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"A Itália está na iminência de pedir também resgate financeiro e a Espanha e a Bélgica estão apenas em fila de espera. A Inglaterra vai proceder a novo corte brutal da despesa pública para controlar o défice, ao mesmo tempo que tenta evitar a entrada em recessão, tal como a França e...a Alemanha. Os Estados Unidos, sem as limitações impostas ao Banco Central Europeu, fazem moeda sem querer saber da inflação, mas apostados em evitar a todo o custo que o défice seja controlado à custa da economia. Neste mundo em desagregação, onde o poder político se transferiu dos Estados para os mercados e a crise das dívidas soberanas é o único factor económico que conta, os líderes políticos estão paralisados -uns por incompetência, outros por falta de coragem, outros por teimosia irracional. Sarkozy é um palhaço nas mãos de Ângela Merkel e a chanceler alemã, com o navio a meter água por todos os lados, só se interessa em discutir as regras de navegação e castigar quem deixou entrar água a bordo. Vamos ao fundo, parece inevitável. O euro, segundo o Financial Times, tem apenas mais umas semanas de vida. Depois dele, vai a União Europeia e, depois dela, vai todo o sistema económico globalizado em que vivíamos como no melhor dos mundos.
Não é preciso ser particularmente inteligente para perceber que Portugal, no meio deste naufrágio geral, é menos do que um camarote de terceira classe a bordo do TITANIC. Se o naufrágio se consumar, vamos perder tudo o que conquistámos nos últimos vinte anos: euro, Europa, ajuda externa, crédito barato, bem-estar, reformas garantidas. Vamos retroceder vinte anos, mas não temos, obrigatoriamente, de retroceder quarenta: não é preciso sacrificar também a democracia.
A última coisa de que precisamos é de entrar em guerras fratricidas, do tipo "se me tiram o 13º mês também têm de tirar o do meu vizinho". Esta estúpida guerra anti-patriótica (inaugurada por quem tinha a responsabilidade de dar o exemplo oposto, o Presidente da República) não vai conduzir a nenhuma repartição equitativa de sacrifícios, mas apenas a uma luta feia e suicidária por um lugar a bordo dos salva-vidas do TITANIC. Já foi explicado, mas pelos vistos há quem faça questão de fingir que não entende: a razão pela qual o governo vai retirar os subsídios de Natal e de férias à função pública e não aos trabalhadores privados, é porque os funcionários públicos são despesa do estado e os outros não. E do que agora se trata é de diminuir a despesa pública e não de sobrecarregar ainda com mais impostos uma economia moribunda. Podía-se de facto acrescentar uma receita do estado, com um imposto extraordinário que retirasse os subsídios a todo o sector privado. Mas isso apenas serviria para conduzir a menos poupança, menos consumo, mais falências no comércio e serviços, mais desemprego e mais recessão."
Miguel Sousa Tavares, EXPRESSO, 03/12/2011, página 7
Nesta envolvência, até dá vontade de chorar de raiva contida, ouvir alguns líderes da esquerda no Parlamento, ou os serôdios lamentos e rebeldias dos autarcas das Juntas de Freguesia, reunidos em Portimão, à custa dos contribuintes. Tal como entristece constatar que a nível local cada eleito procura agarrar-se com unhas e dentes, e recorrendo aos mais alambicados argumentos, ao lugar que ainda ocupa. No fundo, lá bem no fundo, trata-se do resultado da caldeirada ideológica entre a exacerbada inveja geral e o postulado do príncipe de Lampeduza: "É preciso ir mudando qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma". Desta vez, porém, estou cada vez mais convicto de que não vai bastar. Terá mesmo de haver mudanças profundas. Encontrar outro paradigma. Se entretanto não formos todos ao fundo, claro!
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