sábado, 7 de novembro de 2009

UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO...

Foto O MIRANTE
"Não me posso considerar herdeira de uma situação tranquila, ligar o piloto automático e deixar passar os anos, até ao final do mandato. Falta o mais importante, que é criar um modelo de desenvolvimento para Rio Maior." Assim falou Isaura Morais, (PSD), a nova presidente da Câmara de Rio Maior, nas comemorações dos 173 anos da criação daquele concelho. Temos assim que, após um trabalho notável, ao longo de vários mandatos, do socialista Silvino Sequeira, que entre outras coisas dotou a cidade das salinas com uma fileira desportiva completa (escola superior de desporto, centro de estágios integrados, campos, pistas e piscinas), a sua sucessora se mostra preocupada com o futuro, e tem toda a razão. O que hoje é excelente, um dia destes já estará ultrapassado, pelo que se torna imperioso ir sempre inovando, com bases tão sólidas quanto possível.
Em Tomar, onde como é sabido há mais de dez anos que não existe qualquer modelo coerente de desenvolvimento, o nosso presidente limitou-se a dizer, no seu discurso de posse, que vêm aí tempos difíceis.
E disse bem, embora provavelmente nem imagine quão difíceis serão. Na verdade, após gastos de milhões em obras de espavento, mas sem quaisquer retornos transaccionáveis, a actual equipa PSD começa a colher agora aquilo que semeou nos últimos três mandatos -preços, taxas e licenças a convidarem os munícipes a irem viver para concelhos mais sensatos, moderados e acolhedores, o que de resto têm feito. Por isso, as receitas são cada vez menos, as despesas fixas cada vez mais e os empréstimos cada vez mais difíceis. Basta dizer que os encargos anuais com a dívida já ultrapassam os dois milhões de euros. E ainda os juros não começaram a subir, o que vai acontecer a partir do segundo trimestre do próximo ano...
Entretanto, em termos de modelo de desenvolvimento, tudo parece indicar que os nossos autarcas tencionam continuar a guiar-se por um documento manifestamente atamancado, pomposamente intitulado "Tomar 2o15 - Uma nova agenda urbana", com propostas incoerentes e inadequadas aos tempos que correm, bem como frases fantasistas, para tentar enganar lorpas. Exemplos: "No dealbar do século XXI, Tomar evidencia não só uma vitalidade patente em vários indicadores, como perspectivas para robustecer e diversificar a sua base económica, recuperando-a e actualizando as suas vocações históricas: cidade de serviços, polo de inovação e de competitividade, cidade de cultura e de saber."(página 8) ..."Tomar necessita de uma NOVA AGENDA URBANA que, em coerência com a sua vocação e com as linhas de orientação seguidas até aqui, defina a acção a seguir até 2015 de modo a se cumprir o objectivo máximo de se tornar mais competitiva, mais atractiva, mais sustentável e mais solidária, valorizando um património notável, criando novos referenciais de qualidade urbana e afirmando-se como um espaço de oportunidade para viver, para investir e para trabalhar." (página 11)
Decadência, definhamento, desmazelo, fuga da população, pobreza, desemprego, fraca qualidade de alguns serviços autárquicos, património municipal cada vez mais arruinado, nada disto parece ter importância para quem nos administra há vários mandatos. Tratando-se de pessoas inteligentes, salvo uma ou outra notória excepção, a patente passividade só pode ter uma explicação -a "cegueira do poder", maleita demasiado frequente e de difícil remissão, que leva as suas vítimas a não enxergarem a realidade envolvente. Salazar, Tomás, Caetano, Franco, Fidel Castro, Putin, são exemplos de tal doença. Para não mencionar autarcas que temos tido...
Este ano houve sete listas concorrentes, nas recentes autárquicas. Se continuarmos por este caminho, rumo ao abismo, em 2021, se ainda formos concelho, é muito duvidoso que apareça sequer uma lista concorrente. Ninguém terá então pachorra para continuar a ser alvo dos justificadíssimos insultos dos eleitores nabantinos. Oxalá esteja enganado !

2 comentários:

Anónimo disse...

Obviamente, e provado à saciedade, em Tomar não se sabe o que são modelos de desenvolvimento. Por cá nunca se passou da simples gestão corrente, hoje em dia cada vez mais pautada pelos interesses das pequenas organizações corporativas, que obrigam a concessões de natureza mais que duvidosa.
De um lado surge-nos o assalto ao orçamento camarário por parte dos partidos postados por imposição eleitoral nos lugares do poder, com "nuances" dignas dum filme de Greenaway, em que saltam à vista "erros de casting" como são os casos do vereador para a cultura, produto duma associação serôdia, escondida, mas mais que previsível para quem com alguma atenção segue o jogo de xadrex que são as jogadas de bastidores, e a permanência em lugar proeminente do nr. 2 do partido vencedor, pessoa gritantemente incapaz de contribuir para o decisivo passo em frente de que o concelho precisa. Como dizia Fernando Pessoa, uma zebra é impossível para quem não conhece mais que um burro!
Do outro lado estão os interesses económicos gravitantes à volta do prédio das arcadas, aos quais este arremedo de poder político dito impoluto, transparente, equidistante, se verga transformando Tomar e seu concelho numa verdadeira coutada...
Pior, esta trama está a tornar-se trans-concelhia como brevemente, e infelizmente, iremos constatar.
De tudo isto resulta que esta roleta que são as eleições a espaços de tempo relativamente estáveis apenas aproveita a uma meia dúzia de chicos espertos. Por isso volto a dizer que o que separa a actual gestão corrente da que se praticava há 40 ou 50 anos é a diferença de meios e o seu consequente refinamento.

Anónimo disse...

Caro António Rebelo, relativamente ao último parágrafo do seu artigo permito-me acrescentar que duvido que apareça alguma lista porque não deve haver ninguém que se queira "queimar" em semelhante fogueira...