É tudo uma questão de nível. Vistos do alto de um deles (o Empire State, hora a meia de fila, 40 € para subir) até os arranhas-céus de Manhatan-Nova Iorque parecem pequenos...
"A moda agora é o comércio justo. Café, cacau, turismo, açúcar, camisas de linho, orçamento, sacos de cânhamo, planos de retoma. A crónica de economia não pode ser uma excepção. Depois de ter evocado aqui o melhor, ou seja um argumento conjuntural cor de rosa no qual a retoma se revelaria bem mais forte que previsto, devo hoje, para ser justo e imparcial, encarar o pior. Ou seja, uma recaída.
Essa famosa teoria do "W", Dominique Strauss-Kahn (Presidente do FMI) disse esta semana que não acredita nela. E só 7% dos economistas americanos, interrogados pelo Wall Street Journal a julgam possível. Há portanto pelo menos duas boas razões para se interessar pela questão mais detalhadamente. Nos seis meses que se seguiram à falência de Lehman Brothers, temeu-se bastante a reprodução do encadeamento fatal de 1929, marcado por quatro anos ininterruptos de descida aos infernos dos índices económicos. Com a saída oficial da recessão das nações industrializadas e a retoma do crescimento nos grandes países emergentes, o risco afastou-se, o pior foi evitado.
Tal não bastou todavia para os economistas arrumarem os tratados sobre a Grande Depressão. Após neles terem encontrado ensinamentos úteis para apagar o incêndio dos "subprimes", procuram agora pistas seguras para pilotarem o melhor possível a saída da crise. E designadamente para proceder de forma a que o fim dos dispositivos orçamental e monetário de excepção, implementados no outono de 2008, não anulem a retoma em curso, como aconteceu nos Estados Unidos em meados dos anos 30.
Após o espectro de 1929, é agora o de 1937 e da recessão Roosevelt que preocupa os economistas, de Nouriel Roubini (o único que previu a actual crise) a Christina Romer, a conselheira económica do presidente Obama, passando pelo governador do Banco de Inglaterra, Mervyn King.
Se esse episódio negro de meados dos anos 30, essa recessão no interior da crise, é relativamente pouco conhecido, é antes de mais porque desfalca um bocadinho o mito do New Deal e do seu lendário sucesso. Desmente a ideia segundo a qual a política de relançamento decidida por Roosevelt em 1933 teria bastado, como por milacre, para levar a economia americana a saír da crise. A realidade é mais complexa, menos mágica, e mostra que a ultrapassagem da crise foi muito mais laboriosa do que aquilo que se ensina nos manuais de economia.
A recaída conjuntural e bolsista de 1937/38 foi de uma violência extrema. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova Iorque perdeu 49% entre Março de 1937 e Março de 1938, um mergulho que anulou a quase totalidade dos ganhos conseguidos nos três anos anteriores. Foi a derrocada de Wall Street, mas sobretudo um afundamento económico. Em seis meses, de Agosto de 1937 a Janeiro de 1938, a produção industrial americana sofreu um recuo tão forte (40%) como nos trinta meses que se seguiram à queda da bolsa de Outubro de 1929. A taxa de desemprego subiu bruscamente de 14 para 19% e os rendimentos dos particulares baixaram 15%. Globalmente, o PNB americano recuou 4,5% em 1938.
Na origem desta recaída -keynesianos e liberais estão por uma vez mais ou menos de acordo- esteve o "aperto" monetário e orçamental, decidido pela administração americana. Porque no início de 1937, após três anos de grande crescimento (mais de 9% ao ano, em média), a Casa Branca persuadiu-se que a crise estava vencida. Pelo que era, por conseguinte, mais do que tempo para suprimir a política macroeconómica resolutamente expansionista, instaurada para combater a depressão.
Redução das despesas federais e aumentos de impostos reduziram o déficit de 5,5 billiões de dólares em 1936, para 2,5 biliões em 1937, e 100 milhões em 1938. Na vertente monetária, a Reserva Federal, temendo a inflação e a formação de novas bolhas especulativas, decretou a duplicação das reservas obrigatórias dos bancos.
Perante a catástrofe provocada por esta política de rigor, a administração Roosevelt decidiu, na primavera de 1938, recuar em toda a linha. O nível das reservas bancárias obrigatórias voltou a baixar, ao mesmo tempo que um programa federal de 5 biliões de dólares de novas despesas entrou em vigor, para relançar o poder de compra dos particulares e o respectivo consumo. A partir do outono, a economia americana voltou a arrancar. Em 1939 o PNB voou 7,9%, sem que se saiba com precisão -e é aí que está o problema- qual foi a contribuição do grande incremento das despesas militaires nesse salto.
Perante a catástrofe provocada por esta política de rigor, a administração Roosevelt decidiu, na primavera de 1938, recuar em toda a linha. O nível das reservas bancárias obrigatórias voltou a baixar, ao mesmo tempo que um programa federal de 5 biliões de dólares de novas despesas entrou em vigor, para relançar o poder de compra dos particulares e o respectivo consumo. A partir do outono, a economia americana voltou a arrancar. Em 1939 o PNB voou 7,9%, sem que se saiba com precisão -e é aí que está o problema- qual foi a contribuição do grande incremento das despesas militaires nesse salto.
Podemos retirar várias lições desta recessão Roosevelt de 1937. A primeira, aquela que todos os dirigentes ocidentais avançam actualmente, é que se torna essencial não suspender prematuramente o tratamento do doente, sob pena de se provocar uma terrível recaída. Por outras palavras, nada de aumentos das taxas de juro ou de reduções orçamentais, antes de estarmos seguros a 200% da resistência da retoma. O que é bem capaz de ainda levar algum tempo.
A segunda lição, bem mais sombria, explica que afinal o New Deal apenas provocou uma retoma muito artificial e superficial. Só a segunda guerra mundial permitiu verdadeiramente à economia americana a ultrapassagem da sua Grande Depressão. É por conseguinte vão, imaginar que vamos conseguir curar definitivamente a crise dos "subprimes" sem perturbações "geo-económico-políticas" de grande amplitude, talvez mesmo terríveis.
É muito bonito fazer crónicas económicas justas, mas não é nada alegre !"
Pierre-Antoine Delhommais, Le Monde, delhommais@lemonde.fr
Tradução e adaptação de António Rebelo, tomaradianteira.blogspot.com
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