domingo, 25 de dezembro de 2011

Papalvos, obstinados e cachopos

Conforme publicado na imprensa, na próxima terça-feira a Assembleia Municipal vai rediscutir e votar outra vez a inclusão no orçamento deste ano da avultadíssima indemnização à ParqT, rejeitada há um mês. Trata-se, no meu entender, de uma decisão lamentável, que não prestigia ninguém. Pelo contrário.
Antes de mais porque nenhum areópago digno aceita voltar a debater algo já antes derrotado, salvo no caso em que tenham surgido entretanto factos novos e substantivos. Sucede que, como bem sabemos, o entretanto ocorrido, nomeadamente a ascensão de Carrão e de Perfeito, este último a ultrapassar de forma intempestiva, inesperada e insólita Rosário Simões, melhor fora que não acontecera. Não só por nada de novo ter trazido à ribalta, como sobretudo por ter enfraquecido ainda mais a já débil coesão da relativa maioria. Como é evidente, postergada a favor de um estreante, a vereadora do turismo, da educação e da acção social nunca mais voltará a ter a mesma motivação, podendo até decidir voltar para o ensino, pois para aturar criancices e faltas de solidariedade, mais vale que seja numa escola.
Segue-se a lamentável decisão de quem, vítima de afigurações, julga poder fazer a diferença. Em declarações à Rádio Hertz, já lamentadas por Pedro Marques, o novo presidente Carrão foi muito jardinista: "Não é por teimosia que pedi para incluir de novo esta revisão. Trata-se de uma absoluta necessidade. Vou confrontar a Assembleia com isso mesmo e irá tomar a decisão que entender. Procurarei ser mais objectivo e esclarecedor para que algumas pessoas possam entender aquilo que está em causa." Ou seja, na sábia e ponderada opinião do senhor alcaide, aquando da anterior votação pelo menos "algumas pessoas" que integram o parlamento municipal não entenderam o que estavam a fazer. É por assim dizer uma nova versão daquele caso do cego algarvio que já tinha 14 filhos. Quando a assistente social lhe recomendou mais contenção, foi claro na resposta: O que é que a senhora doutora quer?! Um homem não vê o que está a fazer...
Segundo Carrão, neste imbróglio da ParqT, lá ver, vêem. Mas não entendem! As mencionadas "algumas pessoas", que tudo indica sejam os presidentes de junta, já ficam a saber -o presidente vai "confrontar a Assembleia", à boa maneira jardinista e paivista, consoante as possibilidades. Por conseguinte, caso não votem como deve ser na óptica do proponente, estão avisados: não contem com facilidades da Câmara. É o que se pode apelidar de democracia no seu melhor. Ou será apenas caciquismo serôdio?
Há finalmente uma evidente falta de respeito pelo parlamento municipal, não só porque o presidente da edilidade procura por todos os meios condicionar o voto dos seus membros, como de acordo com a lei, apenas pode responder às dúvidas manifestadas pelos deputados municipais, uma vez que não pode votar. E não podendo votar, também não deve influenciar o voto alheio. É uma questão de ética. Uma vez que os membros da AM  já rejeitaram antes a citada revisão, e não tendo manifestado desde então qualquer dúvida sobre o assunto...
Em qualquer outro país de democracia consolidada, a mesa da AM teria liminarmente recusado a inclusão do referido tema. Contudo, como estamos em Portugal e sobretudo em Tomar, já nada me surpreende. Resta saber quanto tempo mais vai durar a tragicomédia.
Porque, tudo visto e ponderado é disso mesmo que se trata -de uma comédia de consequências trágicas para todos. Menos para os bem instalados, entre os quais o novo presidente Carrão. Que por isso se absteve de  avançar até ao fim lógico do seu raciocínio: Irei confrontar a Assembleia e caso o voto seja de novo desfavorável, apresentarei imediatamente a minha renúncia ao cargo. Isso é que era serviço!
Quanto aos ilustres deputados municipais, com este caso correm sérios riscos de virem a ser considerados pela opinião pública, papalvos, obstinados ou cachopos, consoante as lentes de cada qual. É a vida...

8 comentários:

Luis Ferreira disse...

Apesentar a demissão?
Está a brincar? São decerto influencias natalícias...

Acha que alguém do PPD tem a nobreza de acção, que nós no PS temos, abandonando situações que ä partida pareceriam de nunca abandonar? Como o fizemos em 96 ao recusar recandidatar Pedro Marques, fartos que estávamos da "gente que à sua volta se resolvia" ou como o fizemos agora, recusando passar um cheque em branco ä negociata com a ParqueT, abandonando o exercício que com sucesso estávamos a desenvolver nos nossos pelouros?

Eles no PPD, acham que estão certos, mesmo quando tudo lhes diz que estão errados. Que fazer a esta gente?

Honestamente, que até há alguns meses atrás ainda gracejava com o recambolesco em que "aquilo" (as reuniões de Camara) se transformaram. Hoje olho para a farsa e sinto tristeza, por a terra onde os meus dois filhos estão a crescer estar a ser conduzida por semelhante gente desqualificada de qualquer visão, estratégia e bom senso.

Luis Ferreira, vereador

Unknown disse...

Aplaudo o teu comentário, Luís! Embora tarde, tu e o Zé Vitorino tiveram a coragem de renunciar ao bem bom, para deixar de andar com eles às cavalitas. Como aconteceu durante dois anos...
Há contudo um enigma para o qual ainda não encontrei resposta cabal: O que obsta a que socialistas e IpT renunciem de forma concertada e quanto antes? Era o modo mais expedito de acabar com a desgraça que nos assola. Ou não?

