quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ADAPTAR-SE AOS NOVOS TEMPOS...

O mais recente mordomo da Festa dos Tabuleiros é um cidadão honrado, probo e poupado, como de resto o foram e são outros cidadãos seus antecessores no cargo. Quanto aos Tabuleiros, são a Festa Grande de Tomar e está tudo dito. Não se trata portanto de escarnir seja em quem for ou no que for. Somos todos tomarenses e todos queremos o melhor para a nossa terra e para os nossos conterrâneos. É esse o espírito deste comentário.Procurar contribuir para a mudança, para o aperfeiçoamento e para mais honra e proveito para Tomar e os tomarenses, que são cada vez menos.
Disse João Victal recentemente, conforme já aqui foi referido, que não concorda com entradas pagas para se ver o cortejo, por se tratar de uma festa religiosa, do espírito santo. Tendo razão, Victal está no nosso entender a encarar mal o problema. Estará na mesma posição do célebre Monsieur Jourdain (desconhecido em Portugal), que toda a vida escreveu prosa e morreu convencido que escrevia poesia...
Antes de mais, é indispensável referir que os organizadores da festa dos tabuleiros sempre se foram adaptando aos tempos. Já foi quando Deus queria, já foi de três em três anos, já foi festa das colheitas, já foi cortejo de oferendas, já foi festa dos imperadores, já teve lugar sem ruas populares ornamentadas, já se realizou sem jogos populares. O actual figurino é basicamente o das festas de 1950, igualmente conhecido como o "modelo João Simões".
É claro que se trata de uma celebração profana, que a igreja adoptou, pelo que é realmente, desde há séculos, uma festa religiosa. E aqui aparece o primeiro problema. Tratando-se de uma festa religiosa católica e sendo a autarquia obrigatoriamente laica, porque o Estado que a tutela também o é, a que título se envolve nos mais variados sectores da referida celebração, a começar pela Comissão Central, à qual preside enquanto tal ? Estando em causa a cada edição avultados fundos provenientes do erário público, não se perderia nada em esclarecer devidamente e de uma vez por todas esta questão. Antes que os não católicos comecem a queixar-se que os seus impostos...
Além disso, o facto de se tratar de uma celebração de índole religiosa não justifica nem obsta a que possa proporcionar no final um saldo transaccionável tão confortável quanto possível. Abundam os exemplos de actos religiosos católicos que proporcionam lucros. A Semana Santa em Sevilha, a Hospedaria dos Monges, no mosteiro de Guadalupe, Espanha, o tapete rolante do santuário de Guadalupe, México, o bingo no subsolo das igrejas católicas americanas e/ou canadianas... Pois, pois ! Entre os países mais desenvolvidos, o Estado só tem a mania que é rico aqui em Portugal. Nos outros não há dinheiro público para financiar festas ou outros devaneios. Por isso estamos como estamos e somos como somos.
Nesta conformidade, aqui em Tomar, se houver coragem e espírito aberto ao diálogo franco e fraterno, a nossa Festa Grande ainda poderá vir a constituir, a médio e longo prazo, um dos quatro pilares do nosso turismo e do nosso futuro. Que todos queremos mais risonho que o presente. Ou não ?

5 comentários:

Anónimo disse...

A festa dos Tabuleiros não é uma festa religiosa!
Humilde municipe,sem formação académica de nível universitário (este parece ser hoje um factor importante para as pessoas se poderem considerar conhecedoras de qualquer coisa..)permito-me fazer esta afirmação.
E faço-a, apenas porque a HISTÓRIA conhecida das raízes desta festa ou celebração, em parte nenhuma mete a igreja ou a religião, muito menos a católica.
A igreja católica, "aposseou-se" parcialmente da festa dos Tabuleiros, foi o que foi.E o senhor Prof.Rebelo bem o sabe. Por várias razões, que não vou esmiuçar aqui, mas onde saliento apenas que qualquer festa tradicional reflecte as vivências do seu protagonista - o povo - e a religiosidade que gradualmente se associou a estas festividades assenta aí.
Mas nesta questão da festa ser ou não ser uma festa religiosa, o que se pretende neste post é indicar, ou sugerir que, - uma vez religiosa a festa - (tese de que não comungo, antes pelo contrário) a Igreja a subsidie, ou pague os seus custos e fique com os seus lucros.
Pois bem, eu entendo exactamente o contrário. Eu entendo que nesta matéria de Festa dos Tabuleiros, a benzedura dos mesmos na Praça da República, devia ser abolida e toda a figuração religiosa retirada da festa, deixando-lhe assim a sua genuinidade, na celebração das colheitas, que a religiosidade do povo e o "sabido" aproveitamento da Igreja Católica, posteriormente, transformaram no pão e vinho de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando eram outros os deuses a quem se destinavam as oferendas e agradecimentos.
Parece-me ,pois, disparatado contrariar, ainda por cima no sentido errado,o modelo misto que se instituiu ,apenas a propósito da questão dos custos da festa e não pela restituição do seu padrão de base que sempre foi a de festa pagã!
Fazer ou não fazer a festa em tempo de crise , deve ser ponderado. Assegurar o seu financiamento, parece-me óbvio.
Analisando os resultados da última festa, e com uma gestão cuidada de custos, podemos concluir que o evento se paga a si próprio, no mínimo.
E as vantagens para a promoção da Cidade, do Turismo, da economia do concelho, são muitas.
Apenas mais um repararo: a FESTA é feita pelas gentes das freguesias do Concelho, quer rurais quer urbanas. Gente anónima, humilde, participativa e orgulhosa da FESTA. É ela que constroi os Tabuleiros, que faz flores e transforma as ruas da cidade em campos de cor e arte!
Que significam, então, aqueles passeios de charrete pelas ruas nas vésperas da Festa, protagonizado pelos representantes do PODER POLITICO,(autarcas) RELIGIOSO (Vigário Geral) + (Misericórdia- SOCIAL?) A necessidade da afirmação dos PODERES sobre o POVO, nesta Festa, compreendia-se em 1950! Vivíamos em Ditadura!
Hoje não passa de uma ridícula e pacóvia necessidade de ostentação pessoal dos intervenientes,perfeitamente antagónica dos valores democráticos instituídos!
Isto sim, a retirar da Festa!

Anónimo disse...

Excelente intervenção, que peço licença para aplaudir de pé, especialmente no que diz respeito aos passeios de políticos locais no chamado abusivamente "cortejo do mordomo". Se querem continuar a gozar com os tomarenses e a rir-se deles, pelo menos que o façam a pé, que sempre estarão mais ao alcance dos passantes, para piropos adequados.

Frei Gualdim disse...

Um reparo:
Nas festividades de "Semana Santa", que são realizadas em várias cidades espanholas na quadra pascal, não são pagos ingressos para assistir aos cortejos/procissões.

Rébelesco disse...

O seu artigo começa assim: O mais recente mordomo da Festa dos Tabuleiros é um cidadão honrado, probo e poupado, como de resto o foram e são outros cidadãos seus antecessores no cargo.
Sobre o mais recente estamos de acordo. E o anterior antes do mais recente? Será que as contas em dívida já estão saldadas?
Será que ainda terá "lata" para os passeios de charrete pelas ruas da cidade?

Anónimo disse...

Totalmente de acordo com o comentário das 11H09. As origens da Festa são, obviamente, pagãs.

Têm as mãos sujas de sangue e nunca pediram desculpa por isso. As suas vozes hipócritas ouvem-se agora em torno do conceito de família e dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Ai se eles pudessem...