inesperada, permitirá salvar a honra do convento, mas tornará evidente que entretanto se gastaram mais seis milhões de euros por assim dizer em vão, devido à falta de ponderação e ao excesso de ganância. Isto porque era evidente desde o início não dispor a autarquia dos recursos humanos indispensáveis ao normal funcionamento do dito museu, nem dos meios pecuniários para os contratar, tendo em conta que nunca as entradas, mesmo se pagas, alguma vez proporcionariam os fundos necessários. Basta lembrar que nenhum dos museus portugueses é rentável, nem coisa que se pareça.
Nestas condições, insistir na ideia do museu, apenas revela a já aqui denunciada teimosia, que nada pode contra uma realidade cada vez mais adversa. De que adiante apregoar com insistência que está um lindo dia de céu azul, quando todos vemos muito bem que chove a potes numa atmosfera cinzenta?

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