domingo, 29 de abril de 2012

Complicar a vida alheia


Vivemos numa cidade onde a crise é bem mais grave do que alhures. Não sou eu que o digo. É o presidente da ACITOFEBA, a associação de comerciantes da zona, que deve saber do que fala por experiência própria. Urge por isso indagar das causas, como condição prévia para sairmos do atoleiro. Havendo outras terras onde a situação não é assim tão má como a nossa, certamente que os nossos gestores públicos (e privados) estarão a cometer erros desconhecidos fora de Tomar. Eis dois exemplos flagrantes.
Dia 5 de Maio terá lugar mais uma edição do Congresso da Sopa. Coisa para pelo menos 15/20 mil euros de custos, tendo em conta as exigências da ASAE, incluindo a barraca de lona, não vão os besouros e outros insectos cair na sopa... Usualmente a autarquia entregava 5 mil euros ao CIRE, por conta das receitas do evento, que nunca deu lucro. Este ano, decerto porque estamos em crise, os respeitáveis autarcas decidiram por unanimidade entregar ao CIRE a totalidade da receita. O que significa que a câmara, já atascada em dívidas, vai assumir integralmente todas as despesas. Vantagens?
As do costume. Promoção da cidade, movimento nas ruas e incremento do comércio local. Será mesmo assim? Ou trata-se apenas do paleio do costume, para esconder a inépcia local? Vejamos. Promoção da cidade? Para quê? Que produtos locais temos para vender? Teremos sequer condições mínimas de hospitalidade? (limpeza, sinalização, acessos, horários, preços, qualidade, instalações, sanitárias...) Movimento nas ruas e incremento do comércio local? Salta à vista que quem vem ao Congresso da Sopa não vai certamente frequentar depois cafés ou restaurantes. E também não se justifica pernoitar em Tomar, dado que a festança termina entre as duas e as três e meia. Poderiam, quando muito e não fora a arreliadora crise, comprar algumas recordações. Se as houvesse em quantidade e qualidade. Mas nem uma coisa nem outra.
Mas vão ao Convento, dirão os mais sagazes. Pois vão, para mal dos nossos pecados. O produto das entradas (6 euros por pessoa) irá depois direitinho para Lisboa, para o IGESPAR, que não paga IVA nem IMI nem IRS. Por conseguinte, interesse para a depauperada economia local = zero. Acresce que desde há longos meses e não se sabe até quando, os infelizes turistas que resolverem ir ao nosso principal monumento ficam sem vontade nenhuma de cá voltar ou de recomendar Tomar aos amigos. Para além de o bilhete de seis euros só lhes dar direito a olhar para as pedras, sem quaisquer explicações enquadradoras, outros erros  maiores se levantam.
Na Mata dos Sete Montes, -a velha Cerca do Convento ou Cerca dos Frades- quem resolver guiar-se pela sinalização que lá foi colocada recentemente, está desgraçado que nunca mais de lá sai. Basta dizer que até se indica um "Percurso da Cadeira d'El-Rei", a qual, por simples acaso, se situa na Estrada do Casal do Láparo, do lado de fora do muro... Mas há pior!
Repare-se na foto acima. Qualquer visitante motorizado que se dirija ao Convento de Cristo - Património da Humanidade é forçado a transitar por ali. Não conhecendo o local, terá de previamente interpretar as sete diferentes indicações junto ao muro. Para um estrangeiro, não é mesmo nada fácil. Aparece depois aquela inoportuna barreira, que é totalmente inútil e só complica, visto que:

  1. Ninguém percebe muito bem o que lá está escrito: "Excepto moradores e ao Convento". Que quer isto dizer, em português crrente? Os moradores não circulam por ali, pois fica-lhes muito mais perto a Estrada do Casal do Láparo, a partir da Rua de Leiria.
  2. Os estrangeiros, sobretudo se da Europa Central, da Ásia ou da América anglófona, não percebem patavina do que lá está.
  3. A indicação é inútil e redundante, uma vez que por ali só se pode ir para o Convento, junto ao qual há um outro painel a proibir o trânsito para a cidade. Resta portanto tirá-la dali quanto antes, para os visitantes não se irem a rir de nós, pobres grunhos.
Conclusão: Bendita terra que tais cérebros tem no seu seio. Amém!

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