sexta-feira, 20 de novembro de 2009

IPT:UMA MENSAGEM CORAJOSA MAS TARDIA

Foto O Mirante
Foi uma intervenção corajosa, a de Pires da Silva na abertura do ano lectivo do IPT. Infelizmente para todos, foi igualmente demasiado tardia. O actual presidente do politécnico tomarense tem razão. O mundo está em mudança constante e o ritmo da mudança aumenta de dia para dia. O que implica uma adaptação permanente, sob pena de se ficar irremediavelmente para trás. Darwin foi explícito -na constante selecção das espécies, só os mais aptos em cada momento conseguem sobreviver.
Afirmar, por exemplo, que os professores "terão que voltar a aprender, a aprender a ensinar, e terão de ensinar matérias que hoje nem sequer conhecem", fica muito bem num discurso em ambiente académico. Mas é só fogo de vista numa instituição que teve todas as condições para singrar, no tempo das vacas gordas, e as desperdiçou uma a uma.
O recrutamento, tanto de professores como de funcionários, sobretudo aquele, sempre foi opaco e pouco ou nada respeitador da igualdade de oportunidades. Raramente ou nunca as reais e documentas competências académicas foram o factor decisivo, ou sequer importante. Sempre contaram mais a família, os amigos, a orientação política implícita, o conformismo. Resultado: o IPT tem hoje um corpo docente cuja competência ou sequer adaptação ao mundo actual não são seguramente as principais características. A maioria nunca foi além da licenciatura, a começar pelo próprio Pires da Silva. Nunca teve qualquer preparação pedagógica. Em muitos casos nunca tinha leccionado antes de ser contratado pelo IPT. Há até situações conhecidas de docentes, agora com lugares de coordenação de nomeação definitiva, que nunca conseguiram "alinhar" uma aula capaz no ensino básico. Já para não falar na falta que fazem mestres e/doutores, graduados por universidades dignas dessa designação.
Quanto às "formações" que o IPT procura assegurar, é evidente que não basta agrupar anualmente disciplinas de acordo com as disponibilidades da casa, leccionadas por docentes impreparados. Os alunos "sentem" isso mesmo e vão transmitindo uns aos outros a sua insatisfação, de tal modo que apenas vai ficando aquilo que um deles classificou com uma expressão certeira -"o refugo do refugo". Os outros, uma vez assimilado "o que a casa gasta", procuram pôr-se a milhas o mais rapidamente possível.
É neste quadro que Pires da Silva diz pretender agora instalar hábitos sãos de modernidade. Como, porém, inculcar hábitos de mudança permanente em gente mal preparada academicamente, que por isso mesmo nunca sequer aprendeu a aprender, que é uma tarefa árdua e permanente ? Quando se guindou à presidência daquela instituição, agora seriamente corroída pelo descrédito, o autor do discurso já citado devia ter parafraseado a célebre tirada de Groucho Marx - "Eu nunca aceitaria presidir a uma instituição que me aceitasse como presidente". Agora é bem capaz de já ser demasiado tarde. Oxalá que não, mas os hábitos são obstinados. Quando se tentam abandonar, regressam logo a galope.

3 comentários:

Rébeleco disse...

Li o texto que o Sr. Prof. Rebelo escreveu e deparei com seguinte frase: "A maioria nunca foi além da licenciatura, a começar pelo próprio Pires da Silva." Não me diga, que a ser verdade será uma aberração quer a nível académico, quer a nível Poliécnico e não Universitário. Eu diria, mais: Um Sargento a comandar Tenentes-Generais no "quartel" do IPT? Não acredito que isso tenha sido possível no nosso País...
A velha cultura da Comissão Pedagógica do então Colégio Nuno Álvares, pelos vistos deu bons frutos!!! depois de uma passagem inglória como professor pela Escola Secundária de Jácome Ratton.
Pelos vistos para alguns o que interessa é trepar a corda para se atinguir o bacalhau, nem que para isso a corda não esteja untada com sebo. Será caso para dizer: Vai estudar malandro que as Novas Oportunidades facilitam a aquisição de graus académicos.

Anónimo disse...

O senhor Rebelo tem razão no que escreve e sempre me bati pela luta transparente naquela instituição. O IPT vive dias de terror... e é uma espécie de instituição amordaçada. O José Gaio publicou a sua sentença de saída do IPT no seu jornal (parabéns pela sua coragem mas também não lhe fica bem não querer estudar e ficar-se pela licenciatura) pois ou sai agora ou em Julho de 2010 pois não renovarão mais o contrato. Ele também é funcionário da câmara e já papa mais de 1000 euros lá. Quanto aos doutorados eu julgo que são insuficientes e garanto-lhe que os outros que para lá caminham estão a pagar para alguém lhes fazer a tese ou parte dela nomeadamente a decolha e análise de dados. Pires da Silva não sabe ensinar pois nem sabe falar e duvido que escreva os seus discursos. A directora da ESGT e o director da ESTA são dois licenciados que passam a vida a passear e nas compras e não têm provas dadas em nada na vida. Só sobeja o director da ESTT que é doutorado e vencido por Pires da Silva nas últimas eleições. Agora prepara-se Eugénio Almeida para suceder ao seu padrinho. Apressou por baixo da mesa o seu doutoramento para ser digno da presidência do IPT mas nem sabe o preço de uma resma de papel.
Deixo-lhe uma nota. Eu conheço muitos doutorados e grande parte deles nem aulas sabem vender e conheço alguns licenciados que são excelentes como Medina Carreira ou Vitor Constâncio... só esses dois sabem mais que nós dois senhor Rebelo. Nós dois doutorados nunca poderemos chegar à categoria destes dois. Eu ainda vou publicando mas o senhor Rebelo já escreveu algum livro de jeito e aceite pelos seus pares?
Admiro a sua coragem mas também se estivesse reformado como o senhor seria fácil escrever com a sua independência mas reconheça que ainda tenho que dar de comer à minha família e não posso escrever o que o senhor escreve com essa facilidade. Vivemos pois numa democracia disfarçada. Eu sou um dos oprimidos e lá no IPT são imensos que até parecem cogumelos.
A coisa está mesmo má no IPT e verdade verdadinha é que ainda não começou a purga embora os alunos sintam o mau estar dos professores que fazem das tripas coração para aprenderem, ensinarem e ainda viverem com a rolha na boca.
Continue a escrever sobre o IPT e sobre o resto com essa independência que está garantido que não lhe tirarão a reforma. Essa é uma condição sine quo non para que possa escrever o que quer e como quer. Já agora sobre o subsídio de Natal como pode verificar era mesmo verdade e Pires da Silva com as declarações que fez só mostrou o seu desagrado pela fuga de informação dos serviços que processam os vencimentos... mas como diz Pires da Silva quem não se sente não é filho de boa gente.
Felicidades.

Sebastião Barros disse...

Para 21/11, 01:13

Apenas alguns esclarecimentos a propósito do seu excelente comentário, que se agradece.
1 - José Gaio encontra-se na situação de licença de longa duração, naturalmente sem vencimento, desde 2oo1.Por isso nada recebe da Câmara.
2 - Nunca ensinei na área em que ultrapassei os dois primeiros ciclos do ensino superior.
3 - Realmente há licenciados fora de série, como os que mencionou. Assim como há políticos excepcionais, que nem sequer frequentaram a universidade, ou qualquer outro estabelecimento de ensino superior. Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, ou Maldonado Gonelha, ex-ministro da saúde. São as excepções que confirmam a regra.
Saudações cordiais,
António Rebelo