segunda-feira, 17 de maio de 2010

AUTARCAS A VER PASSAR OS COMBOIOS

Já todos, na blogosfera tomarense, sabemos muito bem do que a casa gasta. Os nossos autarcas são dados à boa paz. Procuram sobretudo não levantar ondas. Se calhar por temerem que o mar revolto, em vez de trazer areia à praia, acabe por a levar. Não vamos portanto cometer um acto de indelicadeza, continuando a revolver a faca na ferida. São como são, mas venceram e têm por isso legitimidade para governar. Em 2013, o mais tardar, haverá mais, e quem cá estiver verá.
Acontece, porém, que há mazelas de tal modo evidentes, que até os de fora se sentem incomodados. É o caso relatado nesta notícia, bem identificada ao alto, do lado esquerdo. Resumidamente, a CP encomendou a uma empresa suiça um estudo com propostas para melhorar o transporte ferroviário no nosso país. Mais precisamente para apresentar "uma reformulação geral da rede para melhorar as correspondências e ter uma perspectiva mais comercial, numa lógica de oferta geral do serviço e mais de acordo com a procura." (O negrito é nosso, tanto aqui como até ao fim do texto).
No documento final entregue, que custou 380 mil euros, a SMA undPartner AG, de parceria com a FERBRITAS, uma subsidiária da CP, propunha, entre outras coisas, "a fiabilidade da relação Tomar/Lisboa". Significa isto que algo falha no Ramal de Tomar, para que uma entidade estrangeira proponha mais fiabilidade. De que se trata?
Apenas de mais uma aplicação prática do conhecido adágio "Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, ou é louco ou não tem arte." No caso, os senhores ferroviários, maioritariamente residentes no Entroncamento e em Lisboa, apropriaram-se em proveito próprio do Ramal de Tomar, relegando para segundo plano a procura efectiva e os interesses dos cidadãos em geral. Vejamos. Já houve em tempos comboios directos Tomar/Lisboa/Tomar. Depois passou-se para Tomar/Entroncamento/Santarém/Lisboa/Santarém/Entroncamento/Tomar.Finalmente regressou-se aos clássicos metropolitanos de superfície, que param em todas as estações e apeadeiros. Temos assim as magníficas ligações que duram 2 horas e 15 minutos, para percorrer 120 quilómetros. Sensacional!
Ainda por cima, conquanto lhe chamem "Ramal de Tomar", a verdade é que, de segunda a sexta de cada semana, há diariamente 6 comboios 6 que não partem de Tomar, mas do Entroncamento e 4 comboios 4 que saem de Lisboa mas não chegam a Tomar, ficando-se pelo mesmo Entroncamento. Entre estes, o que sai de Lisboa às 0,15 horas e chega ao Entroncamento à 1 e 45, hora magnífica para se aguardar na estação o comboio da 5 da manhã !
Significa isto que os senhores quadros da CP resolveram usar os corredores e horários dos comboios do Ramal de Tomar, para resolverem o mais comodamente possível os seus problemas pessoais, em detrimento de quem reside nas margens do Nabão, ou para aqui é obrigado a deslocar-se regularmente. Os factos documentados são como o algodão do anúncio -Não mentem! E acontece o mesmo aos fins de semana. Basta consultar os horários afixados, para se dar conta
Perante semelhantes barbaridades cívicas, ainda que pacificamente aceites, tanto pelos autarcas nabantinos como pelos cidadãos prejudicados, a empresa suiça teve a coragem de cortar a direito, advogando a correcção do que está mal. O resultado é-nos relatado na notícia. Como acabavam com certas mordomias evidentes, nefastas e ilegítimas "A empresa esperava introduzir estas alterações já em Dezembro do ano passado, mas adiou a nova oferta para Abril deste ano, acabando, contudo, por não a pôr em prática."
"O seu gabinete de comunicação não explicou as razões deste cancelamento ou adiamento, mas o PÚBLICO apurou que decorre uma auditoria interna para averiguar as condições em que este estudo foi adjudicado." Por outras palavras, mais terra-a-terra: Ai vocês tentaram prejudicar-nos, tirando-nos os nossos privilégios??!! Já vão ver o que vos vai acontecer!! Entretanto fica tudo na mesma. Pagam os do costume. Continuam a beneficiar sempre os mesmos.
Perante tudo isto, os senhores autarcas tomarenses vão continuar mudos e quedos? Acham ser possível melhorar as condições de vida dos tomarenses e dos visitantes, sem acabar com manifestas injustiças e sem aperfeiçoar os transportes colectivos, fartamente subsidiados com dinheiro de todos nós? Se calhar vão mesmo. Como dispõem das viaturas de serviço e de gasolina à borla...os outros que se lixem. Com lixa quanto mais grossa melhor?
Com os eleitores já sabemos que não se pode contar. Estão por tudo. Como sempre! Também por isso, estamos como estamos. E vamos para pior. Muito pior. Infelizmente! Mas continua a não ser possível fazer chouriços sem carne.

