O particular sistema eleitoral português, que beneficia os partidos em detrimento dos cidadãos não filiados, gerou uma consequência inesperada: a tendência geral para esquecer que quem faz a política são as pessoas e não os partidos ou outras formações. Tanto assim que tanto à esquerda como à direita já houve excelentes momentos, bem como outros de que é melhor nem falar. Fiquemo-nos por estes exemplos extremos: Soares/Sócrates, Cavaco/Santana Lopes...
Apesar da situação dramática que encontrou ao assumir o poder, PP Coelho teve a hombridade de declarar que o seu governo não iria desculpar-se culpando Sócrates e o PS. Fez mais: soube rodear-se de colaboradores cujas capacidades são regra geral reconhecidas pelos seus pares, coligou-se com o CDS, num acordo que tem corrido bem, apesar de o PSD dispor por si só de maioria absoluta, e tem procurado dialogar e chegar a consensos com o PS. Pressionado pela troika? Certamente. E daí? Não vai legislando conforme as reais necessidades do país, em vez de olhar às vantagens eleitorais? Alguma vez o ouviram tentar atribuir as suas dificuldades presentes ao governo anterior?
Inversamente, os eleitos e a Comissão Política do PSD nabantino não sabem outra música. A oposição assim, o PS assado, os IpT assim e assado. Tenham vergonha! O vosso partido ocupa o poder nabantino há 14 anos seguidos, sem nunca ter praticado ou sequer tentado praticar qualquer forma de diálogo. Nem mesmo com os vossos parceiros de coligação. E agora têm a distinta lata de afirmar que a culpa da miserável situação a que chegámos é da oposição?!?! Não percebem que isso não faz qualquer sentido, uma vez que a maioria é que governa bem ou mal, consoante as suas capacidades? Querem enganar quem?
Num tosco comunicado desta tarde, reproduzido no post anterior e lido perante jornalistas locais estupefactos, uma vez que, não sendo propriamente analfabetos, não entendiam a utilidade de tal leitura, o senhor presidente Carrão atirou-se mais uma vez aos representantes do PS e aos dos IpT como gato a bofe: "Em ambos os casos [revisão orçamental e Orçamento para 2012, rejeitados pela oposição], as oposições dificultaram deliberadamente a gestão do Município e colocaram os interesses partidários acima dos interesses de Tomar. No caso do PS, como afirmou ontem Hugo Cristóvão na A.M., a vontade é a de realização de eleições."
Um pobre eleitor como eu lê coisas destas e tem dificuldade em acreditar: Um eleito secundário, com 14 anos seguidos no poder local, armado em arauto dos interesses de Tomar? Quem é que lhe outorgou o direito de interpretar a opinião dos tomarenses? Tem a certeza que a relativa maioria, que agora lidera por indisponibilidade do titular, sempre tem defendido e defende esses alegados interesses? Ou trata-se apenas de argumento de circunstância para tentar salvar o confortável ganha-pão?
Cúmulo da hipocrisia e do cinismo político, o transitório presidente circunstancial remata o seu comunicado com esta pérola: "Não nos cansaremos de procurar o diálogo." Peço desculpa, mas julgo haver um pequeno problema de teclagem. No meu entendimento, a frase correcta será "Não nos cansaremos a procurar o diálogo". Porque sempre tem sido esse o comportamento dos eleitos laranja.
Compreensivelmente agastado com tanta baboseira política, Pedro Marques já respondeu. Fê-lo, quanto a mim, de modo impecável. Denunciou a constante e evidente duplicidade dos social-democratas locais, que dizem e escrevem uma coisa, mas fazem sistematicamente o oposto, num triste exemplo de hipocrisia e oportunismo. Foi até mais longe, ao admitir que têm discutido e vão continuar a debater a hipótese de eleições intercalares. Finalmente, a razão parece começar a imperar no Vale do Nabão. Tarde é o que nunca vem.
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