PASSEIOS - UMA HISTÓRIA TOMARENSE

Quem, nestes últimos dias, tenha passado pela Praça da República, terá reparado decerto numa fila de pessoas já idosas junto às antigas instalações da Caixa Geral de Depósitos, alí à ilharga da Igreja de S. João. São cidadãos que se vão inscrever para os passeios com transporte, almoço e lanche-convívio, tudo pago pela câmara, que o mesmo é dizer por todos nós contribuintes.

Tal prática mais não é afinal, sob pretexto de acção social, que uma vulgar "compra de votos" de eleitores cujo estatuto cultural não lhes permite alcançar a finalidade real da benesse. Pior ainda, além de usar dinheiros públicos que tanta falta fazem noutros sectores, esses sim prioritários, a autarquia prejudica os agentes de viagens e os transportadores. A uns porque é evidente que enquanto houver viagens e comidas de borla, ninguém vai comprar viagens organizadas, mesmo das mais económicas. A outros, porque enquanto usa o autocarro da câmara, não aluga a quem vive justamente dessa actividade. Em ambos os casos, a actividade de descarada caça ao voto prejudica gravemente empresas pagadoras de contribuições e impostos. Que servem para ir mantendo a autarquia a funcionar.

Para se perceber a enormidade de tal situação, basta inverter os papéis, só para demonstração. Imagine o leitor que os transportadores e os agentes de viagens, fartos de serem injustamente prejudicados nas suas hipóteses de negócios, resolviam entre si começar a cobrar licenças de obras, terrados no mercado, taxas de conservação de esgotos, IMI, etc. A câmara acharia normal e calar-se-ia?

Conscientes de tal injustiça, e porque aqui no blogue não temos nenhum proprietário de autocarro, nem nenhum agente de viagens, temos denunciado frontalmente a situação. Sem qualquer resultado até agora, diga-se, mas água mole em pedra dura... Ficámos por isso muito satisfeitos quando a semana passada lemos, num semanário local, um artigo no qual um conhecido jornalista criticava asperamente os passeios pagos pela câmara a alguns cidadãos, geralmente daqueles que sempre receberam mais do que deram ao erário público, e que actualmente nem sequer pagam IRS, mas julgam ter direito a viver à custa dos outros. Até referimos esse facto na habitual análise semanal da imprensa, tendo recomendado a leitura da citada crítica. Foi assim com grande surpresa que ouvimos um agente de viagens local lastimar-se dizendo que, afinal, o tal jornalista não faz jogo limpo. Serve-se do jornal para criticar a câmara, não porque ela prejudica os profissionais do sector, mas apenas porque lhe"rouba" os potenciais clientes dos vários passeios anuais que ele costuma organizar, e que vai publicitando no tal jornal onde escreve. Em resumo "Que bem prega Frei Tomás! Leiam o que ele escreve; não olhem para o que ele faz!"

É afinal apenas mais uma história tipicamente tomarense. "O que é que querem?! Se não me amanho eu, amanham-se os outros!!!" Por isso estamos como estamos. Com tamanha solidariedade, não admira.