8 comentários:

Anónimo disse...

Ó amigo, você a misturar tudo tem jeito mas, você costuma andar de comboio?
Já se pode dar é por satisfeito de ainda haver tantos comboios a sair e a chegar a Tomar. Porque, para ser coerente com o discurso que costuma ter, o ramal de Tomar não é, na maioria dos horários, economicamente viável. Por isso se aplicasse a medida que costuma usar, há muito que este ramal tinha fechado, e se isso ainda não aconteceu será derivado ao tal serviço público que faz com a CP dê todos anos prejuízo.
Mas não deve ser por muito tempo.

Anónimo disse...

Mas será que os autarcas de Tomar sabem que existe um ramal de Tomar e uma estação da CP na cidade?

Arre Burro... Que amanhã é sábado disse...

Longe vão os tempos em que o Ramal de Tomar era um dos ramsis mais rentáveis da CP.
Eram estudantes dos concelhos vizinhos para as escolas de Tomar, trabalhadores que vinham de outros concelhos para Tomar.
Agora, o comboio da manhã vai cheio de gente para trabalhar em Lisboa, e mesmo assim já registou mais passageiros.
Mudam-se os tempos...
Quanto a despesas, pois a administração pública tem razões que a própria razão desconhece. Adjudicações muito duvidosas. O regabofe é geral!...

isabel Miliciano

Anónimo disse...

Mas Tomar há muito que deixou de ser polo de atracção no que respeita a trabalho. Agora o que está a dar é arranjar um tachito na política seja a que custo for!
Mas até para isso é preciso ter alguma sorte e sobretudo esperteza, senão as contas saem furadas...não é?

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

Este post vem mesmo a propósito, por levantar interesses manhosos escondidos aos contribuintes. Acabei de o ler depois de chegar a casa, no Magoito, Sintra, vindo de Lisboa (Rossio), onde tenho um compromisso todas as terças feiras das 15 às 16H00. A distância são 42 Kms, ida e volta 84 kms. Porque é mesmo no Rossio, nada melhor do que apanhar o comboio em Sintra ou estação a seguir, Portela de Sintra. Meu carro é guloso, os combóios são agora confortáveis. No primeiro dia deste compromisso, passei por Sintra e procurei, com pouca esperança, uma hipótese de estacionamento não pago. Nada. Segui viagem de carro, estacionei no parque dos Restauradores e quando regressei paguei seis euros. Esqueci-me do almoço...

No segundo dia tentei Portela de Sintra, estacionamentos todos a pagar. Um senhor que ia a passar, disse-me: está ali um carro a sair daquela travessa junto ao Tribunal, onde não se paga. Amarfanhei-o. É a única rua com estacionamento grátis (uma travessa onde cabem para aí uns 15 carros). Comprei bilhete ida/volta, Eur 3,40, almocei no Rest. "Girasol", trav. do Forno, ao Rossio, Eur 11.70, regressei, peguei no carro na Port de Sintra, etc.. Viagem ecológica e confortável, receita para a "CP", receita para o restaurante. Tudo bem assim - dinamizar consumo interno.

Mas abandonei esta alternativa. Almoço em casa e vou de carrinho e tenho de usar o parque dos Restauradores onde pago sempre para cima de cinco euros, tendo o cuidado de não chegar muito cedo.

