"Vou tentar melhorar o desempenho dos serviços. Trata-se de um pelouro em que o desempenho pode ser positivo, sem que isso implique um agravamento no orçamento da câmara. O problema que temos, nesta altura, é de restrição orçamental (negrito nosso); é uma questão que afecta todo o país e todos os serviços, pelo que não me desagrada estar numa área que pode melhorar, sem precisar de grandes investimentos por parte da autarquia. Tenho quatro anos para colocar todo este processo a funcionar melhor." Assim falou ontem José Vitorino à Rádio Hertz. Os serviços em questão são os do DAU -Departamento de Administração Urbanística, que foram chefiados por Paula Marques até à sua saída para outras paragens mais hospitaleiras.
Muito realista, diria até terra-a-terra, esta declaração do vereador socialista denota algum desencanto, se calhar proveniente da passagem das altas camadas para a problemática realidade. Por outras palavras, a troca do manto diáfano da fantasia pela nudez chocante da verdade.
A tarefa que diz ter escolhido parece-nos em simultâneo ingrata e inglória. Ingrata, visto que cada burocracia tem a sua lógica, as suas rotinas, a sua própria estrutura à margem da oficial cadeia hierárquica. Tentar alterar, mesmo ligeiramente, algum destes elementos é considerado de facto um ataque infame e injustificado. Pois se sempre assim foi, para quê mudar agora ? Assim sendo, se alguma pequena mudança for conseguida, logo que o vereador virar costas tudo voltará ao que era. É bem conhecido o anexim "Expulse os hábitos nefastos e eles regressarão a galope."
Além de ingrata, a tarefa é igualmente inglória, dado que o mencionado departamento é apenas um dos muitos serviços do município tomarense, que os eleitores mais ao facto destas coisas foram criticando ao longo dos anos. Acontece até que o principal problema nessa área, tanto para os munícipes como para o município, não é presentemente o seu bom ou mau funcionamento. Tem antes a ver com os custos exorbitantes das taxas e licenças, bem como com absurdas exigências legais, que levaram à muito nítida queda nos pedidos de viabilização e/ou de loteamento e licenciamento, ninguém estando disposto a suportar condições sem qualquer nexo com a realidade presente. Daqui tem resultado a cada vez mais importante diminuição das receitas, tendência que se vai manter inevitavelmente, até que o actual executivo decida ter coragem para propor e adoptar as medidas que se impõem.
Profissional do sector, Vitorino já intuiu que, visivelmente com a corda na garganta em termos orçamentais, Corvêlo de Sousa não vai decerto ousar bulir nas taxas e licenças. Só se for para as aumentar ainda mais. Por isso, avisadamente, o vereador socialista decidiu virar-se para aquilo que tem alguma hipótese de levar a bom porto. Com parcas chances de sucesso, como já vimos. Ainda por cima, a sua linguagem realista e de algum desalento, denota já ter percebido que se tratará apenas, para ele, de ir tentando envernizar um dos pés de uma grande mesa, cujo tampo está condenado pelo caruncho, sem que, apesar disso, haja coragem ou meios para o substituir ou restaurar convenientemente. E enquanto isso não for feito...
Dirão os leitores que na fotografia acima Vitorino está sorridente. É verdade. Mas isso foi antes de perceber o "buraco" onde se foi meter. Ou o meteram.
4 comentários:
Temo, por amor a Tomar, que o PS e os seus eleitos, por via do acordo de "partilha de tachos, perdão, da gestão do município", e em especial os Senhores Vereadores, e muito em especial o "Sr" Vereador Luís Ferreira, tenham deixado de fazer parte de uma possível solução para se tornarem parte de um problema que é premente resolver.
(E dou comigo a pensar que, afinal, e bem vistas as coisas, foi este o destino que os Tomarenses decidiram para si...)
Alguns tomarenses, digamos assim.Os resultados eleitorais falam assim mesmo!
Deitado sobre os estes assuntos mundanos, colapssos financeiros e outros problemas humanos, antevejo o fim do ciclo materialista. Pode ser que Thomar finalmente acorde para outros voos...
Nunca damos Tomar por alcavala a alguém.
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