terça-feira, 18 de maio de 2010

A BANCA E A CRISE

Aqui está uma análise original, que é ao mesmo tempo um ponto de vista diferente e um sério aviso para governos, banqueiros...e autarquias.
A dois mil quilómetros de distância, dá alguma razão a Louçã e a Jerónimo de Sousa, tal como a Sócrates, Passos Coelho e Ferreira Leite. Mas não toda.

SALVARAM FOI A BANCA, NÃO FOI A GRÉCIA

Os resultados das eleições de 9 de Maio, na Renânia do Norte-Vestfália (Alemanha) parecem indicar que Ângela Merkel pagou bem cara a defesa tardia mas apaixonada da estabilidade do euro. A União Cristã-Democrata (CDU) viu a sua percentagem de votos cair de 44,8% em 2005, para 34,4% em 2010. Que motivo ou motivos terão arrastado a chancelerina alemã para uma helenofilia repentina, exactamente no momento político menos oportuno?
O presidente americano Barak Obama não correu para a cabeceira da cama da doente Califórnia, cuja economia é cinco vezes superior à da Grécia, e cuja crise fiscal é assaz grave para que o governo do Estado não consiga sequer pagar a totalidade dos salários dos seus funcionários. Pode-se questionar a gravidade relativa comparada dos problemas gregos e californianos, mas ninguém ousará afirmar que a crise da Califórnia ameaça a estabilidade do dólar. Porque assim acontece de facto, qual é então a causa da preocupação em relação ao euro?
A única alternativa ao grande plano de salvamento lançado pela União Europeia, no mesmo dia das eleições regionais alemãs, teria sido a reestruturação rápida da dívida pública grega. Por outras palavras -a bancarrota ou falência. Porém -há que dizê-lo em voz alta- a falência grega não teria constituído, por si só, uma ameaça para o euro. Porquê?!
As dívidas da Grécia são tituladas em euros, tal como as da General Motors (GM) o são em dólares. A bancarrota grega, ou a falência da General Motors, prejudicariam os detentores dos respectivos créditos, mas de forma alguma os detentores de outros activos titulados na mesma moeda. É verdade que outros activos titulados em euros, como por exemplo a dívida portuguesa, são evidentemente contaminados por dúvidas similares. Mas estas dúvidas referem-se à dívida, não à moeda na qual está titulada.
O que agora está pairando sobre o euro é a incerteza sobre as consequências monetárias das eventuais medidas lançadas para salvar os países com dificuldades. Em contrapartida, uma oportuna reestruturação da dívida pública grega, teria clarificado a situação, tornando óbvio que a partir daí o problema seria unicamente entre a Grécia e os seus credores. Mas afinal, quem são esses credores?
Segundo um relatório da Barclays Capital, de 28 de Abril, existem à roda de 28 mil milhões de euros de dívida soberana grega nos balanços de instituições bancárias alemãs. Metade dizem respeito a bancos propriedade ou sob controlo do governo alemão. Só a Hypo Real Estate Holding detém quase 30% do total referido. E, desde o seu salvamento em 2009, o dono do Hypo são os contribuintes alemães, que naturalmente teriam sido directamente prejudicados por uma eventual falência grega, não podendo nem sequer alegar que se sacrificavam em prol da solidariedade europeia. Tal como neste exemplo preciso, quantas mais instituições financeiras, já fragilizadas, viriam a ter necessidade de um novo plano de salvamento bancário?
A justificação do gesto heróico da senhora Merkel é doravante clara. Qual era, no fim de contas, a opção menos desagradável? Tomar a decisão impopular, mas corajosa, de salvar a Grécia? Ou admitir que a anterior decisão impopular, mas corajosa, de salvar o sistema bancário alemão não tinha, afinal, resolvido o problema em definitivo?
O supracitado relatório Barclays Capital indica igualmente que as instituições financeiras francesas detêm algo como 50 mil milhões de dívida pública grega nos seus balanços. Não se trata, por conseguinte, nem de um problema puramente orçamental, nem simplesmente grego. A solidariedade franco-alemã, tão oportunamente evidenciada a 9 de Maio, não tem como fundamento a helenofilia. O que estes últimos desenvolvimentos indicam de forma clara é que, longe de se tratar de uma nova crise, a instabilidade do euro é apenas um novo episódio da telenovela bancária que nos garantiram já ter acabado."

Paul Seabright -Escola de Economia de Toulouse - Le Monde

Tradaptação de António Rebelo

Pouco acostumados a estas análises económicas macro, ou de alto vôo, quase todos os nossos amáveis leitores terão "na ponta da língua" a costumeira pergunta dos portugueses conformistas: "E que tem a gente a ver com isso tudo?" À primeira vista, pouco ou nada. Ainda que...a banca portuguesa é bem capaz de também ter uma parte dos títulos da dívida pública grega, o nosso défice mete respeito e a situação económica nacional inquieta, e de que maneira! "os mercados internacionais".
E depois há aquele detalhe da Califórnia, aparentemente sem qualquer importância, como referência, para nós tomarenses. À cautela, no lugar dos nossos leitores, voltaria a ler o texto, substituindo antes Barak Obama por Sócrates/Teixeira dos Santos, e Califórnia por Município de Tomar... Cá por coisas!

4 comentários:

Anónimo disse...

Paulo Caldas, do partido socialista, e presidente da câmara do Cartaxo, foi detido por posse ilegal de arma de fogo!

Anónimo disse...

Estou admirado! Sempre ouvi dizer a gente do Cartaxo que este Paulo Caldas não é lá grande espingarda! Afinal...
Um dia destes acabam por encontrar algum canhão sem recuo em casa do Vitorino ou do Luís Ferreira. Salvo seja e que Deus os proteja, que não temos outros!

Anónimo disse...

A Banca portuguesa é a mais comprometida em todo o drama grego. É bom lembrar qua há grandes bancos portugueses qua investiram fortemente na Grécia. O incumprimento das suas responsabilidades por parte do governo grego arrastaria Portugal para situação semelhante. Por isso se diz que a seguir à Grécia será Portugal. O presidente do BPI tem razão quando afirma que Portugal está próximo de bater na parede. Há duas semanas admitiu-se que a Banca portuguesa podia não abrir no dia seguinte. E se tal tivesse acontecido? E se a economia portuguesa parar? E se os Funcionários Públicos deixarem de receber o ordenado? Não desanimem que isto vai para pior.
S.M.

Anónimo disse...

O BCP não investiu muito na Grécia?