...... continua

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

.....continuação

Nos comboios existem cartazes a apelar ao transporte no comboio, os autarcas fazem aquelas campanhas contra o transporte rodoviário nos grandes centros. É tudo uma mentira. Há interesses "escondidos", ao mais alto nível, com a conivência das autarquias, que visam extorquir dinheiro aos cidadãos diretamente para os cofres públicos para alimentar a monstruosa máquina do Estado. Sintra tem hoje uma rede de vias rápidas que mete inveja a qualquer cidade da Europa. Um luxo, que nos deixa de boca aberta, a mim que sofri as passas do algarve durante mais de trinta anos, primeiro nos transportes ferroviários, depois no infernal IC19. Mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Durante o dia no IC19 é sempre a abrir e mesmo nas horas de ponta já não é o que era. Sempre a rolar. O maior espetáculo do mundo em vias rápidas. No entanto vai tudo esbarrar no mesmo problema de sempre: os bloqueios nas entradas de Lisboa. Nas horas de ponta quase não se nota a diferença do antigamente. Mas as pessoas não podem usar o comboio, porque os estacionamentos, junto às estações, alguns bem grandes, têm todos a chapa "P", parque pago, todas as ruas, as interiores, tudo, para que não haja dúvidas: quem tem carro, vá de carro e não pense em estacionar perto das estações. E quem não tem desembrulhe-se, compre, viva acima das suas possibilidades. Era o que faltava! E as centenas de milhares de litros de combustível por ano que dão aqueles resultados em impostos? E os interesses das empressas municipais que empregam amigalhaços e camaradagem, e que vivem das receitas dos parques estacionamento? Entretanto, é um regalo, mesmo nas horas de ponta, andar nos actuais combóios, por falta de freguesia. Mais uma vez são os contribuintes a pagar os eventuais ou habituais prejuízos das ferroviárias. Tudo está feito para caçar o contribuinte para as vias rápidas com pagamento de portagens (excepto no IC19) e explorar cada metro do espaço público das localidades e cidades. As pessoas, num concelho com 400 mil habitantes, que moram a mais de dois Kms. das estações, têm de utilizar o carro, nem que seja um caco velho, para terem algum conforto e algumas horas para confecionarem a refeição, jantarem, verem um programa de televisão e irem para a cama.

Há tempos levantei este problema numa Assembleia Municipal, da forma mais cordata possível. Ficaram todos a olhar para mim com cara de vitelos mal mortos.

(Uma viagem autocarro Magoito/Sintra (10 kms) demora cerca de 45 minutos, pelas incontáveis paragens e desvios que faz e Sintra/ Rossio, comboio, mais 40 minutos, dá 95 minutos (ida e volta 3 horas, mais o tempo em "terra" -de esperas - são 4 horas bem medidas).
Não tenho os custos certos, mas sei que fica mais caro do que o transporte automóvel de consumo médio a gasolina, ou ela por ela).

Dito isto, podem os tomarenses darem-se por muito felizes com a qualidade de vida que têm. Imaginem pelo que passam os sintrenses no seu dia a dia e todos os que vivem na área metropolitana de Lisboa.

Os autarcas aí nem precisam de ser dos melhores. Tomar é outra loiça

Anónimo disse...

Se você levantou este problema na Assembleia Municipal deve ser um daqueles políticos da treta. Não é capaz de assinar o nome porquê?
Não acha que isso valorizaria o seu contributo?

Anónimo disse...

Não sei se já repararam ao fim de semana, a estação de Tomar é um parque de estacionamento de composições, que não têem lugar no Entroncamento. Talvez por isso ainda chegue e parta tanto comboio de Tomar. Quanto à rentabilidade do ramal Tomar-Entroncamento-Lisboa, este é dos mais rentáveis da CP,porque toda a gente paga o titulo de transporte, bilhete ou passe, ao contrário dos sub-urbanos de Lisboa, onde muita gente anda sem bilhete e onde a receita dos passes combinados é dividida pelos respectivós operadores de transporte. O ramal de Tomar vai continuar a funcionar, devido à sua rentabilidade.