Luis Ferreira disse...

Dado que a resposta é publica, peço que faça só e apenas um pequeno o exercício de memória e que nos diga como acha que é possível estabelecer com Pedro Marques um acordo para o que quer que seja, quanto mais para uma renúncia colectiva.

Ele há gente que só sai de cima, como as canas junto às linhas de água...

Unknown disse...

Com é do domínio público, durante a última guerra Lisboa era a única capital europeia onde os dois lados conviviam pacificamente. Nos nossos dias, dizia o Lula da Silva que no Brasil cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, taoistas indús, animistas e ateus comem todos os dias juntos nas mesmas mesas, sem qualquer problema.
Sendo assim, não será muito difícil encetar um diálogo tendo em vista contribuir de forma activa para a rápida resolução dos problemas da comunidade tomarense. Tanto mais que as duas partes falam a mesma língua -o português padrão- e o mesmo dialecto -o tomarês.
Se chegar a ser o caso, podem contar com a minha disponibilidade como mediador, se necessário.
A falar é que a gente se entende.

templario disse...

Especialmente no segundo comentário, o vereador Sr.Luis Ferreira abre claramente a porta ao diálogo com Dr. Pedro Marques.

Ao questionar:

"...como acha que é possível estabelecer com Pedro Marques um acordo para o que quer que seja, quanto mais para uma renúncia colectiva?"

Pessoalmente, tenho a certeza que é possível e a formulação da pergunta deixa implícita abertura para acolhimento de resposta positiva.

Diálogo, negociação, pensando em Tomar e nos tomarenses.

A oferta de mediação por parte do Dr. Rebelo é de aceitar.

O desafio do vereador é para levar a sério. Não nego que gostaria de fazer parte da mediação...

De contrário tudo como dantes, quartel general em Abrantes - o Psd vai ganhar outra vez.

Custa alguma coisa programar uma reunião? Custa alguma coisa participar nela de espírito aberto ao futuro?

Dispam-se mas é de preconceitos e avancem!

A democracia portuguesa venceu durante um PREC de radicalismos através do diálogo, negociação, muitas vezes entre pessoas que se odiavam politicamente.

Vá lá, Dr. Rebelo, envie um email aos respetivos com data e hora marcadas e uma Ordem de Trabalhos com

Ponto Único: Análise da situação política autárquica na CMTomar e definição de ações conjuntas das duas organizações.

Se no final marcarem uma segunda reunião, a vitória é certa.

É imperioso ultrapassarem esse contencioso! E fácil.

(Cantoneiro da Borda Estrada)

Luis Ferreira disse...

Não tenha tanta esperança.
Pedro Marques fez um investimento colossal para ser eleito vereador, que tem esperança agora de poder "reaver", uma vez que a proibição de "movimentos"'no sector das obras deixou de estar a "funcionar", pela ausência do vereador Vitorino. E quando se espera ter beneficio de índole mais privada, difícil será tomar a atitude certa em prol do colectivo.

Acresce o problema de que os independentes são os únicos responsáveis pelo facto do Municipio ter acordado pagar os 6,5M€ à parqueT: só a ausência, sem substiuição da vereadora Graça Costa, permitiu que os três votos favoráveis do Psd fossem suficientes para aprovar o acordo.

Pedro Marques sabe que falhou e que os tomarenses não lhe vão perdoar, como ainda não lhe perdoaram o que se passou à sua volta quando foi presidente.

Só a "remoção" democrática destas pessoas, que colocam os interesses "pessoais" acima dos colectivos, poderá ajudar Tomar a recuperar o seu papel e lugar.

Acha que teriam a nobreza de ajudar a provocar eleições? Naaaa...

Virgílio Lopes disse...

Ó MEUJ AMIGOCH...


Luís Ferreira e Pedro Marques são parte do PROBLEMA político em Tomar.

Como querem que possam fazer parte da SOLUÇÃO ?

Enquanto os protagonistas do PS e dos IpT forem esses dois figurões não há nada de bom a esperar.

Os problemas resolvem-se com Homens e Mulheres de PROJECTO, exclusivamente dedicados A SERVIR.

O que não é o caso.

São ambos homens de interesses, ávidos de poder pelo poder, desavindos porque galos em luta pelo mesmo poleiro e suas benesses, sem projecto e sem espírito de servir.

Enquanto os socialistas e os independentes não se virem livres de um e de outro, o Relvas continuará a reinar à vontade e a praticar em Tomar o que "condena" em Lisboa.

Triste sina a nossa...


Com todo o respeito,

Virgílio Lopes

Unknown disse...

Para Luís Ferreira:

Bem sei que não será nada fácil. Se fosse também não me interessava. Nestas coisas da política é como no comer e no coçar: o que custa é começar.
2013 é já ali adiante e perante grande e grave perigo até já vi incréus começarem a rezar.
Pode realmente existir um feixe de interesses em compita; contudo, até o PS que é um grande partido já esteve por duas vezes à beira de ficar sem representante no executivo, quanto mais agora um mero movimento recente e local, entretanto já enfraquecido por várias dissidências. E ficar sem qualquer vereador seria realmente uma vergonha. Tanto para uns como para outros. Basta atentar no caso da CDU com Rosa Dias. Se a isto juntarmos que em 2013 "o vencedor fica com todos os lugares"...