domingo, 11 de dezembro de 2011

Apocalypse now?

"São quadros fatasmáticos, que se repetem como pesadelos. Ainda não são prováveis, mas já deixaram de ser impossíveis. Essas imagens de angústia mostram cidadãos poupados agarrados às grades dos bancos falidos, funcionários forçados ao trabalho clandestino porque o Estado, em bancarrota, deixou de poder pagar os vencimentos, reformados com as pensões amputadas alinhando-se, envergonhados, junto dos aquecedores das sopas populares gratuitas, supermercados pilhados por gente faminta, multidões de miseráveis, dispersadas por cargas policiais. Este caos tipo terceiromundista é o que nos espera, se não se conseguir resolver a crise monetária. Com efeito, quem poderá acreditar que após o colapso da moeda europeia, os bancos reembolsariam a cada um dos depositantes os 100 mil euros garantidos pelo Estado? Quem ousará garantir que o franco restaurado não sofreria uma desvalorização vertiginosa, e os preços uma inflação semelhante? Quem garantirá que o fim do euro não seria o fim da Europa, por conseguinte o fim da paz?
O que é aborrecido com o Apocalipse, é que não ficará ninguém para contar como foi... Portanto, mais vale evitá-lo. E mesmo se a engrenagem da catástrofe já deixa ouvir o seu inquietante tic-tac, como uma contagem decrescente, nada está perdido. Os nossos verdadeiros inimigos são o fatalismo e o imobilismo. Na zona euro, algumas ofensivas são possíveis, para inverter o funesto percurso desta batalha. Envolvem os dirigentes, os tecnocratas e os povos.
Entre os primeiros, Ângela Merkel e Nicolas Sarkozy têm uma responsabilidade eminente. Porque, bem entendido, a Alemanha e a França, ou salvam a Europa ou a conduzem para o abismo. Ambos pretendem vencer as próximas eleições, cada qual no seu país. Ambos nutrem o desejo secreto de deixar um rasto positivo para a posteridade. Pois que dêem o primeiro passo rumo à História, unindo rapidamente os orçamentos, os sistemas fiscais e as prestações sociais! Sob a ameaça da bancarrota, não há objecção técnica que resista. Tal revolução depende apenas dos chefes.
Desde há anos que em Bruxelas e em Francfort os tecnocratas deixam perceber que a Europa seria bem melhor administrada, caso fossem eles a fazê-lo. Apliquemos pois o mais depressa possível o plano Barroso-Draghi, aquele que o presidente da Comissão Europeia e o do BCE já devem ter preparado, e que sejam desse modo geridas, a nível federal, as dívidas soberanas e as respectivas grandes opções económicas. A Europa deve deixar de impor limites, passando a indicar carris, que conduzirão aos objectivos de crescimento económico e de aumento do emprego, definidos pelos eleitos.
Graças a instituições independentes, mas empenhadas e devendo prestar contas perante os cidadãos, ousemos eleger o presidente da Comissão por sufrágio directo e universal. Finalmente, os povos devem mobilizar as suas poupanças, essa riqueza colossal gerada por 65 anos de paz, e emprestá-la aos seus países respectivos. Deixará então de haver especuladores  ou agências de notação financeira a poder imiscuir-se nos assuntos europeus. Teremos assim uma Europa viva e soberana!"


Christophe Barbier, Editorial, L'EXPRESS, 30/11/2011, página 3

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