terça-feira, 11 de maio de 2010

ELAS AÍ ESTÃO, AS MEDIDAS DOLOROSAS!

Há coisas sagradas para os portugueses. Acariciam-nos no sentido do pelo. Por exemplo, o célebre verso do imortal Fernando Pessoa "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Ou esta frase, de Jorge Sampaio: "Há mais vida para além do défice". Ou ainda, quando alguém ousa discordar de tais visões encantadas, sentenças do tipo desta, enviada sob anonimato para Tomar a dianteira: "Dantes tínhamos o velho do Restelo; agora temos o velho do Rebelo."
Bem achada em termos satíricos, a última omite (deliberadamente?) a outra parte da questão -A história demonstra que o Velho do Restelo tinha razão. No reinado de D. Manuel, ainda a coroa andava a pagar dívidas contraídas pelo Infante D. Henrique, mais de cinquenta anos antes, para financiar os descobrimentos. E continuou a ter. Se na altura estávamos atascados até ao joelhos, agora estamos enterrados em dívidas até ao pescoço. Ou já se esqueceram que Salazar foi chamado, pelos militares revoltosos do 28 de Maio, para pôr a contas em ordem?
Quanto às afirmações de Pessoa e de Sampaio, falta-lhes um aditamento indipensável -"Desde que haja quem pague." Ou, no mínimo, quem forneça a crédito.
Que a nossa situação económico/financeira é cada vez mais grave, (conforme aqui tem sido escrito, numa tentativa até agora vã de acordar os tomarenses), demonstrou-o o Telejornal de ontem. O jornalista do canal governamental foi percutante: vamos ter aumento de impostos, mexidas no 13º mês e mais restrições nas obras públicas. Nos impostos, falta saber se aumentarão o IVA (o mais justo) em um ou dois por cento (no mínimo) e os aumentos do IRS. Em relação ao 13º mês, falta saber se será suprimido na totalidade, parcialmente, ou apenas hipotecado. Em qualquer dos casos, tratar-se-á de uma redução salarial encapotada. A demonstrar que, na impossibilidade de desvalorizar a moeda, a deflação é inevitável.
Sobre as restrições nas obras públicas, conhecida a obstinada perseverança de Sócrates, tal volte-face e tão brusco não é nada tranquilizador. Pelo contrário. Tanto mais que até decidiu conversar outra vez com PP Coelho.
Neste ambiente de tragédia, os que estão mais abrigados mantêm a cabeça fria, conseguindo por isso ver mais longe. É o caso do cronista de economia do Le Monde, P.A. Delhommais, numa peça escrita antes de sexta-feira passada (ver ilustração acima), que traduzimos parcialmente, na parte que mais directamente nos diz respeito.
"O problema para o FMI, para a Grécia, para os outros países da zona euro, para todos afinal é que os economistas -de todas as tendências- não acreditam minimamente que o plano [de ajuda à Grécia] possa resultar. Porque, segundo afirmam, é impossível reduzir em três anos o défice em 11 pontos do PIB. Porque a deflação programada vai deteriorar as finanças públicas do país -e portanto a sua solvabilidade- em vez de a melhorar, tal como sucederá provavelmente com a economia subterrânea (que já representa um avantajado terço do PIB).
Porque, enfim -tentando dizer as coisas sem ofender ninguém- a disciplina económica, a preocupação com a produtividade e o civismo fiscal, não são obrigatoriamente as virtudes mais conhecidas dos gregos. Sem esquecer um detalhe, que não é só detalhe: é muito mais fácil convencer os cidadãos a aceitar uma redução do nível de vida, uma amputação dos salários e uma redução do poder de compra na Irlanda, o país mais rico da Europa, logo após o Luxemburgo; do que na Grécia, classificado entre os mais pobres.
Desta vez as malditas agências de notação financeira e os patifes dos especuladores evidenciam bom senso e visão a longo prazo. Todos os administradores de Fundos de Investimento que têm -ou tinham- obrigações gregas a cinco ou a dez anos, têm toda a razão quando se interrogam, procurando saber onde irá Atenas encontrar dinheiro para reembolsar tais títulos, quando atingirem a maturidade.
O mesmo acontece com os títulos de dívida pública emitidos pela Espanha ou por Portugal, dois países que padecem de enormes défices de competitividade e para os quais se não vê que motores de crescimento poderiam, mesmo a médio prazo, provocar a retoma. (O autor terá vindo investigar a Tomar ? Em todo o caso, a situação da autarquia tomarense é precisamente a mesma. Onde irão buscar verbas para liquidar as dívidas bancárias, acrescidas dos respectivos juros e outros encargos, contraídas para pagar dívidas a fornecedores? O Madoff está à sombra para o resto da vida, por ter feito a mesma coisa -pagar dívidas com os fundos provenientes de outras dívidas.)
Em qualquer caso, a prova que a crise é gravíssima reside no facto de mesmo os economistas americanos mais amigos da Europa e do euro, tais como os Nobel de Economia Krugman e Stiglitz, se mostrarem agora tão pessimistas como os europcépticos da primeira hora, ou os friedemanianos de estrita obediência [economistas liberais e anti-europeus da Escola de Chicago, discípulos de Milton Friedman]. Estão vocês a ver ! Segundo Stiglitz, "se a Europa não resolver os seus problemas institucionais fundamentais, o futuro do euro será talvez muito limitado".
Desta vez é difícil varrer do espírito estes prognósticos sombrios, explicando que os americanos nunca perceberam nada nem da Europa nem do euro. Se calhar, a verdade é outra. Os europeus nunca perceberam nada de problemas monetários e por isso instituiram o euro sobre bases podres."
Tradaptação de António Rebelo

É neste quadro, nacional, europeu e local, que hoje os senhores autarcas têm mais uma reunião, desta vez antecipada, por causa da visita papal. Resumo da Ordem de Trabalhos: Concurso público de requalificação do troço entre a Rotunda do Bonjardim e a Rotunda do RI 15; Discussão da requalificação da envolvente ao Convento de Cristo; Adjudicação da requalificação da casa do guarda da Mata dos 7 montes.
Também o comandante do Titanic mandou a orquestra de bordo continuar a tocar durante o naufrágio evidente. Para não assustar inutilmente os passageiros...

2 comentários:

Anónimo disse...

Dizem-me que a reunião de hoje irá ser uma das últimas.

Já nada segura aquela coligação contranatura...

Anónimo disse...

NEM PENSAR!

A CU LIGAÇÃO ESTÁ ESTÁVEL, DURADOURA, FIRME, HIRTA; PARA FICAR AD ETERNUM!

AtÈ VAI MUDAR A SEDE PARA MARMELAIS DE BAIXO!!!!!

VIVÓ LF - JBV - FCS - CC - RS!